Deluxe

De passagem pelo Festival Vilar de Mouros, o músico espanhol confessa-se à RDB.

Deluxe é um projecto de Xoel López, cantor/compositor espanhol. Deluxe é um dos nomes fortes do panorama alternativo de nuestros hermanos. Deluxe é sensibilidade pop, alma rock e uma atmosfera não raras vezes intimista. Deluxe, ao vivo em Portugal – anteriormente com os The Gift, no passado mês de Julho no Festival Vilar de Mouros. Afinal, o que é Deluxe? Xoel López em discurso directo na RDB:

Antes de mais gostaria que apresentasses o projecto Deluxe a quem não o conhece ainda. Como tudo começou, a tua evolução, etc.

O meu trajecto musical começou quando eu tinha 14 anos e comecei a escrever canções e a tocar em grupos. A minha primeira banda com alguma visibilidade, os Elephant Band, assentava em sonoridades mais voltadas para os anos 60. Mesmo condenados a ser um grupo de minorias, foi com os Elephant Band que gravei os meus primeiros discos, toquei no Reino Unido, na Alemanha, em Itália, para além de uma intensa digressão por Espanha.

Em 2001, tinha eu 23 anos, comecei a minha carreira a solo. Desde então gravei 3 discos: “Not What you had Thought”, “If Things Were to go Wrong” e “Los Jóvenes Mueren Antes de Tiempo”. Escrevi temas em inglês e castelhano, basicamente, mas também já gravei, inclusive, uma canção em português e coisas em francês ou alemão, por exemplo. As influências são inevitáveis, mas sinto que passam cada vez mais despercebidas. Em paralelo com Deluxe gravei dois discos com outro projecto meu, de carácter mais acústico. Esse projecto chama-se Lovely Luna.

Desde os dias com a Elephant Band até ao momento presente, como analisas a tua carreira? Arrependes-te de algo que tenhas ou não feito?

Creio que correu tudo sempre como eu desejaria. Tive sempre a sorte de controlar a minha carreira, o que facilitou enormemente a minha evolução musical, o progresso artístico e, sempre importante, uma sensação de liberdade. É nessa liberdade mental que encontro a verdadeira inspiração. O facto de trabalhar a solo facilitou muito as coisas. Os passos que dei foram lentos mas seguros. A promoção desproporcionada não é, a meu ver, boa para a música. Acredito mais no trabalho diário do próprio artista do que em absurdas, e muitas vezes enganadoras, campanhas de publicidade.

Qual foi a tua motivação maior para começares a fazer música?

No meu caso, foi mesmo algo inato. É verdade que o contexto ajuda muito, contudo. Cresci, graças aos meus pais, rodeado de pintura, livros e, também, muita música. Isso condiciona muito e facilita as coisas. Desde que aprendi o meu primeiro acorde de guitarra senti no imediato necessidade de criar, de escrever as minhas próprias canções. A começo tendes ao mimetismo mas depois, como na própria vida, vais definindo a tua personalidade enquanto artista.

Como lidas com toda esta controvérsia actual da pirataria na indústria da música, particularmente no que concerne à questão dos downloads ilegais?

Não me agrada a ideia de que não se pague por um trabalho que custa dinheiro realizar. Não me importaria que a música fosse gratuita num mundo onde tudo fosse gratuito também.

Se pudesses descarregar da Internet os instrumentos, o local de ensaio, o estúdio, e outras coisas, sem pagar por isso, aí seria outra história. Por outro lado, compreendo que a Internet seja uma boa forma de comunicação para grupos em começo de carreira e é também algo que faz a música expandir-se enquanto forma de arte.

Sinto que com isto dos MP3 as pessoas preocupam-se mais em consumir em quantidade do que em qualidade. Pergunto-me se se escutará a música com a sensibilidade e a intensidade que ela realmente merece. De qualquer forma, este é um tema muito complexo. Estou expectante para ver como evoluirá a indústria nesta questão dos downloads. Suponho que o formato acabará por desaparecer e a música chegará às casas como chega o gás, a água ou a electricidade. Quem sabe?

Como vês a cena indie espanhola actualmente?

Paira alguma confusão no ar. O “alternativo” já não o é assim tanto. A música “indie” está a converter-se numa paródia de si mesma. É altura do movimento se renovar ou morrer de vez.

“La verdad es que admiro mucho a Xoel, creo que tiene un grandísimo talento, es un músico honesto, adora la música y además es una excelente persona” – encontrei esta frase sobre ti num fórum. Não tens receio que a completa honestidade possa ser fatal num negócio como o é a música?

Suponho que dependa da ambição que tenhas. Não aspiro a ser milionário com a música. Conformo-me em viver com ela. Grande parte da minha felicidade depende da música, não do dinheiro que ela gera.

Estiveste em digressão recentemente com os portugueses The Gift – que tal correu a experiência?

Foi um projecto de intercâmbio músico-cultural. Eles abriram alguns concertos de Deluxe em Espanha e eu fiz o mesmo para os Gift em Portugal. Apesar de sermos diferentes musicalmente, creio que há alguns pontos de contacto entre a nossa música. Para além disso admiro imenso a Sónia [Tavares, vocalista dos The Gift], creio que é uma excelente cantora com uma sensibilidade fora do comum.

A internacionalização acaba por ser um objectivo para ti, então?

Não é um objectivo. Gosto de tocar fora de Espanha porque gosto de conhecer outros países e de descontextualizar o meu próprio repertório. Sair e enfrentar um público que não me conhece. É como começar de novo, é excitante e gosto disso. Este ano foi óptimo nesse sentido, com concertos na Argentina, no México, Alemanha, Portugal…

Que coisas andas a ouvir ultimamente?

O ano passado rendi-me aos Arcade Fire e ao Antony [Johnson]. Este ano, contudo, regressei aos clássicos: desde Love, Bowie, Cohen e Lou Reed até Caetano Veloso ou Camarón de La Isla [um marco no canto flamenco].



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