Casa dos Anjos
"Como é que isto tudo ficou assim?"
Em forma de espaço enviesado (em sintonia com um tempo e país retorcidos), “A Casa dos Anjos” é o lugar onde decorre a acção dramática, que dura entre o Golpe de Estado de 1926 e o pós-25 de Abril. Nela cresce e estagna o amor de Ana (Sandra Barata Belo) e Eduardo (Pedro Laginha). Espectros no tempo, estes dois amantes permanecem entre as paredes daquela casa, enquanto Maria dos Anjos (Custódia Gallego) vem visitar a casa onde fora criada (nos dois sentidos do termo). Com o revisitar d’ A Casa dos Anjos, surge à memória a sociedade da época perante o regime político vigente, o papel da família, do homem e da mulher, a expectativas de um futuro melhor, as relações de ajuda ou inveja, o receio e a bravura, o sentimento de esperança e desalento (“Como é que isto tudo ficou assim?).
Na memória de um tempo e de um espaço, que poderá ter servido de prisão ou refúgio (tal como Portugal), a história de amor de Ana e Eduardo é-nos revelada com a ajuda da filha que nunca tiveram, Maria dos Anjos. A narrativa interliga assim, as vidas das três personagens, com alguns factos marcantes da História do nosso país.
Vencedora do Grande Prémio de Teatro Português SPAutores – Teatro Aberto 2009, esta peça da autoria de Luís Mário Lopes e encenada por Ana Nave a convite de João Lourenço, tem uma visão profunda sobre a comunicação humana: “Mentiras e segredos têm tanto de destrutivo quanto de criador nas relações que se estabelecem” refere Luís Mário Lopes, acerca das personagens. E acrescenta: “As dificuldades de comunicação moldam-lhes o relacionamento.”
Neste conflito de poderes e de “vazio comunicacional”, as personagens vão coabitando naquele espaço, que serve de testemunho e reflexo da Censura em Portugal, esquecendo a sua liberdade de expressão, abandonando a sua independência para amar em plenitude. Porque “O tempo tudo corrompe ” assegura Eduardo. Concretizando os intervenientes da acção, nem como bons nem maus, mas personagens humanas.
Com uma marcada cenografia, Ana Nave realça como “alicerce da narrativa” o corredor que vai desde a porta de entrada até ao cimo das escadas, escadas essas que “são uma saída para sítio nenhum” e acrescenta “como um destino”. Quanto às paredes da casa, “permitem a projecção de vídeo, que teimam ser memórias ampliadas de sensações”.
A ver em até dia 11 de Julho.
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