deCastro
Portugal à mesa num ambiente encantador
Se procura um restaurante de autor em Lisboa que seja familiar e que sirva comida portuguesa genuína, não vá mais longe: entre no número 1 da Rua Marcos Portugal, junto à verdejante Praça das Flores, relaxe e desfrute de uma refeição memorável. Descubra o deCastro, um projecto com assinatura do chef Miguel Castro e Silva, em que a arte de bem petiscar e o espaço acolhedor são a chave para sucesso.
Aberto há pouco mais de um ano, o conceito do deCastro surgiu em meados de 2006, ainda no Porto. «Por um lado sentia saudades de voltar a uma cozinha mais informal, como a que fazia no início. Com o passar do tempo, a minha cozinha foi evoluindo, com pratos mais sofisticados e ementas complexas, mas nunca deixei de apreciar o convívio mais informal. Por outro, achei que a cozinha portuguesa é tão rica que não fazia sentido ir buscar conceitos lá fora. Assim, recuperei o petisco, a nossa forma de partilha à mesa», conta-nos em entrevista o chef portuense. Embora não recuse outras influências, que considera serem importantes, no deCastro o foco é Portugal e essa característica está perfeitamente espelhada na carta, que percorre o país de norte a sul.
A diversidade e a riqueza da nossa cozinha são o segredo para criar pratos bem ao jeito português: «Vou buscar inspiração em todas as regiões de Portugal. Em boa parte, pratos de memória das deambulações pelo país. Os ingredientes assumem um papel determinante na minha cozinha e é frequente procurá-los nos mais diversos pontos do país», explica-nos Castro e Silva. Contudo, existe uma característica no seu estilo que confere maior personalidade às suas criações: «Diria que o que apresento é a nossa cozinha com um toque de modernidade – pensar numa cozinha de ‘terroir’, adaptada aos dias de hoje. Uma cozinha rica e equilibrada. A apresentação é uma consequência disso, embora mantenha um q.b. de simplicidade», assegura.
Envolvidos pelo ambiente descontraído e confortável, foi-nos sugerido o Menu para 2 (42€, com couvert incluído), uma opção que contempla cinco entradas e um prato principal, perfeita para dividir. O primeiro petisco frio a chegar-nos à mesa foi o bacalhau fumado com vinagreta de tomate seco, uma autêntica delícia que faz as honras da refeição com o seu sabor levemente picante em contraposição com a acidez da vinagreta.
Depois, seguiu-se a salada fria de peixe com batata e maionese que tem um cariz mais suave, em que a cremosidade da maionese liga perfeitamente todos os ingredientes. O sabor fresco remete-nos para os dias quentes de Verão em que tudo o que queremos é uma salada leve e deliciosa.
Para introduzir os pratos quentes, chegaram os peixinhos da horta, «um clássico lisboeta» como o chef confirma. Apresentadas em forma de xadrez, as tiras de feijão-verde envolvidas numa massa leve estavam divinais, sendo que a maionese aromatizada com limão e alho mostrou ser o par ideal para este petisco.
A seguir, vieram as iscas do cachaço de bacalhau que, segundo Castro e Silva, «têm origem no Porto e que, ao contrário das pataniscas, usa-se um ‘naco’ de bacalhau envolvido num polme». Destaque para a leveza e suculência do bacalhau, que se lasca sem qualquer dificuldade.
Para encerrar o ciclo de petiscos, chegaram num tachinho fumegante as ervilhas com ovo escalfado, um ex libris da cozinha portuguesa que nos faz recordar a infância. Este prato é um verdadeiro elogio à gastronomia nacional, em que, tanto as ervilhas como o ovo, estavam cozinhados na perfeição, com o sabor intenso dos enchidos a evidenciar-se no molho bem apurado.
