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Damien Jurado + Sean Riley @ Musicbox – JUR S01 (23.10.2018)

Não houve encore. E não era preciso. É que tudo foi dito da forma certa, no momento certo e com a duração certa.

À hora marcada o Musicbox está às moscas. É que às 21h30 o Benfica ainda está a jogar contra o Ajax em Amesterdão. No palco, Afonso Rodrigues última os derradeiros pormenores nas várias guitarras que por ali se encontram. Ao fundo há um amplificador e uma bandeira da República da Califórnia. Paulo Furtado está por ali, o que não é de estranhar, visto que assinou a produção de “California”, a estreia a solo de Sean Riley, gravada durante uma viagem pelos Estados Unidos da América.

A primeira sessão do Jameson Urban Routes 2018, S01, está prestes a ter início e logo para ouvir as canções de Sean Riley, ao vivo e em primeira mão. O denominador comum é a América, mesmo que exista um oceano (literalmente) a separar Rodrigues de Jurado. A canção americana é força motriz para ambos e a guitarra essencial. As canções de Sean Riley respiram por si próprias e é fácil enamorar-mo-nos com canções como «Every Star», logo a abrir, «L.A.» ou «Times», já perto do fim. “California” pode e deve ser descoberto porque é uma viagem que vale bem a pena.

Nos entretantos a casa encheu. No palco estão duas cadeiras, lado a lado, voltadas para o público e com uma guitarra acústica sobre a respectiva caixa, ao lado de cada uma ds cadeiras. Josh Gordon, o guitarrista que acompanha Jurado em palco, afina as guitarras com dedicação e testa o som dos microfones.

São quase 22h30 quando começa. Faz-se silêncio no Musicbox e isso sabe tão bem. Damien Jurado toma o seu lugar na cadeira do lado direito do palco e sem grandes demoras lança-se a «Ohio», do álbum “Rehearslas From Departure”. A delicadeza dos arranjos, nestas versões, todas elas mais despidas, saltam desde logo à vista. Entre canções há sempre um compasso de espera para se afinar a guitarra (não há roadies nem 4 ou 5 guitarras diferentes afinadas para canções específicas aqui); há que garantir que está tudo perfeito antes de se avançar para a canção seguinte. O pretexto da visita de Damien Jurado, surge à segunda canção. «Allocate» é a primeira canção retirada de “The Horizon Just Laughed” e tão bem que soa… “Once I was lost and I never came back / I can only exist long as you laugh”. Algumas das canções de “The Horizon Just Laughed” têm a particularidade de recorrerem a nomes próprios para os títulos, como «Dear Thomas Wolfe», «Percy Faith» e «Cindy Lee», tocadas nesta sequência e com uma simplicidade desarmante.

«1973» e «Saturday» podem ser de álbuns diferentes (“The Horizon Just Laughed” e “Rehearslas From Departure” respectivamente) mas em comum apresentam a riqueza dos adornos que Josh Gordon lhes imprime. São execuções sublimes de canções magníficas. Pelo meio há tempo de Jurado perguntar se tinham ganho o jogo e, perante a resposta negativa escuta-se um “Sorry about that…”, sempre com boa disposição.

O silêncio impera, apenas interrompido para aplausos entre canções. Do álbum “Saint Bartlett”, de 2010, surge o diálogo entre «Rachel & Cali». “Rachel, I am sorry to call but I can’t sleep at all / The closet’s unfamiliar, your parents soon to be home / Cali there’s a way you’ll be calm, my closet door has a lock / I’ll keep my window open so you can get in”.

Na a recta final, Jurado, apenas com um foco de luz branca sobre si se joga a uma interpretação de «The Novelist» de Richard Swift, com os braços cruzados sobre as pernas e de olhos fechados. Mais do que uma bela canção, foi evidente a saudade e tristeza com que aquelas palavras foram cantadas. “I am New York / Tired and weak / Tried to write a book each time I speak”. Swift e Jurado tinham uma relação muito próxima e a morte de Swift, em Julho deste ano foi um duro golpe, que certamente se fará sentir nas próximas canções de Damien Jurado. Depois foi necessário um breve momento para deixar passar aquele arrepio na espinha…

A última passagem de Damien Jurado pelo nosso país e, curiosamente, pela mesma sala, tinha sido para promover “Visions of Us on the Land”, de 2016. Foi ao som, primeiro de «A.M. AM» e depois de «Exit 353» que nos despedimos de Damien Jurado. “I was a line / Here on rewind / Living out the voices in my mind”. Não houve encore. E não era preciso. É que tudo foi dito da forma certa, no momento certo e com a duração certa.

Volta sempre.



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