CocoRosie | “Tales of a Grass Widow”
O quinto álbum das CocoRosie, é provavelmente, o melhor trabalho das irmãs Casady até ao momento
Para quem não conhece, ainda, as CocoRosie são Bianca (Coco) e Sierra (Rosie) Casady, duas irmãs norte-americanas que em 2003 se reuniram em Paris e decidiram gravar um álbum na casa-de-banho da casa de Sierra. E assim foi criado, e lançado, em 2004, o primeiro álbum das irmãs – “La Maison de Mon Rêve”, lançado pela Touch and Go Records.
Após este trabalho seguiu-se, logo no seguinte ano, “Noah’s Ark” – que recebeu bastante criticismo negativo, não pelas músicas mas pela artwork da capa do álbum, desenhada por Bianca Casady e que consiste em três unicórnios a terem relações sexuais, enquanto que um deles vomita uma espécie de arco-irís. Em 2007 lançaram “The Adventures of Ghosthorse and Stillborn”, produzido por Valgeir Sigurðsson (Björk, Feist, múm, Camille, entre outros), sendo este álbum o que marca o fim entre a relação das CocoRosie com a Touch and Go Records. Em 2010, já na Sub Pop Records, lançaram “Grey Oceans”, trabalho que é até ao momento o mais conhecido da banda, muito em parte devido ao brilhante single «Lemonade».
Mas é agora, em pleno 2013, e dez anos depois da formação das CocoRosie, que as irmãs Casady mostram todo o seu potencial. Em “Tales of a Grass Widow”, lançado pela City Slang Records, tal como em “Grey Oceans”, existe uma sofisticação sonora evidente; no entanto, neste novo álbum as arestas que tinham que ser limadas foram limadas com sucesso e apresentam-nos, assim, um trabalho mais polido e mais maduro do que qualquer um dos trabalhos antecessores.
«After the Afterlife», primeiro single e faixa de “Tales of a Grass Widow”, começa com uma suave delicadeza, antes de entrar numa direcção mais sombria e electrónica, com imensas camadas sonoras sobrepostas que merecem ser ouvidas vezes sem conta, até ser possível identificar todas. Segue-se «Tears for Animals» que conta com a participação de Antony Hegarty (de Antony and the Johnsons) e, durante os mais de cinco minutos de música, os tons doces de Antony, juntamente com os tons mais agudos de Bianca e Sierra, questionam-nos, repetidamente, se temos amor para a Humanidade – “Do You Have Love For Humankind?”.
«Child Bride», terceira faixa do álbum, consegue ser aquilo que este álbum melhor representa: uma mistura entre o que as coisas aparentam ser e aquilo que realmente são. Durante a música conseguimos sentir quase uma euforia espacial com Bianca Casady a sussurrar a letra, sendo que, após várias audições, conseguimo-nos aperceber que a música fala-nos da dor da separação. A faixa seguinte – «Broken Chariot» – representa, da forma mais bela e clara, o lado sombrio das CocoRosie, com a presença sonora de flautas Shakahachi (flauta introduzida no Japão no século VIII, tradicionalmente feita em bambu). Logo de seguida existe uma transição quase para um RnB comercial, na faixa «End of Time».
«Harmless Monster», que expressa o feminismo de uma forma extremamente subtil (ambas são bastante empenhadas nas lutas feministas na sociedade) e «Gravediggress», um dueto entre uma jovem (Bianca) e uma velha mulher (Sierra), são duas músicas que provam a evolução musical do duo, e sobretudo a sua refinação musical. «Far Away» é uma canção que podia, perfeitamente, ser uma canção de Björk, com uma batida simples e alegre de um tambor, mas cantada quase como se fosse improviso, sem esforços para unir ambos.
Na recta final de “Tales of a Grass Widow” encontramos «Roots of my Hair», com o mistério a que as CocoRosie já nos habituaram, juntamente com o som de harpas, seguida de «Villain», que consegue ser um dos pontos altos do álbum. Com uma mistura de música pop com batida de palmas e as vozes das irmãs entrelaçadas, «Villian» parece pedir um remix para ser passada numa discoteca. O disco termina com «Poison», novamente com a voz de Antony Hegarty (sendo que a música termina para depois começar com um hidden-track).
“Tales of a Grass Widow” é um álbum onde as CocoRosie conseguem atingir alguma coesão, coisa que não é muito presente nos álbuns anteriores. A música das irmãs Casady não é seguramente para todos, mas é triunfante, enigmático, e bom, verificar que ainda existem duas pessoas que não pretendem, de forma alguma, prestar atenção à indústria musical e continuar a fazer a música que se sentem compelidas a fazer. Em suma, “Tales of the Grass Widow” traz-nos algumas das músicas mais focadas e belas que as CocoRosie alguma vez já fizeram. E se ao fim de dez anos conseguiram esta evolução, só nos resta esperar pelos 10 seguintes.
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