Ben_Harper_The_Innocent_Criminals-29

Cool Jazz 2023 | Dias 26, 27 e 29

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Texto por Rosária Rocha e fotografia de Graziela Costa (dia 26).

Última semana.

A noite da quarta-feira 26 de Julho começou, como sempre com o Cascais Jazz Sessions By Smooth FM, no encantador anfiteatro ao ar livre do Jardim Marechal Carmona com atuação dos Mr. Monaco, que se encarregaram de instalar a descontração no ambiente. Entre os comes e bebes, o público vai preenchendo as cadeiras do recinto principal, ao som de Bruno Pernadas e da sua banda. Num estilo experimental, Bruno Pernadas abre para Ben Harper de um modo arrojado saltando entre ritmos – jazz, afrobeat, R&B – adicionando sintetizadores que remetem para os anos 80 e ainda uma voz feminina artificialmente alterada, proporcionando um verdadeiro caos musical.

Às 22h15, como previsto, entra pontualmente em palco o tão esperado cabeça de cartaz da noite, acompanhado pelos The Innocent Criminals. Ben Harper, em jeito de profeta, anuncia um concerto mágico. Em linha, os artistas juntam-se na frente do palco a cantar «Below Sea Level» à capella hipnotizando os presentes e os que ainda iam chegando para assistir ao espetáculo. A performance revelou um artista cuja música flui pela alma e a partilha é tão natural como respirar. Resultado também da cumplicidade com os colegas de palco, com quem criou temas como «Steal My Kisses». Depois de apresentar os elementos da banda e antes de seguir com «Mama’s Trippin’», houve tempo para interagir com o público, para agradecer a Bruno Pernadas e à Blitz, lembrando o prémio Blitz Music Awards 97. Esperava-se que alguns dos temas do último álbum “Wide Open Light” integrassem a setlist. Porém, houve uma predileção por apresentar temas anteriores, com uma surpresa guardada para a despedida.

Antes de «Walk Away» Ben Harper partilha o momento nostálgico que aos 20 anos o inspirou a compor esta música. E no tema seguinte – «Waiting on na Angel» – entre lágrimas e abraços do público atento, os astros decidiram colaborar e pintaram o céu já escuro com uma estrela cadente.

No meio desta harmonia, para além de presentear o público com o seu domínio na lap steel guitar, em alguns momentos com os The Innocent Criminals e noutros a solo, foi dedicada a música «She’s Only Happy In the Sun» aos casais apaixonados e a todos os que se sentem bem na sua própria companhia.

A surpresa da despedida foi a música «Boa Sorte/Good Luck», onde o público foi convidado a cantar a parte de Vanessa da Mata. Ainda que o público não estivesse certo de quando começava a cantar, foi a despedida ideal e mais satisfatória que podia ter dado.

O festival continuou no dia seguinte com Tiago Bettencourt, o único artista português a encabeçar o cartaz desta edição.  

Nos jardins Marechal Carmona ouviu-se Nihuju Trio a iniciar o serão, seguidos de Nena já no palco principal. Muita agradecida pelo convite do Cool Jazz, Nena preparou um concerto com participação de Joana Almeirante, artista do Porto com uma bonita voz, em dois temas. Um deles, uma audaz versão da canção «Landslide» dos anglo-americanos Fleetwood Mac e outro, um original de Joana.  

Já vários artistas mencionaram que compor em português é tarefa árdua e só alguns o fazem com mestria, algo que é passível de se conquistar com o tempo. Nena, sendo uma artista jovem, ainda está a descobrir as ferramentas que destaquem a beleza do nosso idioma. Foi das poucas artistas que não apresentou a banda e fez encore no concerto de abertura, o que não é habitual. Porém, tendo ainda algumas arestas por limar, revela-se uma artista com garra e dedicada a crescer, tendo duas canções que foram do conhecimento do público.

A celebrar 20 anos de carreira, Tiago Bettencourt entrou com um atraso de cerca de 20 minutos devido a questões técnicas e que se notaram ao longo do concerto. Mas a vontade de partilhar esta celebração superou os percalços, tanto que o artista até cedeu a pedidos de músicas que recebera na sua página de Instagram. Trouxe uma setlist com músicas dos vários projetos ao longo destas duas décadas, inclusive temas que compôs quando ainda era vocalista dos Toranja, como «A Carta», canção com vários versos, mas que muita gente sabe de cor e que, como era de esperar, cantaram com o artista. O tema «Laços», do álbum “Segundo” dos Toranja, foi uma das canções tocadas ao piano num momento intimista e intenso, que colocou muitos telemóveis no ar para registar a performance. Temas mais recentes e já do período a solo não puderam faltar como «Morena», o cover da «Canção do Engate» de António Variações e ainda «Se Me Deixasses Ser».

Apesar do atraso inicial, o encore prolongou-se para lá de uma música e também da meia-noite, com um público a manter-se até ao fim, para esta celebração de um dos melhores compositores de música em português, que justificam duas décadas de carreira e que promete muitas mais canções.

Esta edição do Cool Jazz terminou no sábado, dia 29 de Julho, com lotação esgotada para assistir ao concerto de Norah Jones, que fez parte do cartaz deste festival pela quarta vez.

Uma longa fila formou-se à entrada do pórtico, com medidas de segurança mais exigentes em relação aos dias anteriores. Abertas as portas, as filas formaram-se em frente às carrinhas de comida e bebida, o que não impediu que, às 20h, uma plateia bem composta pintasse o anfiteatro do jardim, para assistir a Manuel Oliveira Trio. Um jovem e promissor pianista, muito bem acompanhado pelos seus também talentosos colegas.

A plateia foi-se deslocando aos poucos para o recinto do hipódromo, onde pouco depois tocava João Só, que de “só” tem apenas o nome pois, para além da banda que trouxe, convidou Mónica Teotónio para cantar consigo e mais tarde, a sua irmã Benny, que segundo ele queria muito ir ao Cool Jazz mas já não havia bilhetes. O convite para cantar com ele foi a forma que arranjou de ela ter lugar no serão. João Só tem boas composições, mas a afinação vocal não acompanha a qualidade das suas letras ou, pelo menos, este não foi um dia feliz para a sua voz. Contudo, o dueto com a irmã funcionou bem e seria interessante podermos ouvir mais músicas cantadas por ambos e, quiçá, até se pudesse chamar “João não tão Só”.

É comum em quase todos os concertos, a vontade que o público tem de cantar com os artistas as músicas que lhes são mais queridas. Contudo, as diferentes roupagens que Norah dá aos seus temas, diferente daquilo que ouvimos na rádio ou nos álbuns, nem sempre permitem que o público participe. Ainda assim ouviram-se uns coros tímidos durante as músicas mais conhecidas como «Come Away With Me» e «Don’t Know Why». Não vale a pena falarmos de idades, mas apesar de ser já considerada uma senhora, como referiu João Só ainda no seu concerto por se ter cruzado com ela no backstage, não perdeu o ar juvenil de menininha que transmite através da sua arte. Como uma criança que nem sempre brinca da mesma forma, Norah Jones não canta sempre igual e nem só ao piano. E é precisamente isso que dá beleza a cada uma das suas interpretações. Só foi pena saber que os bilhetes estavam esgotados e ter visto público a sair ao fim de três ou cinco temas, quando ainda havia tanto para apreciar no seu concerto e neste encerrar da 18.ª edição do Cool Jazz.

Terminada esta edição fiquemos atentos aos nomes a serem anunciados para a edição do próximo ano deste festival que nos traz sempre grandes artistas da cena do jazz, e não só, e que é transversal a várias idades e pessoas.



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