DD Peartree no país dos sonhos
Dieter Pereira, ou DD Peartree, é uma das recentes amostras da música nacional. Com um tema incluído na compilação “Novos Talentos Fnac 2010”, é tempo agora de prestar atenção a um jovem cuja companheira é a sua viola. Ah, e Rod Stewart, Bob Dylan e Tom Petty num ménage à quatre.
Vamos directos ao assunto, que em assuntos sérios não gostamos de rodeios. Microfone a Dieter Pereira e “o tempo de antena é teu”. “- Acho que é um álbum de pop e folk, com muitas melodias orelhudas e bons refrões. Um álbum com muitas melodias, sim”. E fim de descrição. Falamos de “Twists and Turns”, primeiro álbum de originais de Dieter Pereira – ou de DD Peartree, o alter ego musical fabricado numa cabana perdida num bosque algures na Noruega (sim, sabemos que “Peartree” é “pereira” em inglês e “DD” deve ser um dimunitivo carinhoso de uma namorada e que tudo é um conto de fadas num país frio lá longe mas não apressem a história, por favor).
Dieter Pereira podia ser um homem como outro qualquer – podia ter um emprego de oito horas diárias, conseguir um salário razoável ao fim do mês, ter uma vida com poucos sobressaltos e sem chatices. Podia, mas não tem. Dieter percebeu cedo que a música era parte intrínseca da sua felicidade – e pronto, lá se foi o emprego de oito horas, lá se foi o salário razoável, chegaram os sobressaltos e as chatices. A maior delas é a edição do seu álbum de estreia. “O trabalho está completo (gravação incluída). Agora só falta quem o queira editar.” Estranhamos, mas ele repete. “Estou desejoso por vê-lo cá fora mas este é um momento difícil em termos da economia e a música sofre com esse panorama. Mas espero editá-lo até ao final do ano”. Até porque a parte mais difícil, segundo o músico, está feita, a gravação, “foram dois anos a planear tudo isto, muita gente envolvida, muito investimento e é frustrante saber que ainda não está disponível em edição física”, confidencia. E a edição de autor, apesar de não estar esquecida, parece não ser a prioridade. Mas gostava que uma editora se interessasse pelo seu trabalho.
Novos Talentos Fnac
A comunicação telefónica faz-se numa tarde de muito calor, entre Braga (quase 40 graus…) e a ilha da Madeira (Dieter vive em Lisboa mas está agora na Madeira, a poucos dias de um showcase na Fnac e com 26 graus). A conversa resvala para o tempo quente de Portugal Continental, por estes dias, e o tempo húmido que se faz sentir quase sempre na ilha. Dieter não disfarça o sotaque “insular” quando fala. “Residi na Madeira vários anos”, desvenda, e foi na Madeira que começou a dar concertos mais a sério, destacando a Expo Madeira como um dos pontos importantes a focar – e ainda quando a sua música quase não era conhecida. Mas tudo mudou com um tema musical numa mera compilação. “A compilação Novos Talentos Fnac 2010 foi importante para dar a conhecer a minha música, é uma alavanca importante para os novos nomes. Já conhecia a iniciativa e foi um orgulho ser contactado pelo Henrique Amaro (director artístico), que já tinha ouvido o meu disco. Pediu-me para seleccionar um dos temas, eu acabei por escolher esse (“The Love I Used To Love”). E tem tido uma boa recepção, tenho tido bons comentários e pessoas interessadas em me ver”, conta Dieter Pereira. Uma alavanca que tarda a trazer o fruto pretendido, a edição do seu álbum.
De Stewart a Dylan
“Twists and Turns”, o trabalho de DD Peartree, é um conjunto de vários temas que divaga por diferentes tonalidades e ambientes musicais. “Tens ali expresso um pouco do meu percurso ao longo dos últimos três anos. Tem um cariz muito acústico e, no fundo, o projecto vive disso, de uma voz e viola”, sintetiza. Mas há ainda instrumentos musicais mais tradicionais como “o acordeão e a harmónica, orquestração em formato muito acústico. Não é minimalista, mas tem pouca tecnologia”, continua Dieter. O passo seguinte, óbvio, são as influências. Será ele um Bob Dylan dos tempos modernos? Ou um Johnny Cash menos desencantado com a vida? “Vou beber a muitos lados. Sou um consumidor de música e um adepto de muitos géneros. Influências… Talvez o Rod Stewart do início, dos primeiros álbuns dos anos 70, os Waterboys da década de 80 e muita música de estrada, coisas com ritmo muito Dylan”, avalia.
Mas Neil Young, apesar de não estar presente, está sempre presente. “Uma das mais importantes acaba por não passar, que é o Neil Young, que admiro muito. Mas não é um artista que reveja muito nas minhas composições”. Há outros. “O ‘Mike’ Scott, dos Waterboys, o Tom Petty, há muitos…”.
Dieter e Portugal
Dieter Pereira é um luso irlandês com um nome russo (Dieter), nascido em Londres. Passou a infância entre os vales verdejantes da Irlanda e as paisagens exóticas da Madeira. Pelo meio, residiu na Noruega e foi aí, numa casinha perdida meio de um bosque encantado, que nasceu o alter ego, DD Peartree. Que, no fundo, não tem nada que enganar. “Peartree’ é ‘Pereira’ em inglês, ‘DD’ são as iniciais do meu nome, ‘Dieter Daniel’”, tão simples como parece, tão verdadeiro como o algodão-Sonasol – que nunca engana.
Com um álbum pronto, “tem 13 faixas mas ando a ouvir o álbum e quando o editar vou apenas colocar dez”, uma vontade enorme de vingar no meio musical português e com a confiança de ser “raptado” por uma editora, DD Peartree é um projecto a que prestamos atenção nos dias que correm. Em jeito de provocação, terminamos a conversa falando da Irlanda. “Não seria um país mais favorável para a edição do teu trabalho, já que esse é um país muito ligado à tradição folk pop?”. Dieter faz uma pausa e contrapõe. “Sim, num mercado maior seria mais fácil editar, mas nem sempre o caminho mais fácil e óbvio é o mais indicado”. KO. “Eu gosto muito de estar em Portugal. Sinto-me criativo cá e gosto de escrever cá”. KO (ao quadrado). “Espero que o disco chegue a todo o lado, a começar pelo país”. Ainda acham que DD Peartree é luso irlandês? Esqueçam o irlandês, DD Peartree é um cidadão do mundo radicado em Portugal (e o país só tem a agradecer). KO.
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