Catalysts!
Sedução, informação, envolvimento. A força cultural do design de comunicação.
A ExperimentaDesign está de volta à cidade de Lisboa trazendo de volta o debate sobre o design e tudo aquilo que o rodeia. Englobada no extenso programa da bienal, encontra-se a exposição “catalysts!”, inaugurada dia 15 de Setembro no Centro de Exposições do Centro Cultural de Belém e que está patente até dia 27 de Novembro.
Mais do que mostrar o melhor que se tem feito a nível do design gráfico mundial, esta exposição foca-se essencialmente na “linguagem visual” que um determinado objecto é capaz de transmitir, transformando-se assim numa peça “culturalmente activa” na nossa sociedade de informação.
Esta foi a principal ideia que o comissário da exposição, Max Bruinsma, escritor e observador do fenómeno, tentou transmitir aquando da apresentação do espaço à imprensa, no dia da sua inauguração.
A exposição pretende contar uma “história”, através de 6 diferentes secções, para as quais foram convidados 6 diferentes artistas, onde são expostos três sub temas que resumem o design de comunicação: sedução, informação e envolvimento.
A primeira secção serve como introdução à temática e é da responsabilidade do holandês Ed Annink. “Acreditar” é o verbo mais importante quando se pretende transmitir uma ideia e um conceito. Cabe ao designer encontrar a solução adequada para que todos os receptores da mensagem acreditem no produto e/ou marca. Quem recebe a informação deve ter um olhar crítico e activo sobre a mesma. O designer funciona assim como um catalisador entre a ideia e o consumidor.
Comunicação é sinónimo de sedução. O design não é neutro, tem que ser activo. Ao criar um objecto, o designer precisa de abordar o consumidor como sendo um ser inteligente e culturalmente evoluído. É necessário seduzi-lo com a sua mensagem e fazer com ele reaja ao seu conteúdo, tentando criar uma ponte entre a mensagem e aquilo que preocupa o consumidor.
As escolhas do português Fernando Brízio vão de encontro a esta temática. Nas secções que lhe estão destinadas, podemos encontrar alguns exemplos de campanhas e objectos intimamente relacionados com a “arte” da sedução, que pode ser atingida de uma forma directa e/ou através da exploração das preocupações do consumidor.
Um dos exemplos mais flagrantes deste segundo tipo de “sedução” é a campanha da Benetton, idealizada pelo italiano Oliviero Toscani, que em vez de publicitar o produto, neste caso roupa, apostou na sensibilização dos seus consumidores, através de temáticas que vão ao encontro das suas preocupações (a guerra, a luta contra a sida, a pobreza, o racismo). Nesta exposição estão expostos alguns (dos muitos) trabalhos efectuados para a Benetton.
Ainda nesta secção existem muitos outros objectos bastante interessantes, que têm em comum a capacidade de funcionarem como mecanismos que activam os nossos sentidos. Sem dúvida que esta secção é a mais interessante de toda a exposição e merece uma observação atenta e calma.
Nas secções destinadas ao tema da “Informação”, encontramos um conjunto de simbologias do nosso quotidiano aplicado num outro contexto, menos informativo e mais cultural. Concebida por Pierre di Sciullo, esta secção mostra o trabalho de um amplo leque de designers que utilizam as linguagens visuais do design de informação (gráficos, diagramas, símbolos, letras, etc) como expressão cultural.
Dos inúmeros trabalhos expostos, destacamos um trabalho de Juli Gudehus, onde o artista “traduz” o primeiro volume da bíblia para pictogramas, sem alterar o seu sentido.
O Envolvimento da sociedade, dos consumidores e do mundo é também uma forma de design. Nesta secção podemos encontrar duas grandes telas onde são exibidas imagens de manifestações populares, uma das formas mais visíveis do envolvimento da sociedade civil, bem como a exibição de um slide show com várias imagens de “tags” retiradas das ruas de Lisboa, principalmente no Bairro Alto, que para Max Bruinsma, é um dos locais mais “extraordinários” de design urbano que alguma vez encontrou em todo o mundo.
Ainda nesta sala, encontramos uma parede de azulejos, com trabalhos efectuados por designers profissionais e amadores, bem como imagens retiradas da Internet. Se olharmos com atenção, os azulejos formam a palavra “Engage” e pretendem demonstrar o seu envolvimento, dando a conhecer as suas preocupações e visões do mundo e da sociedade.
Depois de ultrapassada a última sala da exposição, onde se encontram duas vertentes do design, o profissional e o amador, somos convidados a espreitar o universo televisivo através de uma extraordinária colagem composta por Rob Schröder.
”Pânico Moral” é o título do filme de 56 minutos que resume uma vida dedicada a ver televisão. Durante muitos anos da sua vida, Schröder esteve em frente a várias televisões em simultâneo, sempre preparado para gravar e captar as imagens que achasse convenientes. Dessas captações surge agora este filme, uma “sinfonia de imagens” como lhe chamou Max Bruinsma.
A sequência de imagens é por vezes bastante perturbante, devido à velocidade com que diferentes captações são exibidas. Tudo aquilo que Schröder achou ser chocante, bizarro, repulsivo e fascinante está condensado nesta hora de filme que demonstra o poder subversivo da televisão.
Em suma, “catalysts!” é uma exposição muito interessante para todos. Quem é designer vai ficar deliciado com muitas das obras expostas. Quem não o é, nem nunca pensou sê-lo, tem aqui uma oportunidade única de perceber o poder desta arte na sociedade de hoje em dia e na nossa vida quotidiana.
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