Cine-Estúdio 222

Um dos cinemas mais emblemáticos da capital. A rua de baixo recupera uma das catedrais do cinema independente.

Para aqueles que habitam em Lisboa ou arredores e que são minimamente interessados por cinema, há um nome que não lhes é de todo desconhecido. O cine-estúdio 222 fica bem no centro da capital, no número 37 da Avenida da Vitória, junto à Praça do Duque de Saldanha e tem sido referenciado como uma das poucas casas verdadeiramente independentes de cinema das redondezas. Foi por esta razão que fomos falar com Dhimante Cundanlal, o gerente da mítica casa alfacinha.

O cine-estúdio 222 já existe desde 1978 e “surgiu e funcionou como um cinema normal, até que depois apareceram os multiplexs” que obrigaram a gerência a criar uma filosofia diferente, porque “não dá para competir com essas grandes salas”. A ideia era criar uma verdadeira alternativa de modo a cativar os espectadores. “Quisemos diferenciar-nos através dos ciclos, que de momento desapareceram um bocado,” confessa Dhimante. Quanto ao nome, não se sabe bem como apareceu. O gerente da sala de cinema diz que “surgiu por acaso. Poderia ter a conotação com os lugares da sala, mas também acho que não batia certo (risos)”.

Uma das formas encontradas para criar essa “alternativa” às grandes salas, que começaram a nascer que nem cogumelos por todo o lado, foi as parcerias estratégicas, das quais a efectuada com a Zero em Comportamento (que realiza actualmente o IndieLisboa) ficou como a mais conhecida. “O acordo com a Zero era eles ficarem com a programação da sala de segunda a sexta-feira e nós com os fins-de-semana, em que passávamos também filmes indianos à tarde. Eram filmes em versão original porque trabalhávamos mesmo com as comunidades indianas em Portugal. Alguns tinham já legendagem em inglês, mas eram muito poucos”.

A associação Zero Em Comportamento foi realmente a que teve uma actividade mais produtiva neste espaço e que melhor o divulgou, também porque foi a que mais tempo trabalhou com Dhimante. “Eles trabalhavam de uma forma muito empenhada e, além de terem acordos com a Câmara Municipal de Lisboa, aconteceu tudo numa altura em que havia muita procura por algo diferente”, diz-nos o responsável pela sala, que confessa que a organização “passou um mau bocado e deixou de ter capacidades para estar” com o cine-estúdio 222, também porque ambicionavam outro tipo de apoios, que na altura não surgiram.

Em relação aos grandes ciclos que tanto caracterizava a sala de cinema (quem não se lembra do ciclo “O pior realizador do mundo”, entre outros, que encheu por completo a sala) estão agora em stand-by. “Mas daqui a uns meses prevê-se que ressurjam,” diz Dhimante justificando o intervalo com o facto de que “os filmes, especialmente os indianos, são muito dispendiosos”. Isto, apesar da enorme produção que Bollywood tem, que poderia levar a pensar que obrigaria a uma baixa dos preços, mas “o tempo é muito curto para se tentar sequer recuperar os custos que se tem”. Aqui o principal culpado seria o DVD e a pirataria: “Não só na índia como também em Portugal, consegue-se adquirir o filme nos mercados paralelos bem antes de ele sair no cinema. Cheguei a estrear filmes conjuntamente com a índia e o resto do mundo e ter ofertas ao mesmo tempo de versões pirata.”

Actualmente, continua-se a fazer ciclos, mas não como antes. “Fazemos ciclos de reposição de filmes que já por cá passaram, entre esses eventualmente alguns antigos”. Mas vê-se uma mudança do próprio público que motiva futuras mudanças. “A maior parte era estudantil e notava-se interesse e conhecimento da parte deles. Já não vêem apenas os filmes de Hollywood e procuram alternativas viáveis a isso.”

Quanto a ajudas para se manter no activo, Dhimante diz que “nunca houve nenhum apoio. Vamos agora tentar solicitar, mas é complicado… Mesmo os grandes complexos andam com muitas dificuldades. Neste momento penso sermos realmente a única sala que não está conotada com ninguém e verdadeiramente independente,” pelo que há que dar continuidade ao trabalho feito até agora. A sala foi completamente renovada, mas continuam sem ter nenhum tipo de publicidade, sem ser o site. “Algo em certa parte intencional, porque temos como objectivo realizar algumas alterações de fundo e então aí começarmos a divulgação… alterações que devem ser implementadas depois do Verão.”

Com os grandes complexos e os blockbusters, este tem mesmo de ser um espaço alternativo para atrair as pessoas, ”caso contrário, seria mais uma sala de cinema. Mas por muito alternativo que se queira ser, há sempre a questão financeira que acaba por ser a principal e determina se se pode manter as coisas ou não.”

Talvez passar a ser uma associação como fez a Zero Em Comportamento seja uma alternativa viável, e considerada por Dhimante, porque abre novas portas a subsídios e outro tipo de reconhecimento. Entretanto, a sala continua a funcionar no sítio do costume. Fiquem atentos às novidades que se avizinham.



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