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Capitão Fausto | Entrevista

A propósito da edição d’”A Invenção do Dia Claro”, o novo álbum dos Capitão Fausto, falámos com Tomás Wallenstein.

O início dos Capitão Fausto é igual ao de muitas outras bandas. “É uma história de amigos”, nas palavras de Tomás Wallenstein. Conhecem-se no liceu (é sempre bom poder dizer e escrever liceu; parece que é uma palavra que se está a perder), numa altura em que já integravam bandas. Começam a ouvir música juntos e daí a decidirem tocar música em conjunto não passa muito tempo. A partir daí o percurso é seu e até ver estão a percorrê-lo de forma única, com um cunho muito próprio.

Para quem acompanha e ouve os Capitão Fausto desde o início é evidente o crescimento. A todos níveis. Não só liricamente mas também musicalmente. Tomás Wallenstein, Salvador Seabra, Domingos Coimbra, Francisco Ferreira e Manuel Palha, estão a tornar-se excelentes músicos e a evolução é audível, disco após disco.

Mas voltemos “A Invenção do Dia Claro”, porque é por isso que aqui estamos e é exactamente pelo título que começamos. “O título foi roubado a um título de um livro que já existe, que é do Almada Negreiros”, diz-nos Wallenstein, para continuar de seguida a aprofundar; “nós achámos que fazia uma boa definição do que as letras falam ao longo do disco. Pensarmos como é que nós inventamos o nosso dia-a-dia e como procuramos as receitas para termos dias claros para a nossa vida.”

A gravação d’A Invenção do Dia Claro repartiu-se por São Paulo no Brasil e o bairro de Alvalade em Lisboa, mas é naturalmente, a primeira cidade que nos desperta a curiosidade: “foi um desafio da Red Bull que é nossa parceira já há alguns anos”, explica-nos Tomás Wallenstein. O convite inicial propunha Los Angeles, para gravar o álbum, mas havendo a possibilidade a escolha acabou por recair sobre “São Paulo”, “eles são brasileiros, falam português, era uma oportunidade óptima e decidimos avançar”.

As oito canções que dão corpo ao álbum são excelentes canções pop. Repletas de pormenores e detalhes, daqueles que dá gosto descobrir com uns bons headphones na cabeça. Porém para atingir um resultado como este, o caminho pode ser sinuoso ou, no mínimo, repleto de curvas e contracurvas, mas sempre com algumas rectas pelo meio, como Tomás Wallenstein deixa transparecer. “Há vezes em que nós nos sentamos e tocamos uma coisa e rapidamente toda a gente apanha e chega-se a resultado final muito rápido, que é o caso da última música do disco (n.d.r. «Final»). Em oposição, há casos em que ainda não sabemos muito bem o que é que não está bem mas temos de procurar e andamos a tentar fazer um trabalho de corte e costura e de experiências até chegarmos ao resultado final”.

Não é difícil descortinar um toque tropical aqui e ali ao longo d’A Invenção do Dia Claro, mas para os Capitão Fausto aquilo que pode ser tido como influência é mais amplo. Porque nem tudo o que ouvem “é influência” porque “às vezes também pode ser para saber o que não fazer”. No fundo “tudo conta” diz Wallenstein, “no geral toda a música que ouvimos conta e todas as nossas experiências, sejam elas ver um bom filme ou ir ao supermercado, podem contribuir para as coisas que nós criamos”.

A maturidade que vão revelando álbum após álbum, com um sentido cada mais refinado para a construção de canções pop e com letras onde acabam por se expôr mais, é o resultado de um “processo de crescimento auto-infligido que é de perder vergonha. Acho que cada vez mais é importante nós não pensarmos muito”, no sentido em que existe uma maior “exposição das nossas vidas e das nossas ideias,que não podemos ter grandes medos e acho que trabalhamos muito nessa direcção”.

Não é completamente descabido ver este quinteto tornar-se uma referência da nossa música mas para já Tomás Wallenstein encara-o com algumas reservas e quer ele, quer os restantes elementos da banda, não perdem demasiado tempo a pensar no assunto até porque não sabem “o que é que as próximas gerações vão gostar de ouvir”, e por esse motivo tem “essa questão muito pendente”. Mas não esconde que é “agradável imaginar essa ideia, imaginar que as horas todas que estivemos a trabalhar vão servir para mais tarde outras pessoas também e não só as que ouvem agora”.

As actividades extra-musicais são algo de incontornável para uma banda nos dias que correm e os Capitão Fausto não são excepção nem se esquivam a isso. “Não queremos esconder que nos estamos a tentar divertir”. Uma dessas facetas está bem reflectida nas fotografias registadas pela lente da Matilde Travassos, numa colaboração que surge de uma forma natural, em primeiro lugar porque existe uma amizade que os une e depois, mas não menos importante, porque Manuel Palha e Matilde Travassos são marido e mulher. E remata dizendo que “cada ideia é uma ideia e se gostarmos todos  avançamos e rimo-nos a pensar nelas”. O vídeo que se segue é também ele um exemplo perfeito disso.

Agora o momento é para apreciar as canções que integram “A Invenção do Dia Claro” e para isso nada melhor que dois concertos de apresentação, o primeiro no dia 4 de Abril, na Casa da Música no Porto e o segundo em Lisboa, dia 6 do mesmo mês no Capitólio. Os bilhetes estão, como sempre, à venda nos locais habituais.



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