Cyz

Uma das brasileiras mais portuguesas do Brasil vê finalmente editado o seu disco de estreia através da Nylon e a Rua de baixo esteve na apresentação ao vivo.

No passado mês de Abril foi finalmente editado “LittleFishDub LongWaterSamba”, o aguardado registo de estreia de Cynthia Zamorano, uma brasileira de origem, que tem Portugal no coração e que, através da Nylon, conseguiu juntar um leque invejável de pesos pesados da música brasileira e criar um dos mais estimulantes álbuns deste início de ano.

A história musical de Cyz iniciou-se durante os anos dourados do Drum n’ Bass londrino a meio da década de oitenta quando, acompanhada com alguns músicos da sua terra natal no Recife, compôs um tema para uma compilação da editora americana Caipirinha Records, onde misturava a electrónica com os ritmos mais nordestinos. Depois desta primeira participação discográfica, Cyz deu início a uma viagem pela Europa que culminou em Lisboa no ano de 2001, tendo passado por Londres e Madrid onde conheceu João Roquette com quem trabalhou no projecto Precyz.

Foi em Portugal que foi editado o álbum homónimo dos Precyz que depois continuaram a trabalhar para a editora em colaborações com os Loopless e em diversas compilações, sempre com o objectivo de um dia se aventurar numa carreira a sólo, conjungando a frieza da produção europeia com os instrumentos e ritmos brasileiros, criando uma espécie de disco de música contemporânea brasileira.

A oportunidade surgiu mais uma vez através da Nylon e com a ajuda de algumas colaborações interessantes como é o caso de Gilberto Gil, Zeca Baleiro ou DJ Dolores. Assim, foi apresentado ao público português “LittleFishDub LongWaterSamba”.

O disco é uma autêntica celebração da música e dos instrumentos, que assenta numa composição bastante jazzística, mas que passa por diversos ambientes podendo ir desde a bossa nova ao drum n’ bass, utilizando sempre percurssões nordestinas, que dão um toque mais tribal e pessoal aos temas. A voz de Cyz surge muitas vezes como mais um instrumento, criando uma sonoridade bastante especial e conseguindo tornar o registo ainda mais alegre e criativo. As participações encaixam como uma luva, principalmente a do ministro cantor Gilberto Gil em “Eu tenho pena”, um dos momentos altos do disco.

Se em disco a música já é uma celebração e uma verdadeira “sopa” de culturas e instrumentos em palco, a imensa alegria de Cyz e a energia contagiante dos músicos até consegue levantar os mortos. Exemplo disso mesmo foi a actuação de Cyz no passado mês de Abril no Musicais em Lisboa onde aproveitou para apresentar a todos os presentes os temas que compõem o disco.

Apesar de começar com uma hora e qualquer coisa de atraso, mas com uma sala completamente cheia, Cyz fez questão de presentear todos os presentes com uma salada mista de sons que vão ainda mais além daquilo que podemos ouvir no disco. Vestida de boneca e com um sorriso de todo o tamanho que evidencia o bom momento pelo qual está a passar, Cyz tem uma presença muito forte em palco e conta com a preciosa ajuda dos excelentes músicos que a acompanham. Juntos, transportam o público numa viagem por ritmos e sonoriedades, que começa no drum n’ bass urbano, passa pela kizomba africana e termina no forró e bossa nova brasileiros.

Numa noite onde Cyz teve o mérito de não ter deixado ninguém indiferente, mesmo aqueles que não sabiam ao que vinham, ainda foi possível assistir à colaboração de Melo D e Kalaf que contribuiram para festa e simbolizaram a ligação que Cynthia tem com o nosso país, uma ligação de grande afecto e amizade que está agora materializada neste disco.

Não sei se podemos considerar este disco como uma “edição nacional” porque na realidade Cyz é brasileira, mas a verdade é que sentimos que este disco representa aquilo que Portugal está a necessitar a nível musical. Por isso, espera-se que este seja mais um passo para o levantar do espírito nacional que tem estado demasiadas vezes em baixo.



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