Dark Was The Night
Um disco que marca uma era e que contribui para uma das causas mais importantes do século XXI. A luta contra a SIDA.
Editado a 17 de Fevereiro, “Dark Was The Night” é o mais recente disco da colecção “Red Hot” e, tal como todos os seus antecessores, tem como objectivo angariar receitas para ajudar na luta contra o HIV. Para além desta nobre causa, este disco, que contou com a produção dos irmãos Dessner dos The National, apresenta-se como uma das colectâneas mais bem conseguidas dos últimos anos, juntando um grande número de artistas indie em dois CD’s (3 vinis) de tremendo bom gosto.
A organização Red Hot tem-se dedicado à luta contra a SIDA desde a sua fundação em 1989, tendo como principal veículo a cultura popular e o apoio de centenas de artistas. Durante este período foram produzidos 14 discos, programas de televisão e eventos que originaram perto de 7 milhões de dólares, posteriormente repartidos por centenas de organizações. Todas as receitas da venda dos produtos Red Hot permanecem no país onde foi efectuada a compra. Assim, em Portugal, quem comprar um produto com selo Red Hot está a doar dinheiro à Liga Portuguesa contra a SIDA.
O segredo do sucesso desta organização está relacionado com a confiança que a mesma tem ganho junto dos artistas. Através dos projectos editados, a organização tem quebrado a barreira entre o entretenimento e a recolha de fundos. Ao contribuir para a luta contra a SIDA, recebemos em troca uma obra de arte.
Nos 14 discos produzidos, a organização tem passado por praticamente todos os estilos musicais. Provavelmente, o disco mais conhecido desta colecção é “Red Hot + Rio”, onde se podem encontrar incríveis colaborações. A clássica e lindíssima composição de António Carlos Jobim, «Águas de Março», interpretada por Marisa Monte e David Byrne ou a união improvável de Cesária Évora, Caetano Veloso e Ryuichi Sakamoto em «É Preciso Perdoar», são apenas dois exemplos da diversidade deste disco. Já se encontra em fase final de produção o sucessor, “Red Hot + Rio 2” que irá incidir no período pós-tropicalismo e no cruzamento do Samba com o R&B norte-americano.
Era possível estarmos aqui a efectuar uma passagem por cada um dos discos desta colecção mas vamos deixar essa descoberta para vocês e abordar o mais recente lançamento, “Dark Was The Night”.
Em 1993, no pico da era do grunge, com o objectivo de chegar mais perto da juventude mundial, a Red Hot lançou “No Alternative”, uma compilação que contou com participações de bandas como os The Smashing Pumpkins, Sonic Youth e Nirvana (cujo tema «Verse Chorus Verse» não pôde surgir na contracapa do disco devido a restrições impostas pela sua editora). Dezasseis anos depois, “Dark Was The Night” procura atingir os mesmos objectivos que a colectânea de 93, mas desta vez é a denominada música indie que está em destaque, com alguns dos seus maiores protagonistas a representá-la.
“Dark Was The Night” demorou cerca de três anos a ser construída e nasceu devido à relação de amizade entre Aaron Dessner e John Carlin, fundador da organização Red Hot. Muito antes do reconhecimento dos The National, Aaron trabalhava em Nova Iorque no estúdio de design de John Carlin, que sempre foi cúmplice das suas ausências, entendendo as motivações artísticas e objectivos de carreira. Esta compilação surge também como forma de agradecimento à excelente relação mantida entre os dois desde esses tempos.
Em entrevista ao site australiano The Vine, Bryce Dessner falou sobre este trabalho, principalmente sobre as bandas/projectos escolhidos no seu alinhamento. “Começámos por convidar os nossos amigos que nos passaram os seus contactos. Por exemplo, os Arcade Fire ajudaram-nos a contactar Blonde Readhead. Fomos alargando a teia de contactos até termos um conjunto de artistas que achávamos ser o ideal”, disse Bryce Dessner.
Embora tenham ficado bastante contentes com todas as participações, que contribuíram com temas exclusivos para a compilação (não foi aceite um tema de Thom Yorke porque já tinha sido previamente editado), ficaram de fora alguns nomes importantes, como disse Bryce Dessner na mesma entrevista: “Gostaríamos de ter contado com os Animal Collective, uma banda que respeitamos muito mas foi impossível. Convidámos também os LCD Soundsystem mas a vontade de James Murphy não foi superior ao cansaço. Tentámos também ter um tema dos Radiohead mas não obtivemos resposta por parte dos seus agentes”.
O disco, com selo da 4AD, conta com participações de artistas como Beirut, Arcade Fire, The National, Feist, Bon Iver, Young La Tengo, Antony, The Books, José Gonzaléz, Cat Power, Andrew Bird, Iron & Wine, Sufjan Stevens, David Byrne e Dirty Projectors. Esta compilação serve também para marcar os anos dourados da música indie que, num mercado completamente saturado onde as vendas são cada vez menores, consegue salientar-se e crescer. Uma obra altamente recomendável e que contribui para uma excelente causa.
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cheio de perólas este disco.
os videos disponibilizados por aí, da direcção do Moon fazem-nos sentir em casa com estes músicos todos.
vale a pena fazer uma busca p'lo dos Dirty Projectors.
Yo la tengo sff