Conflito Estético
Uma abordagem cultural assente no "artivismo".
Criada em 2005 e formalizada dois anos depois, a Conflito Estético – Associação cultural surgiu com o objectivo de “promover o debate e a acção cultural nas áreas da literatura, artes visuais e de palco”. Fundada por Sara Évora Ferreira, J. C. Jerónimo e Carlos Alberto Cavaco, a associação tem crescido e continua empenhada em ser uma “plataforma entre ideias e artistas” e constituir um “pólo criativo no panorama artístico como um impulsionador de energias no circuito da arte contemporânea”.
No final de Maio a associação lançou uma nova campanha – ver vídeo nas galerias associadas – com o intuito de iniciar uma nova etapa que decorre da reestruturação de novos núcleos criativos. A RDB associou-se a esta campanha e ao trabalho da associação e fomos conhecer melhor o que a Conflito Estético propõe através de uma entrevista aos seus “mentores”.
Como surgiu a Conflito Estético e quem a fundou?
Conflito Estético – Associação Cultural (CE – AC): A Conflito Estético surgiu da necessidade imperiosa de contrariar activamente o desencanto partilhado pelos seus fundadores relativamente ao plano sociocultural vigente. O núcleo fundador da Associação é composto por três pessoas ligadas às áreas das ciências sociais e humanas, com experiências anteriores também nas áreas da escrita, do teatro, da dança, da música e da imagem; e que consideram que a crítica sem acção seria um exercício vazio de consequências práticas, pelo que privilegiam a intervenção através da arte. Reunidos em torno da vontade comum de contribuir para a produção de mudanças construtivas na “paisagem” cultural do nosso tempo, decidimos assumir esse compromisso de concretizar objectos e situações artísticas capazes de trazer um acréscimo de sentido partilhável, e que acarrete em essência, para as pessoas e para as comunidades, a possibilidade expressiva e transformacional da arte através de múltiplas vias de estímulo da capacidade de (nos) pensarmos, individual e colectivamente.
Quais são hoje os objectivos da associação? São os mesmos que na sua fundação?
Desde a constituição da Conflito Estético que a urgência em transformar o mundo em que vivemos se tornou uma preocupação séria para um número crescente de pessoas, tanto em Portugal como por esse mundo fora. A actualidade, o “ar” do tempo, todos os dias têm confirmado a pertinência dos nossos objectivos em promover o questionamento do estado das coisas e de abordar o real através de uma nova perspectiva. Provocante principalmente por recusar-se a abdicar da premissa essencial de que a acção transformadora, mobilizante e consciente, quer individual como colectivamente, emerge e se forma a partir do trabalho simbólico do “aparelho de pensar”. Como tal, prosseguimos a arte com sentido, a que inaugura e fomenta espaços de reflexão, de interrogação e de tomada de consciência.
O projecto VOLTE-FACE foi durante muito tempo a “cara” da Associação. Esse projecto está parado? Irá regressar?
O projecto VOLTE-FACE é e tem sido de facto uma das expressões tangíveis dos princípios que norteiam a actividade da Conflito Estético. Após um terceiro ciclo da publicação e performances VOLTE-FACE, que se mantiveram “na estrada” continuadamente ao longo de mais de dois anos, a coordenação do projecto está neste momento a desenvolver e a produzir trabalho para um próximo número da revista, bem como de novos espectáculos que a acompanharão. Ao mesmo tempo, temos respondido a convites para participação em eventos, nacionais e internacionais, através de performances poéticas em que nos temos envolvido e que vamos divulgando.
Existe pouco debate sobre as artes visuais e de palco em Portugal?
