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Cansei de Ser Sexy @ TMN ao Vivo

Se o objectivo real destas raparigas é mesmo não serem sexy, então merecem nota 10.

Se o karma existe, ele está instalado no universo das Cansei de Ser Sexy (CSS). Embora não seja o karma de objectividade pejorativa, o que é certo é que a banda que se viu no céu, já esteve perdida, mas parece que se encontrou. Entre a irreverência das jovens brasileiras, nota-se um ‘Q’ que originalidade que as acompanhará para todo o lado. Não se tratou de uma estreia em território nacional, mas ontem, 28 de Novembro, as CSS tiveram oportunidade de voltar a aquecer (e bem) a noite lisboeta num concerto com casa cheia no espaço TMN ao Vivo.

Quinze minutos depois da hora prevista, e com o espaço já bastante composto, os portugueses Os Lábios subiram ao palco com honras de abertura. San de Palma dá a cara e a voz para as composições de “Morde-me a Alma”, disco de estreia do grupo, lançado em Maio deste ano. As músicas são bastante efusivas, com um indie-rock à mistura e uma roupagem pop que nos remete para os anos 80, inícios de 90. Mas ao mesmo tempo existe uma colagem a esse passado musical português em que os loops nos fazem lembrar músicas de outrora, em parte talvez pelas influências do mercado indie internacional. Em certos momentos parecia que estava a ouvir algo dos Blondie ou de outras origens do New Wave. Nota-se que existe um rigor enorme em manter aparências, com um guarda-roupa apropriado à sua sonoridade e que lhes acenta na perfeição. No alinhamento estiveram seis canções que andam a “morder a alma” a muita gente, entre elas «Fado arcado», que se trata do segundo single do grupo acabadinho de estrear, «Diva, não!» que arrancou muitas onomatopeias “ohohohoh” e por fim «Rádio ligado». O público abanava o corpo, batia palminhas e o pé ao som do compasso da música. A produção do álbum esteve ao encargo de Miguel Ângelo (ex-Delfins) e talvez isso seja a explicação para as influências tão demarcadas nas canções.

Depois de um pequeno intervalo para as normais adaptações instrumentais e preparação de palco, eis que o inferno se instalou na sala (atenção que a palavra inferno não é para ser levada à letra). As luzes laranjas e vermelhas irrompem no palco, em conjunto com seis músicos: as quatro raparigas que se cansaram de ser sexy e mais dois rapazes, o baixista e o baterista. Se o objectivo real destas raparigas é mesmo não serem sexy, então eu dou-lhes nota 10. Desde a cabeleira de cor preta que Lovefoxxx retirou dos anos 80, onde as permanentes eram moda nos salões de cabeleireiro e acabou por tirar e atirar para cima do palco, até ao estilo hip-hop, as miúdas paulistas não desfilaram sensualidade como é costume. Contudo, distribuíram felicidade, simpatia, hi-fives e abraços a todos os que estavam na boca do palco.

Em uma hora e quinze minutos assistimos a um revivalismo inesquecível do aclamado álbum homónimo de estreia, passando por “Donkey” e o amaldiçoado “La Liberacíon”.

«Rhythm to the Rebels» fez com que se gritassem palavras de ordem, passando de seguida para um «Of The Hook / La Liberacíon» com um sotaque espanholês.

“Boa Noite Lisboa. Nós somos os Cansei de Ser Sexy de São Paulo e é um prazer estar de volta”. As palavras de Lovefoxx proferidas com sotaque em português de Brasil tão adocicado que colocou logo todos em delírio. A sala estava cheia e a ansiedade que muitos tinham dentro de si, foi imediatamente extravasada.

O primeiro single de “La Liberacíon”, «Hits me like a rock», sem a presença do vocalista do Primal Scream, Bobby Gillespie, mas mantendo os ritmos do Verão e «Music is my hot hot sex» que se tornou num Music is my hot bacalhau, fazem-nos reparar que as letras das canções são fortes e que há semelhanças ao universo de Peaches. Depois de Lovefoxxx ter despido quase metade da roupa que trazia, o cenário adivinhava-se animado.

“Estão mais pessoas aqui hoje do que no nosso concerto em São Paulo. Muito obrigado minha gente” e, distribuindo sorrisos e apertos de mão, Lovefoxxx foi mesmo a anfitriã da festa. O baixista da banda é que parecia um pouco à parte do mundo, fazendo a festa sozinho.

«Red alert» proporcionou o momento mais sexy da noite com a vocalista a colocar uma máscara e uma capa preta, dando lugar depois ao momento alto da noite cantando o hino «Let’s make love listen Death From Above» que remeteu o pensamento para o saudoso concerto dos Death From Above em Paredes de Coura com Lovefoxxx fazendo crowdsurf em cima do público.

Seguiu-se «Jager yoga», «Echo of love» mais crowdsurf da vocalista, mais ritmos de reggae e punk, mais palavras de ordem com «Fuck everything» e eis que surge o segundo ponto alto com «Alala». Na minha opinião, o álbum de estreia será o fardo que estas raparigas vão carregar para todo o sempre, mas pelo lado positivo, e nunca vão conseguir afastar-se dele.

Terminando com «City Grrrl», os aplausos fizeram estremecer a sala e o encore também não se fez esperar. Depois de tocarem mais três canções, os gritos de ordem para “vê se me esquece, eu cansei” de um mega sucesso «Superafim». Como se tivéssemos ido a uma aula de aeróbica, abanando cabelos, todos saíram de lá transpirados e mais calmos depois de toda a euforia musical e com o inferno em cima do palco. Será que elas algum dia voltarão a ser mais sexy? Fica aqui o desafio para que as estrelas regressem ao céu.

Reportagem fotográfica por José Eduardo Real aqui.



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