Calla

Entrevista a uma das estimulantes bandas alternativas de terras do Tio Sam.

“Televise”, em 2003, mostrou ao mundo os Calla. Era já o terceiro de originais, na terceira editora diferente, e, como dizia o outro, à terceira foi de vez. Os Calla conseguiram exportar o seu som e tiveram, inclusive, alguns temas de sucesso radiofónico. “Televise” foi, ainda, o disco que trouxe os Calla a Portugal pela primeira vez, mais concretamente ao Festival de Paredes de Coura, num concerto pelos vistos memorável para o nosso interlocutor.

Directamente do escritório londrino da Beggars Banquet, o baixista/guitarrista Peter Gannon apresentou à rua de baixo o novo “Collisions”, um disco com traços diferentes naquilo que conhecíamos nos Calla, mas, ainda assim, fiel ao seu estilo de sempre. Um dos grandes discos rock do começo de 2006.

RDB: Nos últimos anos os Calla sofreram algumas mutações internas, e “Collisions” é o resultado dessas mudanças. Como descreves o vosso novo disco?

Peter Gannon: Essa descrição é acertadíssima. O novo disco é o reflexo daquilo que vivemos pessoal e profissionalmente, enquanto banda, nos últimos tempos. Foi um ano de muitas frustrações. A nossa antiga editora não tinha dinheiro para fazer o que queríamos, tivemos que ser nós a subsidiar a gravação do disco. Para além disso, um membro da banda saiu [Sean Donovan, baixista, teclista e programador]. Foi muito complicado.

RDB: Como analisas a evolução dos Calla ao longo dos diversos discos? Apesar de só teres entrado para a banda em 2003, consegues fazer um retrato de todo o vosso percurso até agora?

PG: Os Calla foram sempre muito ambiciosos. Creio que existe uma evolução clara de álbum para álbum, resultado, acima de tudo, da experiência que é apresentar as canções ao vivo. Dar concertos. O primeiro disco é muito experimental, o segundo já tem alguns traços de composição mais clara de canções, o terceiro é o mais equilibrado entre esse experimentalismo e a composição mais tradicional. O novo “Collisions” é a conclusão dessa processo evolutivo, com muito mais composição pura em detrimento de atmosferas mais experimentais.

RDB: Como é o processo de composição nos Calla?

PG: É muito simples. Neste disco cada um trabalhou individualmente, e no final trouxemos todas as nossas ideias para debate. Depois, cada um acrescenta ou modifica composições, e é isso que faz uma banda, essa reunião de ideias.

RDB: “Collisions” é editado pela mítica Beggars Banquet. Como analisas o trabalho deles até agora?

PG:
A nossa editora anterior fez um óptimo trabalho com o “Televise”. Ficámos muito satisfeitos, foram verdadeiramente até aos limites para promover o disco. Enquanto banda apreciámos o esforço, mas a verdade é que eles não tinham os fundos e as condições necessárias para nos levar ao próximo nível. Estamos muito felizes agora na Beggars Banquet, uma editora que tem nas suas fileiras diversas bandas que sempre admirámos desde crianças, o que é interessante. E parece que agora encontrámos uma casa fixa, cada disco anterior foi gravado em pequenas editoras independentes, e creio que desta vez vamos estabilizar definitivamente. É uma relação de mútua compreensão, respeito e dedicação.

RDB: Visualmente falando, como é que identificas a música dos Calla?

PG: A ideia é que cada pessoa faça a sua própria imagem com a música dos Calla. Cada letra, cada canção está recheada de sentidos pessoais dos quais cada pessoa fará a sua própria interpretação, creio que é esse o nosso intuito. Geograficamente, sinto que existe um certo conflito urbano/rural, resultado de termos vindo do Texas para Nova Iorque. Mas espero que cada ouvinte imagine o seu próprio cenário para a nossa música.

RDB: O que é que tens ouvido ultimamente?

PG: O meu disco preferido de 2005 é o disco dos Murcof, editados pela Leaf. Mas ouvimos muita coisa, na banda… de muitos estilos.

RDB: Há alguns anos tocaram em Portugal, integrados num Festival de Verão [Paredes de Coura, edição 2003]. Lembras-te de alguma coisa dessa noite?

PG: Sem dúvida, está num dos meus cinco concertos preferidos. O sítio era lindíssimo, as pessoas muito calorosas…nunca havíamos tocado em Portugal, e depois disso obtivemos muito feedback daí, desde pessoas que criaram um site de fãs, até e-mails, questões, foi óptimo. E esse concerto foi uma grande experiência.

RDB: Regresso anunciado?

PG: Espero bem que sim. O disco vai ser lançado na Europa em Fevereiro, e a digressão que se seguirá está a ser planeada… adoraríamos voltar. É esperar e ver.



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