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Branches

Quarto com vista para a divagação.

Pedro Rios, elemento dos extintos DOPO, continua a divagar musicalmente a solo como Branches. Numa altura em que edita o EP digital com três canções, “Sonho Marítimo” (11º registo a par de outros disponível para download gratuito no site do projecto), o autor revela à RDB com que linhas se cose este universo sonoro iniciado há cinco anos. Do tom experimental e instrumental que caracteriza a maior parte da discografia à importância do espólio encontrado no YouTube para a construção dos telediscos, Rios sublinha que o conceito Branches passa por ter “um pé na improvisação e outro nas canções”, não fosse ele um fã confesso de Panda Bear. Os concertos não estão nos seus planos imediatos, por isso, para vê-lo, só mesmo num quarto… no Porto.

Quero que Branches seja uma entidade em constante mutação

O que te levou a lançar o projecto Branches? A necessidade em ver o resultado do trabalho a solo, visto que nos DOPO as funções são distribuídas por vários elementos?

Os DOPO já acabaram. Branches começou algures em 2006 como um projecto meu, paralelo aos DOPO. Não se tratava tanto de criar uma alternativa sonora, até porque “Seiva”, o meu disco desse ano, tinha alguns elementos em comum com o imaginário DOPO, mas antes ter um espaço só meu, menos democrático como uma banda é, e sobretudo uma banda como os DOPO baseada na improvisação. Branches nunca adormeceu, mas a necessidade de mostrar o que ia fazer foi suprimida, de certa forma, com a actividade da banda.

Quando DOPO acaba, fazer o “Alto Astral” foi quase como começar de novo. E deu muito gozo ver o que podia fazer, entusiasmar-me de novo com fazer música e ver a reacção de pessoas de todo o mundo excitadas com o que eu fiz em casa. Onde Branches difere de DOPO desde o início é numa maior vontade de fazer canções, coisa que não existia na banda. Mas continuo com um pé cá e outro lá, que é como quem diz com um pé na improvisação e outro nas canções. As próprias canções nascem de uma frase improvisada e vão-se construindo com camadas sucessivas, cada uma delas a responder às anteriores.

Para definir a tua música podemos ir pelo lado mais simplista e afirmar que é experimentalista. Mas, é injusto ficar por aí. Há um tom de ambient music onde se podem encontrar sons mais ásperos até viagens leves e tropicais. Concordas?

Quero que Branches seja uma entidade em constante mutação. “Seiva” era áspero, para usar o teu adjectivo, “Alto Astral” pode ser descaradamente tropical, influência do Outono de 2009 que foi um paraíso balnear fora de tempo e do meu regresso ao mar. Os próximos discos planeados também balançam entre as duas coisas.

Será descabido afirmar que algumas das tuas referências, enquanto Branches, passam por nomes como Aphex Twin, Panda Bear ou Kid Loco?

Desses nomes, só o de Panda Bear faz sentido. “Person Pitch” [editado em 2007] foi muito importante para começar a usar samples. É libertador, tens um imenso arquivo à tua disposição para teres os melhores bateristas, baixistas, saxofonistas, percussionistas, tocadores de sitar, o que quiseres, a tocar contigo. Esse disco foi importante para uma data de gente, penso que dentro de anos vai ser mais clara a sua importância.

Antes de avançares para a gravação de algum tema, há algum conceito pensado? Já agora, no capítulo dos instrumentos, quais os mais utilizados?

Há uma série de características ou conceitos, se quiseres, que associo a Branches. Mas vou trabalhando em simultâneo em coisas bastante diferentes. As edições são, normalmente, colecções de material que fazem sentido juntos, produzidos ao longo do tempo. Quanto a instrumentos, vou mudando. Não sei tocar nenhum instrumento particularmente bem, pelo que, paradoxalmente, sinto necessidade de os explorar a todos. No “Seiva”, usei os instrumentos que usávamos em DOPO: guitarras, flautas, sinos e um incrível órgão a ar, entidade sagrada do som contínuo. No “Alto Astral” comecei a retalhar samples no computador, aos quais juntava guitarra e teclados. Esse tem sido o método das últimas coisas, como o single mais recente, «Sonho Marítimo».

Relativamente aos telediscos, é visível o gosto pela recuperação de imagens antigas. É por serem as que melhor se adequam aos sons de Branches e/ou porque há um fetiche particular teu por épocas passadas?

Com excepção de “Mar de Março”, da Carin Abdulá, que recorre a imagens de arquivo para fazer uma ode à alegria, é assim que o vejo, não sei se será assim. “Salão Flamingo” é bem mais do que isso, “Cool Kids” é quase um ensaio do Miguel Carvalho sobre o surf e a vida boa. Não tenho grande fetiche por épocas passadas, mas é natural que com tanto material fílmico e sonoro disponível no YouTube parte do presente passe por reconfigurar esse material. E quem sabe criar algo de novo ou, pelo menos, vivo a partir daí.

São raros os momentos em que existem participações vocais ou samples com vozes nas canções. É uma tendência a continuar?

Gostava de cantar mais, mas não tenho particular talento. Branches é fundamentalmente um projecto instrumental. Mas, muito em breve, talvez surjam novidades que desmintam o que acabei de dizer.

Ao completar cinco anos em 2011 está programada alguma apresentação ao vivo?

Não, para já não. Branches permanece um projecto de quarto.



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