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Crime e Redenção

Bastava ler o título.

Um criminoso sai da prisão, os anos que esteve dentro deram-lhe serenidade e mataram-lhe a sede de sangue, agora volta para casa pronto a recomeçar a vida honestamente, só para se dar conta que os “amigos” não o vão deixar abandonar o crime assim tão facilmente. Quantas vezes já se viu este filme? “Perseguido pelo Passado”, de Brian De Palma, com um extraordinário Al Pacino, parece ser ainda a obra-prima deste “género”, e “Crime e Redenção”, com alguns desvios, segue-lhe o caminho. (Como se o enredo já não bastasse, o título português de “London Boulevard” soletra-lhe o tema.)

Esta primeira obra de William Monahan, argumentista de “Entre Inimigos”, de Martin Scorsese, não guarda grandes surpresas em relação ao atrás descrito, para além de um desajuste temporal — a acção passa-se no presente, enquanto vários sinais (a música, o guarda-roupa) apontam para os swinging sixties —, de onde não se retira grande coisa, e de um sub-enredo com uma actriz prisioneira da sua popularidade, que nunca liga muito bem com o enredo principal.

“Crime e Redenção”, passe o lugar comum, vive sobretudo dos seus actores (a realização apenas cumpre o papel de transpor o argumento esguio e ao ponto de Monahan; “Crime e Redenção” é, em todos os sentidos, um filme de argumentista): Colin Farrell, num registo menos auto-comiserativo do que tem habituado nos últimos tempos, compõe um protagonista vulnerável e duro, como se lhe pede; Keira Knightley, mais ou menos decorativa, deixa entrever uma imensa tristeza; Ben Chaplin é o “amigo” perfeito, o gangster cobardolas que leva o herói à ruína; Ray Winstone, o chefe mafioso, com uma interpretação cartoonesca, embora menos ameaçador do que é costume, é divertidíssimo; e depois há o soberbo David Thewlis em completo freak-out, não menos divertido.

Escrito isto, fica a ideia de que cada um se encaixa na sua caricatura, que os actores se curvam à tirania de um argumento previsível de um filme a que falta um golpe de asa para se inscrever na digna linhagem dos filmes de gangsters. “Crime e Redenção” não é horrível, é bem feitinho e tem momentos engraçados. Como se costuma dizer, vê-se.



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