Depeche Mode | “Delta Machine”
Luxúria, culpa, pecado e salvação ao décimo-terceiro disco
“Delta Machine” é o nome do décimo terceiro álbum dos Depeche Mode, editado no mês passado. Gravado entre Santa Barbara na Califórnia (onde reside Martin Gore) e Nova Iorque (onde mora Dave Gahan), este trabalho foi produzido por Ben Hillier e misturado por Flood. Para além da edição normal de “Delta Machine”, existe uma edição deluxe com 4 faixas extra acompanhadas por um booklet de 28 páginas que inclui fotografias do colaborador oficial Anton Corbijn.
A luxúria, a culpa, o pecado e a salvação são temas recorrentes do universo Depeche Mode que mais uma vez permeiam o trabalho da banda de Basildon.
«Welcome to my world» abre o álbum com a voz de Gahan a soar lacónica e pura, apoiada por um baixo áspero, um contraste com uma sensibilidade pop que se desenrola com o auxílio de harmonias como só estes rapazes conseguem criar e que curiosamente se voltam a ouvir na última música do álbum – «Goodbye» (premonitório?), homenagem a «Personal Jesus» servida por arpeggios, claps e coros épicos.
Com este registo os Depeche Mode regressam às suas raízes na música electrónica de forma mais esotérica, com músicas ricas em camadas e Ben Hillier a realizar um trabalho brilhante de mistura, deixando as músicas respirarem: veja-se o caso do primeiro single «Heaven», uma viagem emocional com as vozes de Gore e Gahan a complementarem-se, suportadas por uma batida minimal e uma linha de baixo cativante.
Também voltamos ao blues psicadélico e perverso que já ouvimos a banda abordar antes, com Gahan a emprestar toda a sua sensualidade à música «Slow», o sentimento familiar que persiste em «Broken», uma canção pop alternativa, e em «The Child Inside», a balada amarga já esperada em cada álbum dos DM, quando Gore chama a si o protagonismo, rodeado de sinos, synths lo-fi e floreados de percussão electrónica.
Por falar em revisitar algo, «Secret to the end» tem um cheiro a passado, mais concretamente do período “Violator” mas com um toque moderno e o charme ingénuo de «Soft Touch / Rawnerve» bem que poderia ser um outtake de “Black Celebration”.
«Should Be Higher» (um dos pontos altos do álbum) também podia seguir por esse caminho com os seus tons industriais e falsetes, elementos tradicionais que nesta música soam a fresco e que continuam presentes em «Alone», mas num registo mais frágil.
As influências do minimal techno, que é sabido fazerem parte dos gostos recentes de Martin Gore, ouvem-se em «My Little universe» com o recurso a glitches, white noise e um baixo acid techno, mas é «Soothe my soul», com uma motivação electro cheia de tensão e emoção, a única música com cadência para a pista de dança.
Este é um trabalho mais difícil de digerir, sem o imediatismo melódico de outros tempos. A máquina de hits aparentemente secou mas, ao invés, Martin Gore (que mais uma vez detém a maioria dos créditos de composição das músicas) mostra-se sublime na maneira como manipula os seus sintetizadores modulares, mantendo alguns dos sons da marca Depeche Mode e procurando alguma experimentação numa combinação de programação temperamental e composição focada que resulta num todo coerente, belo e emocional.
Nada disto poderia resultar se não fosse a entrega de Dave Gahan com a sua voz quente e sedutora a atingir performances surpreendentes, sofisticação atingida no papel de pregador lascivo que continua a fazer desta dupla Gore/Gahan uma das mais relevantes no activo.
A banda britânica actuará como cabeça-de-cartaz na edição 2013 do Optimus Alive, no dia 13 de Julho, no âmbito de uma digressão europeia.
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