Matt-Haig

“Como Parar o Tempo” de Matt Haig

O desafio de viver

Um homem atemporal, uma sociedade secreta e uma regra primordial: Nunca se deve apaixonar.

Uma história de amor que vai desafiar tudo o que acredita e o vai ensinar a viver.

A primeira regra é não se apaixonar (…) Se cumprir isto à risca, vai correr tudo bem.

O mais recente livro do britânico Matt Haig, cuja ação é sublinhada primordialmente pela noção do tempo e as vidas necessárias para se aprender a viver, Como Parar o Tempo (TopSeller, 2017), é um excelente romance de ficção científica e uma emocional aventura pela anos da Inquisição, William Shakespeare, Capitão Cook e F. Scott Fitzgerald .

Era essa a lição do tempo que nos era familiar. Tudo muda e nada muda.

Haig é um pintor que distribui cor num mundo sombrio repleto de desconfiança, medo e maldade. A cada pincelada retrata o lado luminoso e negro da condição humana, sem deixar de dar um toque de esperança a cada momento, a cada ação.

Age como um psicólogo que avalia e analisa as mais profundas e complexas camadas da psique humana e possui uma capacidade curiosa, poderosa e aprazível de unir ficção e realidade, num discurso fluído e apelativo, com capítulos curtos e concisos, que leva o leitor a navegar entre as páginas como um verdadeiro viajante no tempo.

Ao aliar momentos leves que permitem atenuar a sombriedade do personagem principal, sustém uma ponte que serve de ligação entre as dúvidas do presente e momentos chave do passado e transforma as páginas num elixir que deleita e seduz, ao longo do percurso, a querer saber mais sobre Tom e as suas experiências passadas.

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Cada frase, cada parágrafo remete o leitor para o reino da ficção científica mantendo, constantemente, características que o prendem à realidade, oferecendo o melhor de dois mundos.

Eu não sou uma pessoa. Sou uma multidão num só corpo. (…) Em suma, perdi-me.

Tom Hazard não é quem aparenta ser. A olho nu parece um simples homem de 40 anos, mas a verdade é repleta de perigos.

Com 439 anos, tem vindo a ser perseguido ao longo da sua vida por ser ‘especial’. Ele sofre de uma patologia rara, denominada ‘anageria’, uma condição que lhe permite parecer séculos mais novo do que realmente é. Mas contrariamente a ser considerada uma dádiva, é o que serve de cataclismo na vida do personagem, ao provocar a morte de todas as pessoas que ama.

Ele é um ‘Alba’, membro da sociedade secreta Albatroz, descrita como “um sindicato que trabalha para o bem coletivo”, uma organização que visa proteger todos os Albas dos riscos que a sua condição acarreta no mundo exterior.

Atormentado pela sua patologia e os danos que derivam da mesma, mostra-se um personagem soturno, imerso em trevas, resguardado do sofrimento num profundo estado de dormência latente, em busca de um propósito na vida.

Existe, porém, um motor que conduz este personagem a debater o propósito da sua amargada existência, da sua condição, os deveres para com a Sociedade Albatroz e os sacrificios de que daí advêm.

A organização não é o que aparenta, nada mais que um jogo de espelhos para criar uma falsa sensação de segurança e, num estilo muito semelhante ao da Máfia, possui diversas faces. Se Tom deseja continuar a usufruir da protecção da sociedade, terá, como qualquer outro Alba, de cumprir certos requisitos, caso contrário sofrerá as consequências.

Nunca estar muito tempo no mesmo lugar para não levantar suspeitas, recrutar novos Albas, evitar que o segredo saia à luz e nunca, acima de tudo, apaixonar-se.

Cansado de fugir do passado e de si mesmo, no meio de uma crise existencial, volta a Londres e retoma o nome de Tom Hazard, nesta vida, professor de História.

Crendo não existir ninguém melhor para ensinar o tema, que alguém que passou pela História, embarca na sua nova vida e profissão, embora temporárias, desconhecendo que ao mexer no passado irá ver-se imerso em momentos dolorosos das suas vidas anteriores que o irão ajudar a confrontar os fantasmas que o perseguem e aventurar-se a viver, sem medo, o presente.

E, tal como basta apenas um instante para se morrer, também basta apenas um instante para se viver.

Ao conhecer Camille, a simpática, atraente e perspicaz professora de Francês, uma ‘efémera’, vê-se confrontado entre cumprir as regras da Sociedade e a oportunidade de ser feliz novamente.

Mas será ele capaz de deixar para trás todos os seus receios e arriscar tudo por amor?



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