contagem decrescente – ken follett

“Contagem Decrescente” de Ken Follett

Luta contra o tempo

Depois de deambular por territórios imbuídos de contornos históricos, sagas e várias derivações do thriller, Ken Follett regressa às raízes com um livro de espionagem cujo enredo nos transporta para os tempos da Guerra Fria.

Editado pela primeira vez em 2000, “Contagem Decrescente” (Presença, 2016) relembra os primeiros tempos da corrida espacial onde Estados Unidos e União Soviética disputavam cada segundo, milímetro, de atenção.

A ação passa-se em 1958, na ressaca da vitória soviética no jogo orbital, e leva-nos a seguir as atribuladas movimentações do cientista Claude Lucas, um dos responsáveis pelas operações espaciais norte-americanas, encarregado do lançamento do Explorer I, o primeiro satélite americano, e que se encontra desaparecido.

Vítima de amnésia, Lucas acorda numa casa de banho de uma estação ferroviária na capital do país do Tio Sam. Desconhece o seu nome, onde mora, e nem sonha que é um dos maiores responsáveis pela eventual glória espacial norte-americana.

Enquanto Lucas tenta recuperar a identidade, a CIA continua a operar em prol do bom nome do país. A conhecida agência, liderada por Anthony Carrol, antigo camarada de Claude Lucas, sente-se confortável pelo desaparecimento deste, e pondera matá-lo caso intervenha no lançamento do Explorer I.

contagem decrescente - ken follett

Não sendo um dos melhores títulos de Follett, “Contagem Decrescente” tem alguns pontos muito positivos, principalmente no que toca à forma de como vamos descobrindo quem é Lucas e como este consegue estar sempre um passo à frente dos seus perseguidores. Numa corrida entre Washington, Alabama e Cape Canaveral, o leitor é convidado a entrar numa perseguição sem tréguas, num período de 48 horas, juntando-se a Elspeth, esposa de Claude, Carrol, Bille e Bern, amigos de longa data do protagonista e atualmente espiões, bem como do terrível Anthony ou de uma sombra de chapéu e gabardina.

Ainda que os primeiros capítulos do livro sejam passados em velocidade de cruzeiro, à medida que a trama evoluiu a dinâmica ganha outros contornos e a ligação entre Lucas e os seus aliados, com ou sem aspas, vão ultrapassando, ou fomentando, obstáculos. Para isso muito contribuem os (bem escolhidos) flashbacks e um dilema bem delineado que faz interrogar sobre quem é amigo ou inimigo.

No entanto, o autor de “Os Pilares da Terra” falha em alguns pontos, nomeadamente na previsibilidade narrativa e num final apressado, assim como no recurso de um romantismo (muito sexual) desconexo que fragiliza o todo, sendo outro dos seus pecados capitais a falta de reviravoltas que fazem as delícias de um bom thriller. Ainda assim, Ken Follett consegue disfarçar estas pechas com uma escrita inteligente que consegue cativar o leitor.



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