Dezperados
Uma das mais interessantes duplas de djs nacionais em discurso directo exclusivo.
Nuno e Tiago são uma dupla de DJ’s que tem vindo a dar que falar ultimamente. Quando se juntam escondem-se detrás de duas máscaras e transformam-se nos Dezperados, contagiando aqueles que assistem aos seus Sets com a sua boa disposição e a mistura de géneros que vão desde o puro rock ao electro, do house ao drum’n’bass, e do hip-pop à pop. Contam com residência na discoteca ‘Lux’, em Lisboa, desde Agosto de 2001 e o lançamento das suas novas máscaras a 25 de Fevereiro foi a desculpa para falarmos com Nuno.
RDB – O que mais caracteriza os Dezperados são as vossas máscaras. Porque decidiram iniciar os vossos Sets escondidos detrás delas?
Nuno – Porque nós quando começamos com os Dezperados, tanto o Tiago como eu, já tínhamos de alguma forma um projecto enquanto DJ’s e queríamos partir completamente do zero. Já passávamos música há muitos anos e achámos que era difícil começar algo sem que ninguém nos fosse conhecer.
RDB – Decidiram então criar toda uma nova identidade.
Nuno – Sim, decidimos que a única forma de não nos virem a conhecer ou era fazer uma plástica, ou usar umas máscaras. Por curiosidade, a nossa primeira actuação coincidiu com uma noite de Halloween e juntamos o útil ao agradável.
RDB – Mas isto sempre sem revelarem os vossos nomes.
Nuno – Sim. Aliás, ninguém conhecia quem eram os Dezperados até ao “Y” (suplemento do Público) ter tido a gentileza de nos desmascarar.
RDB – E isso foi uma coisa boa ou nem por isso? Apagou-vos o conceito?
Nuno – Não sei se apagou… Já havia muitas pessoas que sabiam. Aquelas mais próximas e que, mesmo não sabendo, quando descobriram vieram-nos dizer que já desconfiavam devido à nossa postura. Mas julgo que a maior parte de quem assiste aos nossos Sets não sabia. Agora já não me preocupo com isso, mas na altura chateou-nos um bocado… mas julgo que fosse uma coisa inevitável.
RDB – Alguém devia conseguir fazer a associação mais cedo ou mais tarde.
Nuno – Sim. Mas era engraçado ver algumas pessoas comentar “gosto dos Dezperados, acho que são uns espanhóis que vão ao Lux e tal”.
RDB – E nunca disseste nada a essas pessoas?
Nuno – Não. Hoje os mais atentos provavelmente sabem, mas há outros que não devem saber e isso é porreiro. Especialmente aqueles que conheceram Dezperados mais recentemente.
RDB – Achas que o elemento mistério que existe nos vossos Sets consegue cativar mais a vossa audiência?
Nuno – Eu comecei a aperceber-me que sim mais tarde quando a minha namorada começou a contar-me os comentários que ouvia na pista e percebi que de facto as máscaras tinham um impacto maior do que imaginava. No início não fazíamos ideia de como aquilo iria correr porque não tínhamos feito nenhuns planos, que é uma característica dos nos nossos Sets. Às vezes má, porque quer-se levar aquilo para um lado mais sério e não se consegue, e então quando começamos isto não tínhamos ideia se isto iria durar uma semana ou o resto da vida
RDB – Acabou então por ter um efeito diferente do previsto.
Nuno – Sim, porque nós estávamos fartos daqueles Sets de house ou break-beat e queríamos mesmo romper com o que se fazia.
RDB – Isso nota-se nos vossos sets. Vocês fazem de anti-DJ’s. Achas que as máscaras representam o anonimato do DJ ou pelo contrário, pensas que o DJ deve ser um protagonista?
Nuno – Não, a ideia era só ter um começo do nada. Queríamos que as pessoas amassem ou odiassem aquilo que fazíamos. O que eu acho é que nos últimos anos, e em especial nos anos 90, a imagem do DJ foi explorada a um extremo absurdo. Acho que um disc-jockey não é mais do que um entertainer, que também deve ter protagonismo, mas não total. O DJ é apenas uma das peças do puzzle e ele não é ninguém se não tiver as pessoas a dançar à frente dele.
