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Blood Red Shoes @ Santiago Alquimista

Uma espécie em vias de extinção. 12 de Abril de 2010.

Noite quente em Lisboa. Ainda mais quente numa sala apertada como é o Santiago Alquimista que recebeu pela segunda vez os britânicos Blood Red Shoes.

Antes, numa actuação com cerca de meia hora de duração, os The Fox presentearam-nos com um rock dono de algum nervo e que cujas referências não andarão longe das dos grandes protagonistas da noite: vacas sagradas como Nirvana, Pixies, Led Zeppelin e por aí fora.

Tempo para os Blood Red Shoes, eles que são dois jovens enérgicos que viram na música a melhor forma de canalizar toda essa dinâmica. Ele de ar limpinho, ela de face doce e bonita. Ele ocupa-se do ritmo (bateria), ela dedica-se à guitarra. E, para acabar com esta conversa “do ele e ela”, ele veste uma t-shirt com uma imagem dos Nirvana, ela uma de Led Zeppelin – não têm nada a esconder. O cenário é simples: um pano a servir de fundo com uma inscrição que é o nome da banda, luzes vermelhas apontadas para as letras e está feito.

A cada canção, os primeiros acordes dão azo às primeiras reacções e o público acompanha todas as letras. «I Wish I Was Someone Better», canção mais forte do primeiro álbum, “Box Of Secrets”, recebe a ovação da noite. Repete-se em jeito de celebração a frase: “Made a Mistake”. No final, é o próprio Steven Ansell a confessar: “Cometi um erro”, provavelmente referindo-se a ele próprio.

Ainda que formem um duo rock, a sonoridade dos Blood Red Shoes pouco terá a ver com o rock bluesado dos White Stripes, com o afunkalhado dos Kills ou com o dos Raveonettes, nos últimos tempos mais dedicado ao ruído, via Jesus & The Mary Chain. E numa altura em que as grandes bandas rock, as de estádio, estão em vias de extinção – os Arctic Monkeys, os Strokes e os próprios White Stripes serão, porventura, os sobreviventes da última década –, os Blood Red Shoes são donos de um rock puro e duro, sem grandes artifícios. Não são a next big thing. Estão longe de o ser, mas não deixam de fazer sentido.

Ao longo do espectáculo é notório que as canções do primeiro disco são melhor recebidas – as do segundo trabalho, “Fire Like This”, ainda que mais frescas, não terão chegado aos ouvidos de muito do público do Santiago Alquimista. Nos dois álbuns as canções são constituídas por letras fáceis de memorizar e celebrar, sendo a estrutura repetitiva. Não há muito por explorar e será particularmente interessante verificar como vão os Blood Red Shoes sobreviver nos próximos anos.

O encore acabou por ser um resumo da actuação: rápido, incisivo, directo e eficaz. Não sabemos se estes dois se vão aguentar, mas um concerto rock deveria ser sempre assim.

Fotografia por Paulo Tavares.



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