“Cinzas do Passado” | Martin Suter
E do esquecimento se fez um policial a duzentos à hora
“A Doença de Alzheimer é um tipo de demência que provoca uma deterioração global, progressiva e irreversível de diversas funções cognitivas (memória, atenção, concentração, linguagem, pensamento, entre outras). Esta deterioração tem como consequências alterações no comportamento, na personalidade e na capacidade funcional da pessoa, dificultando a realização das suas actividades de vida diária”. (Fonte: Alzheimer Portugal)
De forma mais ou menos intensa, muitos conviveram já com a doença de Alzheimer. Uma imposição do esquecimento que, lentamente, brinca com o poder da memória, fazendo do passado o lugar mais seguro e transformando o presente em algo descartável.
Fazer um policial à volta da doença de Alzheimer não auguraria nada de bom, quer pelo risco de se cair no lugar-comum, quer pela provável propensão ao lado mais lacrimejante. Martin Suter, porém, tinha disto uma opinião bem diferente. E ainda bem para nós, pois “Cinzas do Passado” é um policial hábil, frenético, e que faz da doença a peça-chave para a resolução do mistério.
Konrad Lang é um sexagenário com tendências alcoólicas, que vive da caridade da família Koch praticamente desde a sua infância. Durante anos – mais ou menos até aos seus 30 -, foi a sombra de Thomas Koch, o herdeiro da fortuna da família, fazendo a sua vida depender de todas as decisões e caprichos de Thomas. Quando Konrad pega acidentalmente fogo à mansão de férias da família em Corfu, reduzindo um palácio à beira-mar a uma monte de cinzas, a causa é atribuída ao alcoolismo. Porém, os esquecimentos de Konrad sucedem-se, recuando cada vez mais no tempo e aproximando-se de recordações que, para muita gente, têm sido segredos trancados a sete chaves.
Entre o poder da memória e a sua ausência, Martin Suter constrói uma história com doses iguais de mistério e psicologia, à volta de um homem que se vê atirado para o passado por uma doença que o ameaça deixar sem presente.
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