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Camomila ao vento #5

Bolívia – um país de encantos!

Designado de Estado Plurinacional da Bolívia, este país da América do Sul é um baú repleto de boas surpresas que infelizmente poucos conhecem em Portugal. Por isso irei dedicar o próximo post a algumas das cidades que visitei para que também em vocês cresça a vontade de entrar no avião para virem conhecer este pedaço de terra dividido entre picos andinos, planícies orientais e densa floresta amazónica.

A Bolívia é uma república democrática, dividida em nove departamentos, maioritariamente habitada por indígenas. Neste artigo falarei dos departamentos de Santa Cruz e Chuquisaca, mais concretamente das cidades de Santa Cruz, Samaipata, Sucre, Tarabuco e Potosí.

Para os mais distraídos, o último artigo terminou em Bonito, um recanto cujo nome diz tudo que se encontra praticamente no limite entre o Brasil e a Bolívia. Como tal, a entrada neste novo país deu-se por linha ferroviária através do bem conhecido “Trem da Morte”. Depois de mais de 12 horas de viagem, em que constantemente me tentavam vender algo, lá cheguei a Santa Cruz, cidade multicultural que tem a marca de ser a segunda maior cidade do país com 1,4 milhões de habitantes. Aqui não falta o que fazer.
Começando pela Praça 24 de Setembro, têm acesso à Catedral Metropolitana, famosa pelas suas abóbodas de madeira com pinturas, bem como à Casa da Cultura e ao Palácio do Governo. Por detrás da Casa da Cultura está actualmente exposto o espólio que pertencia ao Museu Etnológico, mas o mesmo sofreu uma explosão e portanto parte das peças foram destruídas. Aqui poderão também adquirir alguns conhecimentos acerca da cultura Tiwanaku que se desenvolveu no que é hoje a região ocidental do país e cujos conhecimentos avançados foram legados ao Império Inca.

Nas redondezas há vários produtos regionais deliciosos, como os pastéis de carne, galinha e queijo. Tudo por 1 boliviano que nem a 10 cêntimos de euro chega. Há também um museu interessante para conhecer na cidade, chama-se Museu de História Natural Noel Kempff, nome do maior historiador da Bolívia, e tem uma colecção de botânica e zoologia com vários fósseis de dinossauros encontrados na região, nomeadamente de um mastodonte.

De Santa Cruz segui para Samaipata, que dista 118Km, e que é um verdadeiro refúgio natural. Aqui fiquei numa WOOF – uma quinta orgânica eco sustentável onde é possível fazer voluntariado e aprender permacultura –, chama-se El Jardim.

Em Samaipata não resistam a visitar o Centro de Recuperação de Animais Selvagens chamado El Refugio. Aqui encontrarão os mais diversos tipos de animais desde macacos, lamas, javalis, papagaios, cães, gatos-montês, araras. É muito enriquecedor. Um outro highlight de Samaipata é o El Fuerte – conjunto de entalhes em rocha, de origem pré-incaica, com mais de 200m de comprimento e 60m de largura. Considerado Património Mundial da UNESCO, este local é mágico. Foi durante anos o centro de decisões geopolíticas e administrativas de diferentes povos, nomeadamente dos Incas e do Império Espanhol na América do Sul. A explicação é simples, este local, encontra-se a cerca de 3.000m de altitude e está ladeado por montanhas pelo que é quase impossível alguém detectar a presença de uma civilização ali.

Também Las Cuevas constam dos must-do in Samaipata. Quedas de água em pleno coração da natureza, com lagoas que se vão formando pelo caminho e que convidam a um bom banho.

Com Samaipata na lista dos locais preferidos onde estive, a próxima paragem fez-se em Sucre, capital administrativa da Bolívia.

