Calhau! | “Magneto Luminoso Condutor Sombra”

Calhau! | “Magneto Luminoso Condutor Sombra”

Habemus Calhau!

E para quê Francisco, quando Marta e João nos trazem o seu missal sonoro num LP de 12” onde o título já desvenda alguma da subtileza presente neste disco? “Magneto Luminoso Condutor Sombra” não é um manual de electrónica, mas podia bem ser um manual de linguística.

A música é só uma das facetas do vasto trabalho dos Calhau!, que se expande pelas artes visuais, pelo cinema, pela lutherie. E esta transdisciplinaridade reflecte-se na construção da sua música. A experimentação está presente em cada som saído deste disco. E não o podemos considerar apenas como um trabalho ruidoso; encontra-se até uma certa harmonicidade nas várias camadas geradas pelos sintetizadores manobrados pelos Calhau.

Este disco é também uma peça conceptual, onde o texto é claramente mais um instrumento, um elemento crucial na composição de música. A leitura de cada palavra transforma-se num dos parâmetros criativos, e é essa conceptualização das palavras que incorpora toda a ironia presente neste disco e à qual os Calhau! nos têm vindo a habituar. Veja-se «Eu-Ropa», exemplo extremo deste humor incisivo, onde se brinca com uma Europa despida do eu. Mas não é só nas palavras que está presente este sarcasmo: a música é também ela uma brincadeira de combinações acústicas, e as duas entrelaçam-se em perfeita harmonia.

O álbum vai-se tecendo numa espécie de tantra sonoro em que a voz se desfaz e reconstrói em jogos de palavras e, sobretudo, jogos de sentidos. Os Calhau! estão neste disco entre linguistas e investigadores da fonética, e essa é no fundo a essência deste trabalho. Oiçam «Vira Voraz» ou «Eco Eco», onde Marta repete regularmente a palavra, confundindo signo com referente. Com uma ambiência bem mais introspectiva, é um álbum menos melódico que o anterior, se o quisermos definir assim; mais negro no tipo de sonoridades, mais fechado em si, talvez influência da colaboração com Ghuna X. Mas é um disco acima de tudo bastante consistente. Tudo se interlaça como numa tapeçaria. E em «M.L.C.S.» temos a clara sensação de estarmos em plena missa e que os Calhau! são sacerdotes prestes a transmitirem-nos a palavra sonora. Terminam com um texto que lembra um qualquer poeta modernista do início do século XX.

“Magneto Luminoso Condutor Sombra” foi lançado nos dias 14 de Março no Porto e 16 em Lisboa, é edição de autor, e está disponível num LP 12”. Para quem o quiser ouvir, estão disponíveis duas músicas no Bandcamp da dupla. E para os ver, o que vale sempre a pena, é só estarem atentos às novidades regulares dos Calhau, no site ou assinando a mailing list.



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