Causse Gloves
Intemporal c’est chic. O Inverno já esteve mais longe e em Paris as luvas vão estar em Grande estilo.
Eu sei, é Setembro. Eu sei… ainda há resquícios de calor, afrontamentos de Verão entre dias mais fogosos ou subitamente outonais. Mas elas estão aí, a efervescer para a próxima estação se por elas esperássemos há uma vida. As Causse Gloves voltam com força ao mercado da moda, com um passado grandioso a suportar a nova colecção, muito acima de qualquer tendência ou lançamento indiferente ao coração.
Foi em 1892 que 3 irmãos formaram a casa Causse Gantier, no Millau francês, o epicentro internacional do fabrico de luvas clássicas. Curtidores, como a maior parte da população da região à época, reuniram na sua arte de curtir peles os métodos de trabalho artesanais de molde e conservação – transmitidos de pais para filhos – e a habilidade de costura sob peles nobres. Mas foi nos anos 20 – os Loucos anos – que conseguiram afirmar-se nacional e internacionalmente, pela exportação em barda de luvas para os Estados Unidos, em consolidação do posto de grande potência mundial. Daí não nos ser estranho olhar para estas luvas hoje, como “ontem”, como marco de moda nas mãos de grandes divas do cinema a preto e branco.
Marco de bom gosto, estas luvas são o resumo de um charme intemporal, que continua a surpreender pelos seus standards de criatividade e excelência de execução. Em 2003, sob a nova direcção artística de Nadine Carel e Manuel Rubio – também responsável pela nova identidade visual da marca e sabe Deus se um newcommer luso-descendente – passamos à fusão do clássico chic à elegância moderna e cosmopolita. Revisitamos as tendências clássicas com uma aproximação a notas urbanas e citadinas, na conjugação de sofisticação e simplicidade. Há peças de linha pérola à là Garbo, mas também de brilho à là Michael Jackson, futurismo Blade Runner ou nouvelle motard, cruzando os estilos longos e curtos, com e sem dedos… e um sem número de variedades de aplicações possíveis, sempre sóbrias na forma.
São sem dúvida um expoente de produção que ao nível da moda – e do preço – as poderão colocar ao nível de uma boa jóia ou vinho, daqueles que nos fazem suspirar os poros ao mexer na carteira. Excentricidade e equilíbrio são elementos difíceis de aliar, mas que esta dupla trouxe como reforço da contemporaneidade da marca para os clientes de hoje e manhã. A perfeição que procuram manter ainda nos dias de hoje, com tradições seculares assumidas nos seus fabricos, fazem com este ano expludam séries limitadas de qualidade superior, pela busca do objecto único.
Com a renovação criativa da casa e uma visão rejuvenescida do design aplicado à criação vanguardista, como estandarte Gantier, são-lhes sucessivos os prémios atribuídos nos últimos anos pelas mais variadas associações parisienses de alta costura e design, e reconhecido mérito pelo trabalho de sempre e a inovação de actual.
O senão a que muitos de nós não podemos deixar passar incólume é o facto de estarmos a falar quase em peças de arte e requinte… feitas com peles. É aqui entra uma particularidade desta marca desde os primórdios da sua fundação: estamos a falar de luvas em pele e que, por este facto, podem dissolver todo o encanto por elas, para além da mera observação estética. Mas é claro que os “ingredientes” não agradam. Não agrada pensar na pele de ovelha, cordeiro, veado, python ou avestruz, as peles nobres a que se referem com toda a particularização artesanal. De todo. À luz dos dias em que a Causse se lançou, seria menos mau pensar na crueldade animal. Mas hoje, se fica algo a apontar em sublinhado negativo é não aproximação aos materiais sintéticos que existem no mercado da alta costura.
Fazem-se 25 000 pares de luvas logo ali, no Millau. As belas e mortais, fascinantes e eternas… mesmo no pesar – nos dedos, na alma, carteira ou o que mais vos tocar.
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