Curtas 2012, Mostra de Teatro de Curta Duração

Curtas 2012, Mostra de Teatro de Curta Duração

Curtas na Ribeira

Curtas 2012, Mostra de Teatro de Curta Duração, é organizada pela companhia Primeiros Sintomas. Na primeira semana foram cinco as propostas apresentadas: “Preto e Branco”, de António Mortágua e David Almeida, “O Solene Resgate”, de Ricardo Neves-Neves, “Terroristas #3”, de Carlos Afonso Pereira, “Miss Portugal”, de Anabela Brígida, e “Ex-Simbol”, de Leonor Cabral. Cada peça numa sala diferente, cada peça com uma duração diferente. Todas curtas. Umas mais que as outras.

“Preto e Branco” divide-se em dois momentos. Um primeiro a abrir as festividades, o segundo quase a fechar… discute-se a beleza da partida de xadrez (os intervenientes deixam escapar que eles gostam é de futebol), a beleza do movimento da partida de xadrez. É uma momento sui generis, que acaba por ser pouco memorável, algo a que assistimos (como diriam os jogadores de xadrez) en passant.

Passamos a “O Solene Resgate”. São mais os intervenientes do que os espectadores. Um coro, distribuído por cores, conta-nos a história de uma princesa desaparecida e dos esforços para a reencontrar. O importante nesta peça é a utilização do coro, do todo, para o resultado final. Ricardo Neves-Neves dirige estes cerca de 30 elementos com um rigor matemático, que resulta numa interpretação harmoniosa, seja no texto dito em uníssono seja nos momentos musicais (aliás, fica na memória a canção final). É um exercício de forma muito bem conseguido (o texto, um tanto ou quanto non sense, pouco acrescenta ao espectáculo).

Seguimos para uma sala pequena (diria mesmo pequena demais tendo em conta a quantidade de público). E de um espectáculo a 30 vozes passamos para “Terroristas #3” de Carlos Afonso Pereira, um espectáculo a uma só voz, ou melhor, a um só silêncio. O encenador e intérprete optou por projectar as duas histórias (três se contarmos com a referência à Bíblia). O projecto iniciado em 2008 tem por base histórias de “terrorismo pessoal” como razão para o terrorismo global. A tensão criada pelo silêncio na sala é perturbadora. No final somos questionados: Já magoámos alguém ao ponto de nos poderem chamar terrorista? É uma proposta simples mas muito inteligente que dura 11 minutos e 9 segundos (a imagem final que vemos projectada no corpo do intérprete é 11:09, uma clara alusão ao 11 de Setembro).

Saímos em silêncio e dirigimo-nos para “Miss Portugal” de Anabela Brígida, que nos recebe com um sorriso na penumbra. O texto de André Murraças conta-nos as aventuras e desventuras de uma mulher que sonha com o concurso das Misses. A sua vida é marcada anualmente pelo concurso. Este foi talvez o momento mais teatral desta primeira semana. A encenação (de Anabela Brígida e Joaquim René) é subtil mas eficaz. No início só vemos o sapato da intérprete, que tem uma enorme borboleta, a borboleta que ela certamente quer ser. Pontualmente há disparos de flashes (lançados pela própria actriz) que iluminam poses tradicionais dos desfiles de Misses. Um vestido cor-de-rosa, uma tiara e um pequeno palco de rosas permitem a Anabela Brígida maravilhar-nos durante cerca de 15 minutos. Vai-nos fazendo sorrir e arranca-nos uma ou outra gargalhada. Delicioso e certeiro o momento final em que interpreta um playback de uma canção de uma outra Miss (americana).

Voltamos en passant pelo “Preto e Branco” e abrem-se as portas da rua para vermos “Ex-Simbol” de Leonor Cabral. A intérprete e criadora está num carro, à nossa frente. Quer que seja um momento de libertação, qual “Thelma & Louise”. Alguma imagens interessantes, mas pouco claras que não permitem que se siga a peça com muita atenção. Talvez uma peça demasiado abstracta. De realçar, no entanto, a forma elegante com que Leonor lida com os imprevistos (pessoas que passam, o camião do lixo, carros que querem estacionar no seu lugar).

As Curtas 2012 decorrem até 15 de Julho em Lisboa, na Ribeira, e de 23 a 25 de Agosto em Faro, na Sociedade Recreativa e Artística Farense – Os Artistas.



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