Por fim, o tão aguardado prato principal: costela mendinha com arroz de forno, uma receita minhota que figura na carta desde a abertura do restaurante. Optámos por fazer uma alteração face à proposta do menu, que sugere pernil de borrego com ensopado de grão e cogumelos do campo, e não nos arrependemos por tal substituição. Estes pedaços de carne de vitela cozinhados durante várias horas são ultra tenros, tão macios ao ponto de se desfazerem na boca. Este ponto de cozedura só é possível graças à confecção a baixa temperatura, técnica que o chef Miguel Castro e Silva é percursor em Portugal, ideal para «recriar a cozinha lenta tão característica por cá», remata. O arroz superficialmente tostado confere o contraste perfeito entre texturas.
O Menu para 2 é, sem dúvida, uma excelente forma de provar várias iguarias apresentadas pelo deCastro, que contempla pratos como: ovos mexidos com enchidos e pão frito (6,80€), xerém de ameijôas (7€), açorda de camarão (13,90€), arroz de camarão, ameijôa e mexilhão (14,90€), polvo no forno com batata a murro (17,20€), alheira de caça grelhada (13€), cação de caldeirada (17,50€), entre muitas outras opções. Asseguramos que o mais difícil será escolher. Contudo, se for tão curioso como nós, aventure-se pela carta das sobremesas, que exibe uma variada selecção de doces, gelados, fruta e queijos.
O bolo de chocolate sem farinha (4,50€; com opção de uma bola de gelado à escolha: 6€) é imperdível. Acredite, estamos mesmo a falar a sério. Húmido e macio por dentro, ligeiramente crocante por fora, é absolutamente delicioso. Pode ficar-se pelo bolo, que é magistral por si só, mas se lhe juntar gelado de limão prepare-se para uma verdadeira explosão de sabores.
Provámos, também, o toucinho do céu com sorvete de framboesa (4,50€), uma das estrelas da doçaria conventual. O toque das amêndoas quebra o doce do açúcar, de forma a torná-lo mais equilibrado. Neste caso, o sorvete de framboesa é indispensável, pois para além de ser uma inovação face à composição tradicional deste pospasto, confere-lhe a acidez necessária.
Nesta viagem pela gastronomia portuguesa, Miguel Castro e Silva faz um bonito elogio à melhor e mais pura cozinha lusa, sendo que o vinho assume um papel de destaque na sua interpretação culinária. A acompanhar esta refeição, provámos dois vinhos tintos: Cassa, lote Miguel Castro e Silva, Douro de 2008, e Rui Reguinga by Miguel Castro e Silva, um alentejano de 2012. Resultado da paixão pela cultura do vinho, e servindo de complemento ao restaurante, a Loja deCastro, também situada na Praça das Flores, abriu portas em Novembro de 2014. Aqui, é possível comprar não só vinhos (e também consumi-los no restaurante) como outros produtos gourmet seleccionados pelo chef e pela sua mulher, Graça.
Provavelmente, será desta relação familiar, totalmente assumida, que o charme e o ambiente caseiro do deCastro se fazem notar, sem descurar o profissionalismo de todo o staff. É que aqui trabalham também as duas filhas de Miguel, o genro, que é o seu braço direito na cozinha, e até os empregados são amigos de longa data da descendente mais nova.
Seguramente, arriscamos nós, é essa devoção pelo projecto que faz do deCastro um espaço onde apetece ficar e simplesmente usufruir do melhor da vida: partilhar bons momentos com quem mais se gosta.
Horário de funcionamento:
Restaurante: De Terça a Sábado (almoço das 12:30h às 15h; jantar das 19:30h às 23h), Domingos das 12:30h às 15h).Encerra à Segunda-feira.
Rua Marcos Portugal, nº 1
1200-256 Lisboa
Loja: De Terça a Sábado, das 12h às 23h. Domingo das 12h às 17h. Encerra à Segunda-feira.
Praça das Flores, 46, 1200-192 Lisboa
Fotografia de Ricardo Freire Mateus (excepto a de exterior)
There are no comments
Add yoursTem de iniciar a sessão para publicar um comentário.
Artigos Relacionados