Dança Contemporânea Portuguesa
Conheça um pouco da história da dança contemporânea no nosso país.
Desde o fim dos anos oitenta, a dança contemporânea tem-se desenvolvido em Portugal de uma forma inesperada, criando, em apenas dez anos, um panorama artístico de rara diversidade e de reconhecida qualidade. Esta dança desenvolveu-se, desde o início, num contexto internacional, e cedo se tornou numa arte efervescente que conseguiu entusiasmar um público cada vez maior em Portugal, assim como os públicos de vários teatros e festivais no estrangeiro.
No panorama da dança portuguesa assiste-se, nos finais dos anos oitenta, à emergência de uma nova vaga de criadores relativamente produtivos dentro do que a fragilidade e orientações estético-ideológicas das estruturas de formação, produção e criação permitiam. As preocupações e intenções sociais e artísticas do seu trabalho eram, de algum modo, afins às do movimento da Nova Dança Francesa, Belga, Holandesa ou Inglesa que, nos finais dos anos setenta, começara já a adquirir visibilidade. E apesar de estes portugueses (todos residentes em Lisboa) não terem um estilo comum (antes prevalecendo a singularidade das suas propostas, como procuraremos evidenciar neste volume), podemos encontrar alguns pontos de contacto que os identificavam como um grupo. Eles preconizavam uma nova atitude face ao corpo e à dança, que se traduzia no interesse por várias actividades motoras (como as quotidianas) e no uso de diversas técnicas de treino físico consideradas mais adequadas à sua expressão coreográfica do que a dança clássica ou a dança moderna (se bem que estas pudessem continuar a ser usadas por alguns, só que com diferentes propósitos); recombinavam de várias formas a dança com o texto, com a narrativa, com elementos das outras artes performativas e com as artes plásticas; e adoptavam uma atitude céptica face ao funcionamento das companhias de dança institucionais, nomeadamente a Companhia Nacional de Bailado e o Ballet Gulbenkian.
Todos aqueles coreógrafos trabalharam fora das instituições pré-existentes, fosse a Companhia Nacional de Bailado (sob a tutela do Estado), fosse o Ballet Gulbenkian (organismo da Fundação Calouste Gulbenkian), procurando encontrar espaços de ensaio e de apresentação de espectáculos alternativos. Contudo, o Ballet Gulbenkian, onde alguns deles já tinham dançado e apresentado trabalhos nos estúdios coreográficos, veio a acolhê-los, posteriormente, nos seus programas oficiais.
É, muito particularmente, o caso de Olga Roriz.
Cristina Peres fala do trabalho de Olga Roriz centrando a sua análise nos trabalhos que a coreógrafa constrói quando sai do Ballet Gulbenkian e constitui uma companhia de autor. Esta mudança de rumo foi marcada por uma alteração dos seus interesses temáticos e metodologias de trabalho. Actualmente, as peças de Roriz, construídas a partir de processos de improvisação com os seus intérpretes, são perpassadas de elementos de teatralidade que não se encontravam na linguagem mais formal dos seus trabalhos anteriores.
Olga Roriz é a criadora de dança contemporânea portuguesa com um percurso mais longo, variado e abrangente. Numa época em que a dança era, em termos práticos, quase exclusivamente apresentada e desenvolvida no Ballet Gulbenkian, companhia que integrou, sob a direcção artística de Jorge Salavisa, entre 1976 e 1992, Olga Roriz teve a rara oportunidade, neste contexto, de desenvolver as suas potencialidades criativas como coreógrafa convidada. Criou mais de vinte peças, algumas das quais representaram marcos na história da companhia – como «Três Canções de Nina Hagen» (1985), «Terra do Norte» e «Espaço Vazio» (1986), «Treze Gestos de um Corpo» (1987) e «Isolda» (1990) – e, já mais próximo da sua saída, desenvolveu um projecto de seis solos por si interpretados que foram apresentados em festivais nacionais e internacionais. Paralelamente, foi sempre trabalhando em numerosos projectos de teatro e ópera, para os quais criou coreografias para bailarinos e fez direcção de movimento dos actores.
Este texto foi baseado numa das poucas obras que afloram o tema da Dança Contemporânea em Portugal:
Movimentos Presentes – Aspectos da Dança Independente em Portugal
(ed. Maria José Fazenda), Danças na Cidade/Livros Cotovia, Lisboa, 1997
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