Ciclo de Cinema – Kenji Mizoguchi
Um dos grandes realizadores nipónicos.
Simplificando: para quem gosta de cinema, viu poucos filmes antigos – tirando as “americanadas” (das boas!) e uma seca com um filme europeu a preto e branco (que também os há) – e conhece pouco ou nada do cinema japonês, tem de dar uma oportunidade ao ciclo de cinema do realizador nipónico Kenji Mizoguchi.
Até 10 de maio no Espaço Nimas está a primeira parte deste ciclo, com 3 filmes, em cópias restauradas: “Os Contos da Lua Vaga”, “Os Amantes Crucificados” e “A Mulher de Quem se Fala”.
Para quem não conhece, recomendo que comece por ver o filme “A Mulher de Quem se Fala”.
Neste filme, de 1954, dos últimos da carreira deste realizador, além de encontrarmos os traços característicos da sua obra (o papel da Mulher numa sociedade dominada por valores masculinos, as desigualdades sociais e os vícios) Mizoguchi faz o contraponto entre os valores do japão tradicional e os valores ocidentais.
A acção passa-se em Quioto nos anos 50. A jovem Yukiko vive em Tóquio e após uma tentativa de suicídio, por causa de um desgosto amoroso, a mãe vai buscá-la e trá-la para casa, em Quioto. A mãe é dona de uma casa de gueixas, profissão que desagrada e envergonha Yukiko. A acção desenrola-se nessa casa entre a mãe, a filha e as gueixas lançando questões sobre os seus desejos e o que sociedade espera delas.
Mizoguchi de forma subtil oferece-nos vários contrapontos.
A moderna Tóquio e a tradicional Quioto.
Yukiko, a mulher com estudos, com corte de cabelo e roupas ocidentais (impressionante semelhança física com Audrey Hepburn, como João Benard da Costa escreveu), que tem uma depressão provocada por um amor não correspondido e que quer retomar o sonho de infância de ser pianista.
Do outro lado a gueixa pintada e adornada com tecidos caros, suspirando pelo dia em que aquela profissão não será mais necessária. A rapariga que chora compulsivamente enquanto pede para ser aceite como gueixa, para poder pagar os medicamentos do pai.
Até no papel do Homem, em que Yukiko e mãe idealizam o Príncipe Encantado e na realidade encontramos os clientes bêbados que todas as noites entram na casa de gueixas à procura de divertimento.
Além da subtileza destes detalhes, Mizoguchi tem um ritmo de contar a história que é actual. As acções sucedem-se conduzindo a narrativa de forma fluida e entusiasmante. Aliás, característica que também se encontra nos outros dois filmes em exibição.
Para segundo filme recomendo “Os Contos da Lua Vaga” (1953), o mais conhecido deste realizador, conta a história desafortunada de 2 casais durante um período de guerra civil no Japão, no século XVI.
Este filme, por muitos considerado a obra prima de Kenji Mizoguchi, ganhou o Leão de Prata e o Prémio Pasinetti no Festival de Veneza de 1953 e teve uma nomeação para Óscar de Melhor Guarda-roupa.
Por último, a tragédia “Os Amantes Crucificados” (1954) a lembrar os enredos Shakesperianos, com a acção a passar-se em Quioto, no século XVII.
Em regra os ciclos de cinema têm uma missão vital: pôr novas pessoas a ver os filmes e assim assegurar a continuidade da memória sobre trabalho do autor.
Espero que este pequeno guia tenha estimulado a vontade de ver pelo menos um destes 3 filmes.
Se já conhece a obra de Kenji Mizoguchi então acredito que deve ser um prazer rever ou descobrir estes filmes no grande ecrã, no escurinho do cinema.
A segunda parte deste ciclo, continua no Espaço Nimas, a partir de 11 de Maio com mais 6 filmes, na sua maioria raramente exibidos no país.
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