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Devendra Banhart @ Coliseu dos Recreios (07.11.2023)

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Texto por Álvaro Graça e fotografia por Américo Coelho.

H. Hawkline, escritor de canções galês, foi o homem designado para abrir o serão desta noite de terça-feira, e aprestava-se para o fazer quando fomos encaminhados para o nosso lugar. Mais uma vez, a primeira parte de um espectáculo foi mal publicitada, havendo que recorrer ao cartaz da digressão nas páginas de Devendra Banhart para conseguir saber de antemão se existiria acto de abertura e, se sim, quem actuaria (algo bastante comum nos concertos em Portugal). Detentor de uma voz bem sólida, e sempre colocada no timbre certo, H. Hawkline foi desenrolando os seus temas, numa toada folk e indie pop, em jeito de crooner,trazendo-nos à memória nomes como Owen Pallett ou Belle & Sebastian aqui e ali. A ênfase da sua actuação focou logicamente o seu quinto disco, “Milk For Flowers”, editado em Março, do qual nos trouxe bonitas composições como «Supression Street» ou «I Need Him». Huw Evans, de seu nome civil, deixou-nos com «Empty Room» (a música que fecha o referido álbum) para que ficássemos num ambiente bem depressivo e rejuvenescêssemos quando começasse o concerto principal.

Foi um Devendra Banhart com bons espíritos que encarou a plateia sentada no Coliseu dos Recreios. Do primeiro ao último instante, foi isso que o compositor demonstrou, desde logo pela sua linguagem corporal (patenteando que estava a desfrutar à brava do som construído por si e a sua banda, da qual fazia parte H. Hawkline, que se ocupou da guitarra solo), quer pelas diversas comunicações bem-humoradas que dirigiu ao público.

A actuação arrancou com um punhado de canções pertencentes ao recém-nascido “Flying Wig”, intercaladas com outras de “Mala” (2013), nas quais o músico nascido no Texas sofisticou o a sua sonoridade, notando-se um requinte que olha para décadas passadas, tendo quase sempre como denominador comum existir uma base saída dos teclados dominados por Sofia Arreguin, logrando simultaneamente manter uma notória simplicidade de processos. Em certos instantes relembra-nos o universo doutro artista com raízes latinas, Helado Negro, com quem até tem tido intercâmbios criativos.

A certo ponto, Devendra brinca com o público, simulando abrir uma janela para discos pedidos, para no fim percebermos que não irá acontecer. Com excepção da interpretação dos primeiros segundos do icónico «Santa Maria De Feira». De nada valeriam os inúmeros intentos bradados da plateia com diversos pedidos. Também não tivemos direito à aliciante versão free jazz, de cinquenta minutos,  de «Tutti Frutti» (do lendário Little Richard) com a letra original, mas Devendra e companheiros brindaram-nos com uma tríade de abordagens muito interessantes a músicas de terceiros: o resplandecente «Let Forever Be», dos Chemical Brothers (vocalizado por Sofia), «Don’t Tell Me», para recompensar alguém que se tivesse arrependido de não ter ido ver Madonna em vez do próprio Devendra, e a irresistível releitura cumbiera de «Try Again» de Aaliyah, que nos fez apetecer levantar das não muito confortáveis cadeiras.

A segunda metade da actuação de Devendra Banhart libertou-se do mais recente trabalho de estúdio, e foi deambulando pela restante discografia, recuperando fases mais enérgicas, fulgurantes e tropicais da sua carreira, que obviamente puxaram ao acompanhamento vocal por parte muitos dos presentes.

Um serão extremamente agradável proporcionado por executantes muito bem-dispostos, que começaram a tour com o pé direito, e que esperamos que logrem percorrer as diversas datas com esta mesma atitude e qualidade. É sempre um prazer rever-te, e redescobrir-te, Devendra!

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Alinhamento:

– Twin
– Für Hildegard von Bingen
– Sirens
– Golden Girls
– Nun
– May
– Bad Girl
– Mi Negrita
– Love Song
– Kantori Ongaku
– Baby
– Let Forever Be (The Chemical Brothers cover)
– Don’t Tell Me (Madonna cover)
– Fancy Man
– Try Again (Aaliyah cover)
– Fig in Leather

(encore)
– Fireflies
– Carmensita

 



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