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dEUS + Ão @ Coliseu dos Recreios (02.04.2023)

Os dEUS voltavam a jogar em casa no fim-de-semana passado, e o chamamento trouxe uma inabalável falange de fãs ao interior do Coliseu dos Recreios. A concentração assemelhava-se a umas Jornadas Mundiais da Meia-Idade, com cabelos grisalhos aqui e ali, mas com suficiente vigor para sair num Domingo à noite, apostando sem medos numa banda que muitos já teriam visto repetidamente, e na companhia de amigos que já são mais que família. O facto de existir um novo disco para ouvir pela primeira vez ao vivo era somente uma motivação extra.

May be an image of 2 people, people playing musical instruments, guitar and indoorA estrear tão afamado palco nessa noite estiveram os Ão, igualmente oriundos do território belga, que têm algumas letras em português curiosamente, quiçá inspiradas pelo Erasmus da vocalista no Porto, tal como o próprio nome do projecto poderia fazer prever. O quarto produz um folk electrónico, embalado por percussões ancestrais, brincando com o antigo e o moderno, com as composições entoadas por uma voz com personalidade travo a natureza. As canções dos Ão são muito bem buriladas, cozinhadas vagarosamente, num ritmo quase sempre crescente até ao seu ocaso. Pese embora se encontrarem numa latitude sónica bem diferente do grande nome em cartaz, pelas reacções que foram obtendo, podemos assegurar que a plateia apreciou bastante.

Chegada a altura do acto principal da noite, Tom Barman e companhia decidiram abrir com o tema-título, que dá igualmente início ao recente disco “How To Replace It”, trazido ao mundo em Fevereiro. E resultou tão bem ou melhor que o registo de estúdio, introduzindo uma vertente épica que eventualmente também funcionaria para encerrar um alinhamento.

May be a black-and-white image of 1 person, playing a musical instrument and standingCedo se percebeu que a banda aterrou no Coliseu dos Recreios a transbordar energia, super oleada (facto que nem sempre ocorre quando há canções novas metidas ao barulho), catapultada por um som pungente e bem equalizado (o que nem sempre é o caso com dEUS, em especial quando há mais que uma guitarra em acção). Os teclados e sintetizadores parecem tornar-se mais preponderantes nas músicas do novo álbum.

Tom Barman expressa-se praticamente toda a noite num português super correcto, recolhendo por certo uma boa avaliação da sua professora de português que supostamente se encontrava a assistir ao espectáculo. Queixa-se que o palco do Coliseu dos Recreios se encontra cada vez mais afastado dos fãs, mas as músicas dos dEUS encurtam facilmente essa distância, permitindo por isso que o líder dos belgas se dirija múltiplas vezes até às barreiras que demarcam a separação com a multidão. Como, por exemplo, «The Architect» que soou melhor que nunca passados quinze anos.

May be an image of 2 people, people playing musical instruments and people standingÉ seguida por uma tríade pertencente a “How To Replace It”, que por trâmites mais vagarosos e sofisticados ofereceram uma atmosfera bem imersiva, puxando as atenções para todas as melodias que escorriam pelo sistema de som, com especial saliência para «1989» e «Pirates», cabendo a «Faux Bamboo» ir acelerando novamente a cadência para o êxtase que viria posteriormente com o incontornável «Instant Street». A versão ao vivo deste clássico alonga-se ainda mais que a registada em “The Ideal Crash”, dando azo aos cânticos quase futebolísticos que replicam as melodias cada vez mais desgarradas de ambas as guitarras. E, por falar em performances vocais, nunca é demais destacar que os tradicionais jogos de vozes da banda de Antuérpia estiveram irrepreensíveis, nos quais sobressaíram Mauro Pawlowski e Stéphane Misseghers.

E, se é sabido que os encores contêm usualmente canções fortes que ficaram guardadas para a recta final, os dEUS quase abusaram nesta noite no Coliseu dos Recreios. Não é fácil um coração de meia-idade resistir primeiro ao visceral «Roses», passando directamente para a soberba balada do álbum novo («Love Breaks Down»), e sobreviver ao fulminante e intenso «Bad Timing». Talvez para premiar essa durabilidade Tom Barman, pediu à plateia que invadisse o palco durante a interpretação do seminal «Suds & Soda», pedido ao qual várias dezenas de fãs responderam, valendo como um abraço colectivo de quem sente a mesma canção há imensas décadas.

Alinhamento:
– How to Replace It
– Must Have Been New
– Constant Now
– The Architect
– Girls Keep Drinking
– Man Of The House
– W.C.S (First Draft)
– 1989
– Pirates
– Faux Bamboo
– Instant Street
– Fell Off the Floor, Man
– Simple Pleasures
– Quatre mains
– Sun Ra
(encore)
– Roses
– Love Breaks Down
– Bad Timing
– Suds & Soda



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