“Confissões de uma Suspeita de Assassínio” | James Patterson com Maxine Paetro

“Confissões de uma Suspeita de Assassínio” | James Patterson com Maxine Paetro

Quando for grande quero ser detective

É sabido que James Patterson edita livros como aquela confeitaria às portas de Belém despacha pastéis de nata. Porém, mesmo nas melhores pastelarias há tabuleiros que saem melhores que outros, e não é de admirar que algumas formadas possam apresentar uma queimadura considerável. “Confissões de uma Suspeita de Assassínio” (TopSeller, 2013), livro de Patterson com uma mãozinha de Maxine Paetro, é um desses exemplos de um tabuleiro que passou demasiado tempo no forno.

A história – ou a confissão, se preferirem – é contada por Tandy Angel, uma adolescente de 16 anos, que uma noite é acordada pelo sargento Capricorn Caputo e pelo detective Ryan Hayes, da polícia de Nova Iorque, que dizem terem respondido a um pedido de emergência lançado pelo 112. Quando sobem ao quarto dos pais de Tandy, encontram-nos ambos mortos. Dado não haver sinal de arrombamento, roubo, violência ou entrada forçada, as suspeitas recaem em Tandy, nos seus irmãos e em Samantha – a secretária da mãe -, as pessoas que se encontram na mansão dos Angel.

Tudo no mundo dos Angel é extravagante: os filhos parecem ter sido educados através de Grandes Congos (recompensas) e Grandes Cortes (castigos), que iam de recitar as principais cidades do Butão a fazer o pino a nadar com tubarões-baleia na costa oeste da Austrália; a casa, entre muitas coisas bizarras, tem um tritão em tamanho natural (pendurado pela cauda, preso ao tecto por um anzol ensanguentado), um aquário em forma de mesa de café (com 3000 litros de água e quatro brilhantes tubarões-pigmeu) e o tranquilo Robert, que segura numa mão um comando de TV, na outra uma lata de Budweiser e assiste, 24/24 horas, a uma contínua emissão de estática. Mas o mais estranho de tudo é que os filhos não choram a morte dos pais, nem sequer parecem desfeitos com a tragédia, para além de cada um deles possuir um QI acima da média e aptidões físicas fora do mortal comum.

Tendo como inspiração a quantidade absurda de guias práticos para a investigação de homicídios que leu ao longo da sua curta vida, a ameaça de ficar com o tio como tutor e ser considerada o suspeito número 1 do crime, Tandy decide ser ela a descobrir quem matou os pais, e também, o segredo que alimenta o império dos Angel.

“Confissões de uma Suspeita de Assassínio” comete o pecado de querer ser muita coisa ao mesmo tempo: um thriller familiar, um exercício de introspecção, uma reflexão educacional, uma bela história de amor. É verdade que os ingredientes para uma sobremesa de fazer crescer água na boca estavam lá, mas foi tanta a excitação e o desgoverno que alguém se esqueceu de desligar o forno, daí resultando uma fornada de pastéis torrados. É o que dá ter confiado numa adolescente de 16 anos para ficar a tomar conta.



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