Não será tanto uma questão de quantidade, mas sim de qualidade. Durante demasiado tempo as “artes” estiveram divorciadas da situação da realidade comum – a que diz respeito e que nos liga uns aos outros. Não tanto da “vidinha”, bem mais da “vida”. Muitas vezes a expressão artística é usada como “tubo de escape” ou, noutros casos ainda, autêntico “sanitário” evacuativo, compensatório ou exibicionista para o mal-estar ou as fixações pessoais, sem um aparente reconhecimento das interferências, directas ou indirectas, do mundo em redor. As artes visuais e de palco estão muitas vezes direccionadas para uma perspectiva distractiva de pão e circo. E a literatura, nomeadamente, a poesia, também tem sido refém de uma espécie de cerco fechado no qual os seus fiéis correligionários vão sussurrando poemas apenas aos ouvidos uns dos outros. Para nós, ou se assume com a arte o compromisso de resgatar para os indivíduos a sugestão de uma vida de potencialidades maiores ou apenas se faz uso da mesma para regurgitação inútil das borradelas das próprias vidas. Será o grau de exigência do público e dos artistas que o decidirá.
De que forma propõem criar formas de diálogo entre entidades/artistas?
Se formos conseguindo criar essas formas de diálogo entre a nossa própria entidade e os artistas, damo-nos por satisfeitos! E elas passam exactamente pela atitude, ideias, temas e modelos que escolhemos abordar. Já a um nível mais abrangente, obviamente que essa seria uma incumbência para outras instâncias, as tais que nos governam. Achamos, sim, que os elos entre arte e sociedade devem ser mais nutridos e fortificados, e não desagregados, sob formas de fruição artística e cidadã. Esta é uma missão bastante ampla, para a qual apenas procuramos dar o nosso simples contributo, mas que na essência compete a cada um – como artista ou cidadão – intentá-la, horizontal como verticalmente.
Temem que na conjuntura actual cada vez exista menos investimento da cultura nomeadamente nas artes visuais e de palco?
O investimento que verdadeiramente importa para a cultura e para as artes é o daqueles que directamente beneficiam com elas: cabe ao público e aos próprios artistas exigir cada vez mais de si e dos outros, em oposição à banalização e à passividade dos espíritos apáticos, sem sentido crítico ou de responsabilidade própria na prossecução dos seus projectos de vida, sejam eles pessoais ou artísticos/culturais. Até ao momento, temos seguido uma linha verdadeiramente independente de auto-gerirmos a criação, produção e divulgação dos nossos projectos, em redes de colaboração recíproca, e os apoios que vão surgindo prendem-se sobretudo com acordos de partilha e cooperação, mais do que com qualquer tipo de generosidade ou agenda oficial. A conjuntura actual chama novos actores para o palco, mais informados a habilitados a escolher o que querem para si, contrariando um pouco a posição tipicamente submetida dos produtores e/ou consumidores de cultura.
Quais são os vossos actuais projectos?
A Conflito Estético está organizada em torno de seis núcleos de trabalho principais. São eles o núcleo de poesia, responsável pela edição da Revista VOLTE-FACE e das performances que a apresentam publicamente; o núcleo de exposições, que inaugurou recentemente com uma exposição colectiva; o núcleo de dança, que prevê a criação de projectos de dança contemporânea; o núcleo de artes visuais, que integra intervenções em áreas tão diversas como a fotografia, pintura, ilustração, desenho, street-art, instalação, etc; o núcleo de audiovisuais, que prevê a criação e divulgação de projectos nas áreas musicais, sonoplastia, vídeo-arte, vídeo-dança e animação multimédia; e por fim o núcleo de formação, promovido para reunir membros, colaboradores, público e demais interessados em torno de acções formativas sobre os domínios, ferramentas e áreas de trabalho da Associação. Estamos, neste momento, abertos à recepção de propostas nestas áreas, através dos nossos contactos, disponíveis no site.
De que forma as pessoas podem interagir com a Conflito Estético?
Existem várias formas nas quais nos colocamos à disposição das pessoas para reciprocar. Temos predilecção por um certo tipo de dispositivos que ainda não abundam no mercado, tais como o I-Think, I-Touch, I-Care e I-Do…! Entretanto estaremos disponíveis através dos nossos principais canais na internet (web site, facebook, youtube), e para todos aqueles que estejam interessados em aderir à Conflito Estético como associados, estamos à distância de um clique! Basta aceder ao nosso portal (ver link externo) e preencher o formulário de inscrição que temos online no site.
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