Aqui comecei por visitar a Plaza de Las Armas, considerada uma das mais bonitas praças da América do Sul, de onde se avistam vários casarões coloniais, a maioria deles transformados em bancos, que valem a pena ser admirados com pormenor. Daqui podem seguir para o Museu Nacional de Etnografia e Folclore, onde podem conhecer um pouco das diferentes máscaras que caracterizam as festividades bolivianas, sendo que a generalidade delas pode ser encontrada em Oruro, conhecido por ter o melhor Carnaval da Bolívia, e na região de Beni já pertence à Amazónia Boliviana. No mesmo edifício, mas no segundo piso, podem observar o modo de funcionamento das antigas tribos que habitavam esta região e que diga-se de passagem tinham excelentes conhecimentos de engenharia hidráulica para a altura.

Em todos os guias de Sucre é mencionado o Parque Cretácico, considerado o maior parque paleontológico do mundo. Contudo na minha opinião a sua visita é inútil porque o que importa ver são as pegadas de dinossauros datadas de mais de 68 milhões de anos, mas essas podem ser vistas de fora do museu.

Mas ir a Sucre, por sua vez, exige uma passagem por Tarabuco. Assim, enfiei-me numa mini van com mais 22 pessoas (excluindo dois bebes que não contam para estatísticas) a caminho da Feira de Tarabuco, repleto de cores e tradições. Aqui encontram de tudo – tecidos, carteiras, cachecóis, luvas, meias, roupa, gorros, colares, tecidos, calçado, produtos regionais, enfim todo o tipo de souvenirs possíveis a bom preço. A praça de Tarabuco conta muita da história deste povoado através de uma estátua ali edificada. Dizem que quando os espanhóis invadiram esta cidade carregados de armas, os indígenas resistiram com o que tinham e mataram de forma violenta os muitos espanhóis arrancando-lhes o coração e bebendo o seu sangue em jeito de vitória.

Finalmente seguimos para Potosí, a cidade mais alta do mundo, localizada a cerca de 4.000 metros de altitude. Com os Andes a sorrirem-me, vieram também os problemas da elevada altitude, dor de cabeça e fadiga física. Assim, recorri à técnica dos bolivianos, mastigar folhas de coca para poder dilatar os vasos sanguíneos e assim diminuir a pressão.

Historicamente, a cidade de Potosí é uma das mais importantes da América do Sul. Devido às muitas montanhas que aqui existem a quantidade de minérios é abundante, sobretudo de prata e estanho. Assim, durante o período colonial, escravos trazidos de África, mas também milhares de indígenas foram obrigados a trabalhar dia e noite nas minas de forma a financiar todo o império espanhol. A mina mais importante está localizada no Cerro Rico, do qual é possível ter uma vista deslumbrante de todo Potosí e dos Andes. Ainda em funcionamento, esta mina é conhecida como a Montanha que come homens vivos porque durante o período colonial morreram aqui mais de 8 milhões de mineiros.

Para além das minas que são indubitavelmente a principal atracção da cidade, Potosí é igualmente famosa pelo seu Museo de La Casa Nacional de la Moneda. Com uma duração média de duas horas, a visita a este museu permite-nos passar em revista todo o processo de extracção de minérios das montanhas do Cerro Rico, a fundição dos respectivos minérios e a consequente produção de moedas que eram utilizadas para trocas comerciais desde o período colonial até ao início do século XX. Se inicialmente as moedas tinham formas irregulares porque as máquinas existentes eram pouco precisas à medida que os anos foram passando a Suíça desenvolveu um modelo chamado Maquina Laminadora de Metal cuja força motriz eram os cavalos e mulas. O museu reúne ainda uma colecção de minerais da América do Sul, bem como uma colecção de objectos de prata existentes em diversas igrejas bolivianas e finalmente uma colecção paleontológica que apresenta desde utensílios de cerâmica de tribos indígenas a múmias de crianças que estiveram armazenadas numa igreja boliviana durante séculos.

Assim foi o primeiro artigo deste diário de viagem à Bolívia, um país que de momento vive uma situação política tensa mas que incrivelmente é um dos países com mais riqueza natural e cultural que já conheci.

Ilustração de Isabel Salvado



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