Café Buenos Aires
O Argentino que é do mundo!
Diz-me o que serves, dir-te-ei se és de lá…
Diz quem já viajou pela Argentina que metade da experiência em comer um bife argentino é fatiá-lo. Pedro é viajante. E já andou por Buenos Aires. Por isso, Pedro sabe. À minha frente, observo o seu regozijo. Fatia aquele naco de bife da vazia argentino devagar, com todos os sentidos alerta. Pedimo-lo médio mal passado e parecia bem passado ao início, mas à segunda facada sentiu-se suculento. Sim, estava tenro, como toda a carne argentina que se preze e que se distingue não só pela sua produção na vastidão dos pampas, mas também pelo seu corte e preparação.
Quem procura uma experiência gastronómica ímpar em Buenos Aires vai atrás da carne, por isso quem vai a um restaurante que se chama Buenos Aires, procura o quê? Carne argentina, naturalmente. As expectativas não saíram defraudadas, como já perceberam. Aprovado, o Bife Argentino (18,50€), o prato que dá boa fama a este restaurante há 14 anos. Não tão macio, nem tão ímpar, como a cidade de Buenos Aires habitua os seus viajantes – a carne bovina chega do país sul americano ao restaurante da Calçada do Duque de duas em duas semanas – mas tenro e bem temperado o suficiente para ser uma boa experiência e merecer ser pedido novamente na próxima visita. Os acompanhamentos também ajudam: batatas fritas saborosas, estaladiças nos cantos e macias no meio, e um confitado de cebola roxa e romã, equilibradamente doce (no Verão o confitado é substituído por uma salada de tomate). O molho chimichurri (à base de salsa) que veio para mesa, como manda a tradição, estava pouco picante, mas o sabor a salsa estava acentuado e aguçou o tempero da carne da vazia.
Mas a cidade de Buenos Aires não é memorável só pela carne! E Pedro não conseguiria esquecer-se do resto, mesmo que quisesse. Mais uma vez, fez questão de fazer o pedido: Vinho tinto Mistério, Malbec, Mendoza 2013 (15,50€). E depois disto, meus amigos, perdi o Pedro. Viajou. Fechou os olhos, deu o primeiro gole e vi-o de mochila às costas. Esclareço: O Café Buenos Aires escolheu para a sua carta um vinho cuja casta é a mais emblemática da Argentina (Malbec), produzida na sua melhor região vinícola (Mendoza). Com notas a amora e carvalho, e especiarias, é um vinho verdadeiramente envolvente e um bilhete para uma viagem nostálgica, na qual também embarquei.
Os Pastéis de Carne Argentina (5€) – vulgo Empanadas – estavam boas, mas gostaríamos que estivessem mais suculentas e um pouco mais picantes. Apesar disso, a massa estava tenra e a carne bem temperada.
Outra das experiências que faz jus ao nome do Buenos Aires é, sem dúvida, a Bola de Gelado Caseiro de Doce de Leite com Amêndoa (3,50€). Parece demasiado doce, não? Mas não é! O doce de leite, importado da Argentina, tem um sabor suave, sem ferir a sensibilidade das papilas gustativas.
Feitas as contas, podemos dizer: o Café Buenos Aires é mesmo de lá!
Buenos Aires afinal também é do mundo!
Sebastião Filgueiras, o proprietário, é argentino e é sabido que na Argentina há influências italianas. Mas Carminda Barros, a proprietária, é metade francesa, metade portuguesa. À parte disso, a cozinha é feita a partir de mãos angolanas, argentinas/italianas e brasileiras. Envolve-se tudo na Bimby, et voilà! Afinal Buenos Aires é do mundo! Ficámos no Buenos Aires na Fábrica – o espaço maior e mais recente do restaurante – onde a decoração nos transporta para as casas do Séc. XIX, graças ao espelhos e retratos de família expostos nas paredes, os candeeiros de casas senhoriais, tonalidade escura das mesas e cadeiras. Só por si, não nos levaria para longe de terras argentinas, mas a música faz-nos viajar por outros continentes – o inicio da noite recebeu-nos com ritmos africanos – e a ementa inspira-se também em sabores e tradições italianas, francesas e portuguesas. E sim, o Buenos Aires Café também merece destaque por pôr em destaque outras partes do mundo.
Provámos as Endívias com Pêras (10€), uma entrada de inspiração francesa, para duas pessoas, que é tão boa que podia ser um dos pratos principais da carta. Servida com Roquefort em molho quente, é o casamento perfeito entre o sabor doce da pêra, o amargo da endívia (comprada no Mercado da Ribeira) e o salgado/picante do queijo. Foi mesmo a maior surpresa da noite e aquela que nos fez acreditar que o Buenos Aires não tinha que ser só do continente das pampas!
Como segunda opção de prato principal, foi-nos servido os Sorrentinos de Chá Verde Matcha, Recheados com Abóbora Assada e Amaretti e Salteados com Manteiga de Salva (14€). Este, apesar de ter um cheirinho a Japão (Matcha é um chá japonês), é claramente de influência italiana. Convém explicar que Sorrentinos é uma espécie de ravioli – a massa é fresca e feita na cozinha do Buenos Aires); e Amaretti são uns biscoitos de amêndoa tradicionais em Itália. Prato delicado pela textura da abóbora e pela manteiga de salva que amacia a massa e lhe dá um sabor que a distingue. O único aspecto menos positivo foi o sabor intenso da amêndoa do amaretti que, quanto a mim, estava um pouco amargo. Não fosse esse pormenor e o prato estaria perfeito.
Para além das nossas opções para jantar, a carta desfragmenta-se ainda em dois pratos de peixe, várias tartines e saladas. A carta de vinhos conta com a presença de várias regiões de Portugal e até há uma carta de Gin’s para não fugir às tendências.
O relógio do Buenos Aires na Fábrica diz que são 20h04. Olhei duas vezes, não fosse o Malbec ter-me inspirado demasiado. Afinal, a empregada partilha: foi a hora em que abriram as portas do Buenos Aires, há 14 anos atrás. A minha cabeça queria que o tempo tivesse, efectivamente, parado, mas de qualquer forma o corpo não deixaria: o estômago está cheio! Perdão, satisfeito. Bastante.
Café Buenos Aires
Calçada do Duque, 31B
Rua do Duque, 22
Telefone: 213 420 739
Horário: Seg a Dom, das 18h às 2h
Fotografia de Pedro Rodrigues
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