Carl Craig
A 2º geração de Detroit no seu pendor mais eclético e fusionista.
Quando os parâmetros exigidos se tornam altos é difícil sair da sombra de quem os elevou a tal altura e os três de Beleville (Kevin, Derrick & Juan) fizeram-no como nunca havia sido feito antes, tendo deixado um legado bastante importante em termos de inovação e produção musical dentro da música electrónica contemporânea, conseguindo até levar as suas ideias a quem não era propriamente apreciador do estilo.
Mas houve quem tenha ultrapassado esses altos parâmetros, e seja olhado com o mesmo respeito como hoje se olha para a “santa trindade” do Techno de Detroit. O nome que vem à cabeça é o de Carl Craig. (mas provavelmente, o próximo nome a surgir muitos poderá ser Omar S…)
Começou por ser um discípulo de Derrick May, tendo inclusive co-produzido um dos seus temas mais sonantes, Strings Of Life. Chegou a participar em conjunto com o próprio Derrick May, numa tournée de promoção do 2º albúm dos S Express, de Mark Moore (de nome Intercourse). Mas não levou muito tempo até optar por seguir o seu próprio caminho. Criou a sua própria editora, a Planet E, e começou a editar músicas através de vários pseudónimos, tais como 69, BFC, Psyche, Paperclip People, Innerzone Orchestra, Trés Demented, entre outros.
Um tão elevado número de pseudónimos revelava o seguinte: que Carl Craig gostava de ouvir diversos estilos de música e que, na medida do possível, tentava juntá-los numa mesma música. Ou seja, a matriz base era o Techno ou o House, mas por cima deles, tentava fundir estilos como o Disco, o Soul, o Funk, o Electro, o New-Wave/Post-Punk, o Jazz (sobretudo o de fusão, o que não surpreende, pois Craig sempre se assumiu como um grande fã de nomes como Herbie Hancock, Miles Davis ou Sun Ra) e até a Música Clássica (como último trabalho que fez em conjunto como Moritz Von Oswald aka Maurizio/Basic Channel para a Deutsche Gramophone é exemplo)
Esses estilos marcaram a sua infância e adolescência. Afirmou numa entrevista que, basicamente, o único estilo que não gosta é o Country. Aliás há uma história engraçada, relativa à compilação As Heard On Radio Soulwax dos 2Many Djs, que Craig não permitiu que a suma remistura ao tema “Hand To Phone” dos Adult. fosse incluída, por aí estar um tema de Dolly Parton, que é mais conhecida por ser uma cantora de Country.
É devido a este seu caracter fusionista que até hoje os seus trabalhos, mesmo os mais antigos, continuam a soar actuais. São praticamente 20 anos de carreira, com uma discografia bastante extensa, tanto a nível de material original como de remisturas de trabalhos alheios (que, não raras vezes, praticamente os transforma em trabalhos seus). Muitos DJs (e não só) de vários quadrantes musicais dentro da música electrónica hão-de ter, pelo menos, um disco de/ou remisturado por Carl Craig. Até para um estilo como o Drum & Bass Carl Craig foi fulcral, devido a Bug In The Bassbin, do pseudónimo Innerzone Orchestra, que chamou a atenção a muitos DJs e produtores do estilo e que lhes mostrou novos caminhos para além do Hip-Hop e do Reggae/Ragga como estilos que mais influenciavam o Drum & Bass na altura.
Temas que fundiam House, Techno e Disco, como Throw ou The Climax (através do pseudónimo Paperclip People) levaram a que Craig fosse ouvido por cada vez mais pessoas, porque foram temas que, já numa altura que a música de dança/electrónica se encontrava já compartimentada, eram passadas tanto por DJs de House, como de Techno, como de Trance. Ou seja, conseguiu unir DJs de vários estilos em volta dessas músicas. E, verdade seja dita, apareçam os estilos que aparecerem, seja o Broken Beat, o “Electroclash”, o Electro-House, o Maximal ou o Minimal, há-de haver um qualquer disco de Carl Craig que se consiga inserir num Dj set de qualquer dos estilos mencionados.
Através da sua editora, a Planet E, tem dado a conhecer diversos artistas que de outro modo, poderiam nunca ter sido conhecidos. Se no início a Planet E servia para editar apenas produções de Carl Craig, cedo optou por dar a conhecer novos nomes que achava de valor e que mereciam ser conhecidos por mais pessoas…entre eles Moodymann, Recloose, Ibex, Ican ou Martin Buttrich.
Foi também, até 2001, o principal responsável pela programação do DEMF (Detroit Electronic Music Festival), onde sempre pautou por trazer o que de melhor e mais inovador se fazia em termos musicais em geral, e na música electrónica em particular. A partir daí, devido a conflitos com alguns dos principais responsáveis pelo DEMF, optou por sair do lugar de programador e há quem diga que devido a isso nada distingue o DEMF de outro qualquer festival de música electrónica.
Quase tão longa como a sua carreira como produtor, é a de DJ. Tendo-o já ouvido passar música 3 vezes, e tendo alguns sets na internet, a impressão com que fiquei é que , como DJ, é tão eclético quanto o é como produtor. House, Techno, Disco, Electro,New Wave/Post-Punk, Broken Beat, Funk/Jazz-Funk…de tudo um pouco se ouve. Por isso também muitos afirmam que, apesar de não estar ligado directamente à cena nova-iorquina, é como que um discípulo de Larry Levan.
Entretanto, sempre se podem adquirir discos como a sua compilação na série DJ Kicks do próprio ou The Workout (editado pela React, agora Resist) para se poder ter uma ideia de como funciona um set de Carl Craig. Mas, melhor ainda, será tirar isso a limpo a 31 deste mês, onde Carl Craig estará de regresso ao Lux.
Decerto que será o ecletismo de sempre, e que também dará o devido destaque à 3ª geração de produtores de Detroit (Omar S, Kyle Hall ou Seth Troxler), ele que sempre gostou de apoiar outros visionários como tem sidoe, decerto, continuará a ser.
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