CP#3 – Nosferatu – Sinfonia do Terror

Nosferatu – Sinfonia do Terror

Antes de mais, permitam-me reapresentar-vos esta rubrica que já vai na sua 3ª edição de Rua de Baixo. A Cinema Paraíso pretende levar-vos até ao paraíso dos filmes que fizeram história no cinema ou que, mesmo não tendo ganho Óscares, mesmo não tendo sido grandes blockbusters, não estão actualmente no cinema, mas merecem que vocês os procurem, merecem fazer parte da busca incessante de um amante de cinema ou mesmo de uma pessoa comum que quer viver as emoções que só o cinema nos causa…

Assim, este mês, decidi ir mesmo quase ao fundo do baú… Entrei na minha máquina do tempo e resgatei Nosferatu, um dos mais antigos filmes de terror e uma obra prima do cinema mudo e do universo iconográfico. Antes de mais, quero dizer que já vi o filme algumas vezes, aliás com 8 anos o meu pai quis que eu comparasse Nosferatu do Murnau, de 1922, com o Drácula do Bela Lugosi de 1931. Claro está que de nada adiantou, serviu apenas para me deixar sem dormir algumas noites, mas ele achava que ver cinema, ver clássicos de cinema era uma parte muito importante da minha educação cultural… Vá-se lá saber…

Anos mais tarde, vi Nosferatu com alguns amigos, rodeamo-nos de pipocas e cobertores numa noite fria de Inverno, seguiu-se uma noite de risota, porque o cinema mudo é difícil de ver. Não estamos habituados ao ritmo, não estamos habituados às legendas sozinhas sem imagens, mas é fundamental não haver adaptações pobres, que tentam dobrar o cinema mudo, porque quebram o seu ritmo, a sua iconografia, os simbolismos com que foi feito.

Assim, já na minha adolescência, surgiu a oportunidade perfeita para ver Nosferatu. A Manuela Azevedo e os seus Clã iriam estar no Fórum de Lisboa a musicar Nosferatu, um concerto único, em que o importante não era o som, mas o filme exibido num ecrã de cinema.

Foi uma experiência maravilhosa! Nos anos 20, as projecções de cinema eram frequentemente acompanhadas por orquestras que acompanhavam o filme e cresciam conforme a intensidade da trama e ali sucedeu o mesmo… Consegui, finalmente, entrar na magia de Nosferatu!

A Sinfonia do Terror, ideia desde sempre, associada a este filme mudo, repleto de toques de inocência nada casuais e que pautam a obra, nunca recorrendo a clichés. Um filme que retrata a chegada do vampiro ao mundo dos humanos e o pânico que estes sentem, quando o conde Orlok decide espalhar o terror. O exagero nas actuações dos actores, a teatralidade e fisicalidade dos mesmos serve apenas para manter o ritmo do cinema sem som, em que tudo é absorvido pela maneira como as personagens se comportam e não através do que elas dizem.

O suspense  é criado de forma fabulosa por Murnau que nos carrega até uma história do fantástico do melhor que já foi feito no cinema de terror.

Aconselho-te, também, a descobrires o universo Murnau e o enorme contributo que este deu ao cinema actual e, depois de o conheceres, procura o filme Shadow of the Vampire, com o eterno sedutor maquiavélico John Malkovich e com Willem Dafoe, que personifica Orlok. Esta é uma perspectiva fantástica sobre o que teria sido a filmagem de Nosferatu, que nos leva até à mente de um realizador, não só brilhante, mas louco, que não olha a meios para atingir os seus fins: a obra de arte perfeita!



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