Capitão Fausto – José Eduardo Real

Capitão Fausto | Entrevista

Alvalade não tem os dias contados

Agendámos encontro com a banda que assinou um dos discos que marcará indubitavelmente o ano de 2016 da música nacional. O timoneiro de serviço foi Salvador Seabra, dono e senhor das baquetas de Capitão Fausto, com quem dialogámos numa esplanada localizada, escusado será dizer, no coração de Alvalade.

Foi neste bairro que o novo disco nasceu e foi, consequentemente, por esse ponto que iniciámos a conversa.

– Foi o primeiro disco que gravaram no estúdio de Alvalade. Qual a influência de tal mudança?

– Ter esta sala foi uma grande ajuda porque podemos vir às horas que quisermos, algo não podíamos fazer nas outras salas, por serem pagas à hora, por não podermos fazer barulho a partir de certas horas. Por vezes o material também não era o melhor; no outro estúdio do Príncipe Real já quase não cabíamos lá dentro.
Depois também nos permite respirar quando é necessário: podemos ir relaxar para os sofás, jogar Playstation… É um ambiente que nunca tivémos, que ajuda a querer passar mais tempo juntos. Porém, o método de fazer o disco foi muito parecido, nós todos juntos em estúdio, fazemos as músicas, o Tomás escreve as letras, e posteriormente encaixamos as melodias nos instrumentais já feitos.

– Ter um estúdio com estas valências era algo que tinham em mente?

– Acabou por ser uma grande sorte. Partilhamos a sala com o Diogo Rodrigues que tinha este espaço em Alvalade, e que é nosso amigo, e com quem arranjámos um compromisso, partilhando o nosso material para podermos usar o espaço, além de ajudarmos nas contas quando necessário.

– Ao olhar para o tema que encerra o disco, carece perguntar que influência teve o bairro de Alvalade no mesmo.

– Nós não somos desta zona, mas gostámos tanto que temos inclusivamente a ideia de vir viver para o bairro. E foi daí que surgiu o «Alvalade Chama Por Mim», pelo menos é a minha interpretação, embora a letra seja, como sempre, do Tomás.

– Concordas que este disco é mais directo que os anteriores?

– É um disco sem dúvida mais directo que o “Pesar O Sol”, por exemplo, que tinha canções mais longas, com mais partes instrumentais. Este é disco mais objectivo, mais focado nas canções.

– Foi uma opção planeada por vocês?

– Não, foi algo que surgiu. Quando começamos a compor um álbum não pensamos no caminho que vamos tomar, as coisas vão saindo enquanto tocamos conjuntamente em estúdio. E o disco acaba sempre por ser sempre coerente porque é todo feito na mesma altura.

– É curioso porque, ao passarem mais tempo juntos em estúdio, poderia existir o risco de sobreprodução.

– Ainda que mais directo, acaba por ser um trabalho mais complexo a nível dos detalhes, das canções, dos arranjos, visto que os instrumentais foram mais pensados.

– Parece-me existir igualmente uma dicotomia entre o som, luminoso e solarengo, e as letras, mais negras e amagras.

– As letras falam um bocado das experiências pelas quais passamos todos neste momento: completámos os cursos da univerdade e gostaríamos agora de viver da música e obviamente que não é fácil. Creio que grande parte das letras é mais pesada pela dificuldade deste objectivo, desta viragem pela qual passam todos os elementos da banda nesta fase.

– Surpreenderam-vos as reacções e críticas ao disco, extremamente instantâneas e positivas?

– Sim, ficámos surpreendidos! Por exemplo, no concerto de apresentação no Lux, músicas como o “Dias Contados” eram cantadas em coro pelo público, músicas que não esperávamos. Temos saído muito felizes dos concertos, com quase todas as datas esgotadas. As pessoas têm-nos recebido muito bem.

– Presumo que a tour prossiga agora no Verão.

– Sim, acabada a tour pelos clubs, vamos virar as atenções para os festivais: estaremos no SBSR e no Paredes, entre outros mais pequenos. Entretanto estivemos também no Rock in Rio.

– Como decorreu a transição das novas músicas para o palco?

– Foi diferente em relação aos outros discos, porque anteriormente tocávamos todos ao mesmo tempo em estúdio, e não tínhamos arranjos de sopros e de percussões, que são sons que não conseguiriamos reproduzir fielmente em palco. Então houve um trabalho de reconstruir os arranjos com outros instrumentos, pelo menos para as melodias mais relevantes das canções. Foi bom ter que fazer esse exercício, porque nunca tínhamos feito, visto que por norma era o que tínhamos tocado em estúdio basicamente.

– E como tem sido a experiência Cuca Monga, a editora fundada pelos membros da vossa banda?

– Tem estado a correr de forma positiva, embora ainda não olhemos para a mesma como algo muito sério. No fundo, os discos distribuído pela Sony foram apenas as compilações que fizemos para as nossas festas. De resto, os lançamentos são apenas digitais, tanto dos Modernos, como El Salvador, Bispo e Ganso. Mas é algo que vamos fazendo a pouco e pouco. Juntaram-se agora os Ganso, e há a possibilidade de termos mais uma ou outra banda a agregar-se ao projecto. O facto de agora temos este espaço em Alvalade, que podemos disponibilizar às bandas, também facilita ao desenvolvimento desta ideia.

– Agora acrescentaram-lhe esta dimensão das festas.

– Sim, temos agora mais 2 festas na forja, ainda a ser alinhavadas, e continuaremos a lançar uma compilação das nossas bandas em todas as festas.



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