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David Byrne

28 de Abril @ Coliseu

Numa altura em que se vive em pleno revivalismo dos anos 80, faz todo o sentido receber mais uma (nunca são demais, diga-se) visita de David Byrne ao nosso país. Não só porque ele é the real deal, mas especialmente porque o ex-líder dos Talking Heads é o apanhado do melhor que os anos 80 tiveram, filtrando tudo o que é fogo de vista. Por exemplo, em David Byrne não há vestígios de casacos com enchumaços nos ombros ou outros acessórios de moda de gosto duvidoso; ou então permanentes e poupas a desafiar a lei da gravidade, típicos de uma década em que a noção de ridículo esteve adormecida. Aliás, tanto David Byrne como os seus músicos apresentaram-se impecavelmente vestidos e penteados, todos de farpela branca bem alinhada.

Este regresso de David Byrne ao Coliseu dos Recreios serviu não só para promover o último álbum de originais do músico em parceria com Brian Eno, “Everything That Happens Will Happen Today”, como para fazer toda uma retrospectiva da  colaboração posterior entre os dois (que deve sempre ser saudada, realce-se). Por isso, o alinhamento do concerto foi quase um David Byrne revisitado, passando pela obra-prima dos dois, “My Life in The Bush of Ghosts”, pela colaboração inicial ainda durante os Talking Heads e até em outras mais ou menos indirectas, como a banda-sonora de “Songs from The Catherine Wheel”, espectáculo de Twyla Tharp.

O alinhamento da actuação permitiu assim revelar todas as facetas de Byrne: a de rei do synth-pop, capaz de convencer até quem não gosta de synth-pop; a de criador de grandes canções pop, aliadas à sua voz cristalina («Once in a Lifetime» foi um dos momentos altos, mesmo com arranjos ligeriamente diferentes); a de explorador dos sons africanos, fazendo de Cupido ente o funk norte-americano e o afrobeat africano («I Zimbra», por exemplo); ou a de pioneiro musical, aqui utilizando a sua própria voz para substituir os samples usados pela primeira vez em «Help Me Somebody». No entanto, o toque de Midas da actuação foi a presença de três dançarinos que, logo à segunda música, introduziram a dança contemporânea no conceito de espectáculo musical, criando coreografias diferentes para cada tema, interagindo com os próprios músicos e atrevendo-se, inclusive, a tocarem guitarra ou a colaborarem nos coros. Foi a faceta arty de Byrne a vir ao de cima, aquela que o tem levado a caminhos artísticos mais pluridisciplinares.

David Byrne tem a perfeita noção do que é entretenimento e, por isso, o concerto no Coliseu foi uma experiência verdadeiramente única. E a prova da satisfação do público, que encheu as filas da frente e esqueceu-se que haviam cadeiras na sala, foram as ovações gigantescas que obrigaram a banda a regressar para quatro(!) encores. E foi no terceiro que surgiu «Burning down the house», com a banda de tutu, como que saídos de uma aula de ballet e o volume no máximo, para o clássico maior dos Talking Heads.



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