RDB – A partir de dia 25 de Fevereiro surgem com umas novas máscaras no Lux. Têm algum significado especial e trazem consigo um novo tipo de Set também?
Nuno – Não têm nenhum significado especial. Nós queríamos apenas mudar as máscaras e então surgiram estas, que são máscaras de animais. Os acts vão-se chamar “Dezperados and the wild animals” e haverá mais coisas, não sei se já para Fevereiro.
RDB – E trazem um novo tipo de set?
Nuno – Eu espero que sim.
RDB – Mas nada planeado como sempre.
Nuno – Eu gostava que fosse uma coisa que voltasse mais às origens, porque nós tivemos ai uma fase que éramos mesmo anti-dj, mas a certa altura começamos a ficar obcecados pela mistura e às tantas começamos a tornar-nos uma seca e por isso gostava que voltássemos mais um bocado ao espírito de Rock and Roll.
RDB – Nos vossos Sets o objectivo nem sempre é passar coisas “dançáveis”. Às vezes acontece mesmo o contrário. Consegues explicar isso? O que é que vocês procuram a nível de som?
Nuno – Não… nós estamos a actuar para um grupo de pessoas que se quer divertir e dançar e temos sempre de pensar nesse lado por muito mais anarca que se queira ser. Mas não nos regemos por nada… o objectivo é passar música, seja ela heavy-metal ou outra qualquer.
RDB – Como conseguem gerir o vosso Set, uma vez que não há nada planeado?
Nuno – Não nos orientamos… e de vez em quando atropelamo-nos. Acho que as coisas funcionam bem dessa forma, pela improvisação. Nem sempre corre bem, claro.
RDB – E como fazem a selecção dos discos antes dos Sets? Também é aleatória?
Nuno – Sim. Eu pessoalmente passo os olhos pelos meus discos, não todos, claro (risos), e vou vendo. Alguns às vezes vejo que não toco há imenso tempo e decido levá-los.
RDB – Notas algum tipo de culto em torno dos vossos Sets? Achas que já há pessoas a irem religiosamente ver-vos?
Nuno – Quer dizer… eu conheço um caso de uma rapariga de Coimbra, que vinha sempre ao Lux cada vez que lá actuávamos, para voltar na manhã seguinte a casa. Eu achei isso incrível e perguntava-me a mim próprio como era possível. Mas creio que sim, que haja pessoas a seguirem os nossos Sets habitualmente. Mas também andar dois ou três anos seguidos atrás de nós é complicado…
RDB – Está previsto os Dezperados editarem alguma coisa em breve?
Nuno – Para já não temos conseguido conciliar os nossos tempos livres para isso. Cada um de nós tem projectos paralelos que não nos deixam muitas hipóteses para nos reunirmos para esse objectivo.
RDB – Os Dezperados já actuaram em vários locais da Europa. Como surgiram essas oportunidades? Achas que tem algo a ver com o boom que foram os 2ManyDjs?
Nuno – Foi uma enorme coincidência trabalharmos com a MTV… fora disso fomos ainda a Londres, Madrid e Berlim. E foi tudo uma série de coincidências. A MTV aconteceu porque precisamente os 2ManyDjs pediam um balúrdio e numa conversa com o Pedro Fradique do Lux, o promotor da MTV disse que precisava de 2 DJ’s que se enquadrassem dentro do conceito MotoMash e foi quando o nosso nome surgiu… fomos fazer um set experiência a Berlim, que correu bem e depois acabámos por fazer o resto da tournée. Mais tarde voltamos a Berlim a um clube chamado Rio graças a uma ligação com a Peaches que nos tinha visto a actuar no Lux… Não sei se será por uma corrente que exista agora, mas acho que é o resultado directo do nosso trabalho com alguma sorte à mistura.
RDB – Começa-se agora a falar da “scene” portuguesa, tal como a tem Berlim ou Amesterdão. Achas que o Lux representa algum papel importante neste aspecto?
Nuno – Acho que o Lux teve, e ainda tem, um papel fundamental. Especialmente no final dos anos 90, no seu início. Acho que durante anos trouxe coisas pioneiras e uma série de nomes e projectos com consistência como nunca se viu em Portugal. Claro que já houve produtores a fazer o mesmo tipo de trabalho. A forma e a consistência com que foram feitas é que não é a mesma.
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