Consequências da pandemia na cultura Vegan global
A pandemia da Covid-19 levantou questões das mais variadas naturezas, no plano sanitário, social e económico. A somar a estas questões, esta crise planetária foi campo fértil para reflexões sobre o mundo em que vivemos, a forma como nos relacionamos com o meio ambiente e os nossos hábitos de consumo.
Uma das questões levantadas prende-se com o consumo de produtos de origem animal e as alternativas sustentáveis que o estilo de vida vegano e, em particular, a comida vegana, propõem. Os alertas vermelhos começam logo pelo facto da origem do vírus ter sido identificada num mercado de animais, na cidade de Whuan, na China. Mas as questões são mais profundas.
O que é ser vegano?
Ser vegano é um estilo de vida sustentando por um regime alimentar que exclui todos os produtos de origem animal. Ser vegano não é apenas ter uma dieta de comida vegana porque faz bem ou sabe bem. É uma filosofia e uma forma de ativismo que questiona, por exemplo, os sérios problemas levantados pela indústria agropecuária.
Segundo a ONU, este setor é um dos grandes responsáveis por alguns dos maiores problemas ambientais que o planeta vive, sendo causador de poluição ambiental, esgotamento de recursos naturais e alterações climáticas. Segundo a mesma entidade, a produção de comida animal produz até 70% das emissões de CO2 gerados pela indústria alimentícia. Isto para além da gravíssima questão do sofrimento animal.
Comida vegana como prevenção de pandemias
Elisa Allen, diretora da PETA Reino Unido, escreve um artigo na Euronews intitulado “A melhor forma de prevenir pandemias como o coronavírus? Pare de comer carne e seja vegan”. Nesse texto, relaciona diretamente o consumo de animais com a pandemia provocada pelo coronavírus, defendendo que a comida vegana pode ajudar prevenir epidemias semelhantes no futuro. Allen relembra que o surto de Covid-19 foi identificado como tendo origem num mercado que vendia animais vivos para consumo humano. Para ilustrar o seu ponto, evoca doenças como a gripe suína, gripe aviária e a SARS, que também se espalharam de animais para humanos em contextos semelhantes.
Elisa defende que já é suficiente mau que “o consumo de carne e outros alimentos de origem animal contribua para doenças cardíacas, diabetes e cancro”, problemas aos quais se acrescenta agora uma pandemia desta dimensão.
Convém lembrar que, do ponto de vista da saúde, qualquer produto vegano ajuda a manter os níveis de pressão sanguínea altos e diminuem o risco de doenças. Allen relembra que na maior parte das vezes estes animais são abrigados e transportados em péssimas condições de higiene e em grandes aglomerações – potenciais criadoras de patógeneos.
Aos animais são também dados antibióticos que, ao longo do tempo, transformam esses patógeneos em bactérias resistentes a esses mesmo antibióticos.
O mercado vegano pré-pandemia
Há muito que os consumidores estavam conscientes da importância do consumo vegano. Segundo a consultora Grandview Research, o mercado global da comida vegana foi avaliado em 12.69 bilões de dólares em 2018 e espera-se que cresça a uma taxa anual de 9,6% até 2025. Segundo um relatório da mesma empresa, a crescente consciencialização sobre a saúde animal e a crueldade animal na indústria tem encorajado muitas pessoas a mudar a sua dieta.
Citando a The Vegan Society no mesmo relatório, a consultora afirma que os produtos veganos são googlados três vezes mais do que os glúten-free ou vegetarianos. No Reino Unido, o número de pessoas que se identificam como sendo “vegano” aumentou 350% na última década. Lembremos ainda que empresas como a Avon e a Cover Girl lançaram marcas com conceito vegano e tornaram-se livres de crueldade animal.
Comida vegana: o pós-Covid-19
Se as empresas com conceito vegano já se tinham afirmado no ambiente pré-Covid, todas as questões alavancadas pela pandemia tiveram reflexo neste mercado. Se a isso somarmos questões logísticas, como a emergência dos serviços de entrega, verificamos que este mercado tem tido um crescimento revelador do seu potencial. Durante a pandemia, o restaurante vegano em Lisboa Organi continuou a servir comida vegana, quer no seu espaço físico, quer em regime de entregas.
Um dado importante sobre serviços de entregas vem do Reino Unido, onde a empresa Deliveroo registou um crescimento de 115% dos pedidos de comida vegana. Também em Hong Kong a empresa viu os pedidos de comida vegana crescerem 104% em comparação com o ano anterior. Números que se atribuem à pandemia da Covid-19, atrelados à convicção de que mudar o mundo começa nas ações de cada dia, um dia de cada vez.
Parar de comer carne é um bom começo.
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