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Camomila ao vento #3

Brasil – Um olhar sobre a Bahia.

Do calor abrasador do deserto de Black Rock no Estado do Nevada, decidi caminhar para sul em busca do calor tropical do Brasil, naquele que é um dos maiores estados do país, a Bahia.

Conhecida pela sua gastronomia onde o azeite de dendê é ingrediente obrigatório na generalidade dos pratos, mas conhecida também pela tranquilidade e boa disposição do seu povo, a Bahia é terra de capoeira, candomblé, praias idílicas e muita música.

O género predominante é o axé, que conhecem de nomes como Ivete Sangalo ou Daniela Mercury, mas as raízes culturais da Bahia remetem-nos para o uso do berimbau e do pandeiro, que ao longo de séculos desencadearam os vários estilos de capoeira e de roda de samba, mas também para o Olodum, prática comum na cidade de Salvador.

Pela extensão deste estado, facilmente se percebe que o mesmo concentra em si vários tipos
de paisagens. Dos muitos quilómetros de areia branca e praias quase virgens até à Chapada da Diamantina, uma reserva natural com dezenas de Morros e trilhas que nos permitem explorar o coração da natureza brasileira, escolher o que visitar na Bahia depende única e exclusivamente dos nossos gostos. Pessoalmente gosto de misturar os dois. As praias valem a pena pela sua beleza natural, pelo cruzamento dos rios com o mar – Barra -, pela água morna que convida ao banho, pelas muitas piscinas naturais que se formam e que nos dão uma tranquilidade anormal no mar, pela envolvência da vegetação verde e que se confunde com o azul límpido das águas. Enfim, aqui não faltam sugestões desde Mangue Seco a norte de Salvador, até à Praia do Forte, uma pequena vila piscatória que vive do turismo, ou até mesmo Porto Seguro e Morro de São Paulo – ilha a 64 Km de Salvador. Mas se a ideia é montanha, então há um destino obrigatório – Chapada da Diamantina.

Localizada a quase 500 Km da cidade de Salvador, este refúgio da natureza é marcado por cachoeiras, rios, montanhas, pedras preciosas e uma fauna e flora exuberante que se destacam pelas suas cores fortes e formas invulgares. Visitar a Chapada da Diamantina implica algum tempo disponível porque as trilhas são demoradas e o calor que aqui se sente impede-nos de caminhar a determinadas horas. Por outro lado, o Vale do Capão é uma pequena vila que tem algo de místico que nos prende desde o primeiro segundo. Aliás muitos dos seus habitantes actuais começaram por ser apenas viajantes que vinham à procura de um contacto próximo com a natureza e que acabaram por ficar ao longo de anos, por isso não se admirem se tiverem planeado ir lá 4 dias e no final terem ficado duas semanas. É o mais comum, daí a necessidade de irem com tempo.

E já que falei de misticismo, nada melhor do que falar da cidade de São Salvador da Bahia de Todos os Santos, nome original da cidade, onde a religião católica e o candomblé são aspectos culturais muito enraizados. As típicas bahianas, redondinhas, e com as suas vestes brancas com bordados a fazer balão, representam o candomblé que segundo consta atribui um orixá específico a cada um de nós com base na nossa data de nascimento. Esse orixá funciona como anjo protector e deposita em nós determinadas características da nossa personalidade. Independentemente de credos, aconselho a que visitam o Museu da História das Bahianas, junto ao Elevador Lacerda (este faz a ligação entre a cidade baixa e a cidade alta) e se tiverem oportunidade não deixem de ir a uma cerimónia de candomblé. É interessante ver as danças, os rituais, as orações, tudo com a simplicidade e orgulho dos bahianos.

Passo agora para uma outra faceta da Bahia, a capoeira. Actualmente difundida à escala mundial, a capoeira é uma luta disfarçada de dança cujas origens remontam ao período dos escravos trazidos em barcos para a cidade de Salvador pelos colonizadores portugueses. Recordo que na altura o porto mais importante de toda a América do Sul era Salvador. Se inicialmente esta era uma arte marginalizada, hoje em dia é um desporto reconhecido, com seguidores em todo o mundo e com grande presença em todo o Brasil. Quem entra no Pelourinho, centro histórico de Salvador, sente esta ligação à capoeira. Por todo o lado se ouvem berimbaus a tocar, por todo o lado se vêm grupos a treinar ou rodas de capoeira, as roupas de capoeira estão à venda em todas as esquinas e é quase crime passear por aqui e não dar um salto a casa do Mestre Bimba, responsável pela aceitação da capoeira no mundo desportivo. São muitos os estilos que poderão ver desde a capoeira regional à capoeira Angola, passando pelo makuléle praticado com paus de madeira ou espadas, roda de samba, entre outros.

O povo da Bahia é delicioso. Despreocupados, naturalmente bem-dispostos, prontos para fazer a festa em qualquer lugar, os típicos bahianos seguem a máxima do “deixa para amanhã o que podes fazer hoje”. Se para quem vive por aqui isso pode ser uma dor de cabeça porque nada fica pronto a horas, para quem está de visita esta postura até tem um certo charme. Mas atenção, os bahianos também são conhecidos pela sua libido. Sempre dispostos a “dar uma cantada” que é como quem diz prontos para o engate, os bahianos são conhecidos pelas “one night stand” e orgulham-se disso. Aliás o turismo sexual neste estado é uma realidade bem comprovada.

Antes de terminar este artigo sobre o estado da Bahia, falo da gastronomia. Como referi anteriormente, o azeite de dendê é talvez o ingrediente mais característico e está presente em quase todos os pratos da região. Com ele fritam-se os acarajés, que podem ser acompanhados com camarão descascado, e fazem-se as muquecas de peixe, frango ou carne. Mas na lista de produtos tipicamente regionais incluem-se também as caipirinhas de fruta deliciosamente misturadas com leite condensado, a mousse de maracujá, os sucos naturais, a castanha de caju torrada com mel, os licores, e as cocadas – bolachas feitas a partir do coco.

Muito mais haveria a falar da Bahia, terra de tantos encantos, mas a ideia é aguçar-vos a curiosidade para que também vossas façam as malas e venham cá passar umas semanas.

Ilustração de Isabel Salvado



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