CP # 4 – Taxi Driver

Taxi Driver.

No seu “Reino do Dragão de Ouro”, Isabel Allende descreve Nova Iorque como “um conjunto de aldeias”, mas a grande cidade congrega em si aldeias de todas as espécies, pessoas de todas as índoles e nada descreve melhor o submundo nocturno de Nova Iorque como Robert DeNiro em Taxi Driver: “All the animals come out at night – whores, skunk pussies, buggers, queens, fairies, dopers, junkies, sick, venal. Someday a real rain will come and wash all this scum off the streets”.

Um ex-combatente do Vietnam sofre de insónias. E quem já viu Fight Club sabe o que as insónias podem fazer a uma pessoa perturbada. A noite torna-se um martírio, no qual o único objectivo é cansarmo-nos para conseguirmos dormir e, por isso, Travis aceita turnos nocturnos num Táxi e, mesmo assim, “Twelve hours of work and I still can’t sleep. Damn. Days go on and on. They don’t end”.

A solidão vai transformando o homem aparentemente pacato e a cidade, o lixo duma cidade pré Giuliani em que os problemas de droga, prostituição, proxenetismo, crime e tantos outros revoltam alguém que vê de tudo um pouco. Mas a fixação deste homem centra-se numa criança, uma prostituta de 12 anos, protagonizada por uma jovem e hiper talentosa Jodie Foster. O seu declínio, a sua queda torna-se uma obsessão e Travis, o genial Robert DeNiro quer salvá-la.

A sequência final do filme, apesar das suas parcas palavras, é que mais nos atinge. Como uma bomba, DeNiro mostra o desespero, a sensação de vazio e de heroísmo, que este homem acredita ser protagonista. Nunca ninguém esquecerá o dedo ensanguentado fingindo ser uma arma…

Se há filme que define o talento de Martin Scorsese, é este. A fotografia saturada, com cenas maioritariamente nocturnas, atormenta-nos, faz-nos sentir minúsculos, numa cidade enorme. Os longos monólogos de Travis que acompanham a acção são, muitas vezes, acompanhados pela banda sonora discreta de Bernard Herrmann, mas que contribui decisivamente para a atmosfera tensa e violenta que o filem pede.

A brilhante direcção de actores é aqui surpreendente. Robert DeNiro, o perfeito homem perturbado; Jodie Foster, a criança que já viu de tudo e que a todos apetece salvar, uma interpretação paralisante; Cibyll Shepherd, a politica convicta que se deixa seduzir, mas cedo percebe que Travis é um homem perturbado; e Harvey Keitel, o chulo sem escrúpulos, sem culpa. E mesmo a breve aparição de Martin Scorsese, como homem traído que partilha com Travis os seus planos de matar a mulher e o amante negro, é genial.

O filme passeia-se entre o amor e o ódio a uma cidade suja, denunciando as consequências da guerra, sem nunca a mostrar ou abordar directamente, resgatanto toda a urgência dos assuntos da sua época e afastando-se do conceito de mero entretenimento, associado ao cinema. Não, não se trata de lazer, trata-se de sentir tensão durante 113 minutos, uma tensão tão forte, que dá vontade de fugir, mas ao mesmo tempo compreendemos que é essencial ver a cabeça rapada de DeNiro surgir e demonstrar a loucura que se vem adensando ao longo do filme…

Sem dúvida, um clássico! Sem dúvida, parte da cultura pop sem nunca se aligeirar… Sem dúvida um filme que tens de ver! O cinema mudou em 1976 com a dupla DeNiro e Scorsese que nos viria a atormentar, novamente, mais tarde…



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