“Como Ler Um Escritor” | John Freeman
Por aqui celebra-se a Literatura
John Freeman é escritor e crítico literário. Vive em Nova Iorque e dá aulas de escrita criativa na Universidade de Columbia. Dirige a Granta, uma das mais prestigiadas revistas literárias do planeta, escrevendo também para publicações como a New York Times Book Review, o Los Angeles Times, o Guardian e o Wall Street Journal. Em 2007, viu reconhecido o seu trabalho enquanto presidente do National Book Critics Circle, recebendo o Prémio Patterson Pageturner. Falamos, portanto, de um vulto das letras e de um grande comunicador.
A capacidade de John Freeman em radiografar o universo literário, mostrando ao pormenor de que material é feito, está bem expressa em “Como Ler Um Escritor” (Tinta da China, 2013), livro que reúne uma série de entrevistas com muitos dos grandes escritores contemporâneos.
Na brilhante introdução que escreveu para o livro, John Freeman conta-nos sobre as suas primeiras paixões e terminações literárias, desde achar os contos de John Cheever demasiado piegas ao seu amor por Jack Kerouac – sobretudo o “On The Road” -, centrando-se depois no fascínio da descoberta de “Corre, Coelho”, romance de John Updike, onde há um homem cujo grande acto de contracultura foi o de se meter num carro, atravessar a cidade e ir dormir com a amante.
Para Freeman, John Updike tornou-se numa obsessão: reuniu uma colecção quase completa de primeiras edições dos seus livros, fez o circuito das livrarias para os autografar, saiu de Nova Iorque para se tornar escritor em Nova Inglaterra, levando a namorada, seguindo os passos do mestre. Porém, ao mesmo tempo que Updike de modelo ao escritor em que se queria tornar, Freeman transformou-se na antítese da pessoa que deveria ser: «Estudar os livros dele tinham-me tornado um melhor escritor e crítico, mas na vida eu tinha repetido os erros das suas personagens.». A relação com a namorada e futura mulher ameaçava desmoronar-se, e nem a venda de toda a colecção Updike a um livreiro para a compra de um anel de casamento serviu para evitar o desmoronamento do edifício emocional. Um ano depois do casamento, a mulher saiu de casa.
No dia em que foi tratar do seu divórcio, Freeman entrevistou Updike e, a certa altura, a entrevista terminou e deu lugar a uma troca de experiências pessoais. Mais tarde, mostrando ter ficado de certa forma abalado, o próprio Updike tentaria evitar uma nova entrevista com Freeman – que acabou por se realizar sem sobressaltos. Dessa experiência, Freeman retirou que não se deverá «aproximar demasiado a vida da obra, ou acreditar que um romance pode substituir os erros que uma pessoa tem de cometer na vida para aprender a sobreviver ou talvez até a ser feliz.» Ao mesmo tempo que recuperava a admiração por Updike, John Freeman alcançava a sua própria redenção, descobrindo o caminho ideal para se ler um escritor.
Entre a entrevista e o ensaio, “Como Ler Um Escritor” revela toda a mestria de Freeman no papel de entrevistador e, posteriormente, na forma em como consegue transformar a sucessão de perguntas e respostas num texto fluido e interpretativo, desvendando a relação dos escritores com o meio literário e o tempo histórico em que vivem.
Cada entrevista, espremida até se tornar sumo, é precedida por uma ilustração de W. H. Chong e um texto de poucas linhas, que serve de BI ao escritor e à obra. Por aqui passam Philip Roth, Paul Auster, Paul Theroux ou David Foster Wallace, num livro que é uma celebração da Literatura e das mentes que a vão habitando. Obrigatório para quem gosta de ir além da obra e, sobretudo, para todos os amantes da boa literatura. Cinco estrelas.
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