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David Fonseca @ Coliseu dos Recreios

Cantando Palavras de Alegria. 9 de Abril de 2010.

Tendo em conta que, uma noite antes, Manel Cruz encheu a Aula Magna e David Fonseca quase voltou a esgotar o Coliseu, dá para concluir que a música portuguesa vai bem, obrigado. David Fonseca é um acontecimento, um fenómeno do povo. É dos poucos de cá que se pode dar ao luxo de esgotar o Coliseu mais que uma vez – em 2008 encheu a sala, desta vez andou lá perto.

Escassos minutos antes de se abrirem as cortinas, ouve-se «I Want To Break Free». Confunde-se com os muitos êxitos dos anos 80 que iam passando, confunde-se com entretenimento pré-concerto. Mas, no fim da canção, ouvimos o protagonista da noite cantar a parte final do êxito dos Queen, enfiado numa cabine telefónica – coisa tão british – que está no palco. Lá no alto estão vários ecrãs com inscrições coloridas como “Motel”, “Hot Shot”, “Open”. Começava o espectáculo.

Nota-se desde o início que há uma enorme vontade em fazer desta noite mais uma noite de glória. O concerto está ganho à partida, mas não é por isso que David entra no campo do desleixo.

O primeiro êxito da noite é «Cry 4 Love» que, a par de «Stop 4 a Minute», é coisa muito Kinksiana. Seguem-se «Kiss Me, Oh Kiss Me» e «Someone That Cannot Love», outros momentos de grande celebração que foram intervalados por covers de gosto duvidoso como «Time After Time» de Cindy Lauper. Entretanto já os Mariachi – que em 2008 tinham estado nesta mesma sala – aparecem num dos topos do Coliseu, os quatro com instrumentos de sopro. Por vezes dá a ideia de que David está a fazer a mesma canção uma e outra vez, mas os truques – mesmo que repetidos – vão aparecendo constantemente para nos resgatar do aborrecimento. Entre a toada pós-punk e new wave, surge «Gelado de Verão», canção incluída no disco d’Os Humanos – o álbum de 2004 com canções escritas por António Variações e interpretadas por Manuela Azevedo, Camané e pelo próprio David Fonseca.

A certa altura dá a ideia que vai cantar «Borrow», o estrondoso êxito de 1998, que colocou os Silence 4 (e David Fonseca) no mapa. Não há «Borrow», há «Fire Water Burn» dos Bloodhound Gang. Já «There’s Nothing Wrong With Us» com os seus teclados azeiteiros é de uma banalidade dispensável.

Já ouvimos estas canções em qualquer lado, é uma inevitabilidade. «Superstars II» surge na sequência de um conjunto de divagações proposto por David. É daquelas canções que propõem um Verão eterno. Antes da memorável «The 80’s», Rita Red Shoes sobe ao palco, para dois duetos que nada acrescentaram ao concerto e dá lugar a mais uma cover de Cindy Lauper, «Girls Just Wanna Have Fun». O ex-Silence 4 faz de cada um concerto um desfilar de êxitos, sejam ou não dele.

Em encore surge de harmónica e relembra os tempos de Silence 4 com «Angel Song». Mais à frente na última canção, surgem nos painéis a inscrição “Closed”. Sim, o espectáculo aproxima-se do seu final. Mas não sem um segundo encore. Sirenes, bolas de espelho, um Coliseu que é transformado em discoteca durante dez minutos. O mestre-de-cerimónias surge lá no alto e atira um “Lisboa I’m Your DJ!”. Os coros típicos deste tipo de celebração e a pirotecnia entretiveram o público até ao fim. David Fonseca não é um músico de excepção, em disco não consegue ultrapassar uma agradável razoabilidade, mas ao vivo é memorável. Assim foi o concerto do Coliseu: para mais tarde recordar.



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