Celebrar o erro
A Associação Cultural PuppenHaus lançou um desafio a trinta criadores. A exposição “A Beleza do Erro” patente na LxFactory até ao fim do mês de Outubro é a sua resposta.
O desafio era ambicioso: criar obras inspiradas no conceito da beleza do erro. Uma celebração ao tipo de erro, intencional ou resultante do acaso, para o qual se inventaram borrachas, apagadores, correctores e correctivos. Até ao dia 24 de Outubro é possível visitar a exposição com peças, parte delas inéditas, que pretendem dar resposta ao desafio lançado.
João Louro, Daniel Malhão, Joana Vasconcelos, João Simões, Tomaz Hipólito, Sara & André, Miguel Palma, Fernando Brízio, Pedro Garcia, Ricardo Cruz, Bertien van Manen (Holanda), Cecília Ramirez-Corzo (México), Dana Wyse (Canadá), James Hopkins (Reino Unido), Maria Carmen Perlingero (Brasil), Sam Baron (França) e Nienke Klunder (EUA) foram alguns dos artistas – 17 portugueses e 13 estrangeiros – que responderam ao convite.
As obras expostas focam várias areas – artes plásticas, design, instalação, escultura, fotografia e vídeoarte – num espaço bem concebido e onde nem uma loja falta onde é possível adquirir o catálogo ou peças dos artistas.
A Associação Cultural PuppenHaus foi criada em Lisboa, em 2007, no intuíto de divulgar a arte contemporânea e formar novos públicos através da organização de eventos nesta área. Christina Bravo é uma das curadoras da exposição e também fundadora da associação que integra ainda Felipa Almeida e Joana Astolfi. Segundo Christina a PuppenHaus tem como objectivo “organizar exposições temáticas de arte contemporânea, convidando criadores a pensarem em diversos temas que iremos propondo. O primeiro tema, a beleza do erro, foi escolhido por considerarmos que faz parte da vida quotidiana de todos nós e está inerente a qualquer processo criativo. Este tema interessou-nos pela sua força conceptual mas também pela forma como se pode desmultiplicar em várias áreas da nossa vida”.
Quanto à ideia de organizar exposições temáticas, segundo a comissária, pretendem que os visitantes “(re)pensem conceitos, muitas vezes já fossilizados dentro dos nossos parametros de conhecimento e ideias generalizadas sobre as coisas, e ao mesmo tempo apresentar várias linguagens criativas dentro dum mesmo espaço de reflexão”.
A aposta na criação de novos públicos também é uma preocupação da associação estando a decorrer na exposição uma serie de actividades e visitas para escolas e público em geral.
O proximo projecto da PuppenHaus será apresentado na Plataforma Revolver em 2010 mas por agora o tema ainda não foi desvendado.
ERROS
Uma das peças mais emblemáticas da exposição é “Silent” de Tomaz Hipólito. Uma máquina de sinalização de estradas com um ecrã acoplado onde se pode ler a palavra Listen mas de onde nenhum som sai. Ao ler Listen o espectador é conduzido em erro na acção de descodificação colocando-se tendencialmente em silêncio (na expectativa de ouvir algo) e simultânemente a realizar o anagrama do que lê – Silent/Silêncio.
Sam Baron, que colabora como designer com a empresa portuguesa Vista Alegre desde 2001, apresenta um novo olhar sobre o processo de fabricação das peças. O erro desvenda-se nas peças estranhas que saiem do forno resultantes de tremerem e mudarem de forma devido à acção de fusão do verniz. O que antes eram peças isoladas são agora um só bloco disforme, criando uma nova espécie de peças resultantes da acção do erro.
PERFEIÇÕES
A pergunta impõem-se: como é possível organizar uma exposição desta dimensão no actual contexto económico? A crise mata a arte ou favorece? Christina Bravo tem pena de que haja poucos apoios privados para as áreas criativas “Nós tivemos apoio financeiro da Admar e da Meo e muitos apoios em géneros que foram muito importantes para a exposição. Mas de facto, nesta área, muitas pessoas trabalham por amor à camisola”.
Para tomaz hipólito a exposição ainda tem mais mérito no contexto económico/cultural actual “onde o capital é ainda mais escasso para a Cultura seja pela via do Estado ou das empresas”. E acredita que os projectos necessitam da participação do público, “na compra de um simples catálogo ou na doação monetária antes e durante a exposição.” Segundo o artista, a exposição não teria sido possível “sem uma enorme coragem, tenacidade, talento, voluntarismo das mentoras da associação Puppens e de todas as pessoas que ajudaram a concretizar o projecto”.
Além dos apoios financeiros a associação está a vender as obras de arte como forma de finaciamento da exposição.
O catálogo é composto por textos da autoria de Miguel Esteves Cardoso (“Quase”), Filipa Oliveira (“O legado de Pollock”), Paulo Pires do Vale (“Elogio da Faculdade Erracional”), Cristina Pratas Cruzeiro (“Da Beleza ao Erro”) e João Silvério (“Erro_.doc”).
Exposição patente até dia 24 de Outubro na Lx Factory, de 3.ª a Domingo das 11H às 20H.
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