EDP Paredes de Coura 2012 – Dia #5 (17.08.2012)

EDP Paredes de Coura 2012 – Dia #5 (17.08.2012)

Último dia da vigésima edição do festival Paredes de Coura; hora de queimar os últimos cartuchos. Ou assim seria, numa edição habitual, mas a verdade é que o ás de copas só chegaria no fim da canção

Com alguma pressa e percalços entre o campismo e o recinto, só foi possível ouvir os Youthless a tocarem Talking Heads no palco secundário (ou Vodafone FM). Até porque, entretanto, apresentavam-se Os Ladrões do Tempo à plateia do palco principal (ou EDP). O super-grupo português, que envolve nomes como Zé Pedro ou os membros de Dead Combo, apresentou talvez um dos piores concertos desta edição do festival: músicas de um vazio impressionante que só remetem para uma versão dos Xutos & Pontapés mal amanhada. Desta vez sim, a muito diminuta aglomeração junto ao palco foi espelho do que por ali se assistia.

Retornando ao palco secundário, era a vez dos Best Youth. A banda de Ed Rocha Gonçalves e Catarina Salinas (pedindo emprestado o baterista aos Memória de Peixe) apresentou uma mistura suave de electro-pop com alguma elegância e com uma pose bastante descomprometida. Não se poderá dizer que tenham trazido grande ar fresco à plateia que por ali se reunia; mas para o caso terá servido.

Por esta altura, ouviam-se os Capitão Fausto a tomarem conta do palco principal (que, de resto, se encontrava reservado ao português a 80%). Apresentando o novo disco “Gazela”, a banda portuguesa conseguiu proporcionar moderado entusiasmo junto da audiência que, inevitavelmente, se ia aglomerando nas filas da frente à espera de Manel Cruz.

A estreia dos Memoryhouse teve lugar, então no palco secundário. Revisitando o EP “The Years” e o disco “The Slideshow Effect” (editado há escassos meses), os norte-americanos aceitaram o ceptro de revivalismo trazido a este palco no dia anterior por School of Seven Bells e, diga-se, foram bem sucedidos. Como visíveis iniciantes (a pose de Beach House poderia ter sido facilmente corrompida), a banda conseguiu criar momentos de grande envolvência, apenas escorregando pontualmente – como é o caso da investida em My Bloody Valentine, adaptada à guitarra in loco, a milhas da magnífica versão de estúdio lançada na rede há uns meses atrás.

Tire-se o esqueleto ao rock a aniquilem-se as articulações. Obtenha-se essa massa esponjosa, disforme e sem propósito: eis o post-rock tocado pelos God Is An Astronaut. Abundantemente aguardados por uma vasta audiência, a banda irlandesa chega ao quinto disco com a mesma pertinência com que se iniciou: e isto é, nenhuma. Uma massa sonora que parece arrancar os holofotes ao rock e desmantelá-los, sem absoluta noção de estrutura ou de contar uma história.

Chegaram então os Dead Combo ao palco principal. A elegância precede a banda de Tó Trips e Pedro Gonçalves, e isto não diz respeito somente às indumentárias que carregam: seja fundindo fado com western spaghetti, seja reinterpretando Tom Waits, a banda não poderia ter cenário que lhes assentasse melhor do que a praia fluvial do Tabuão. Diziam eles que tinham apostado que um dia chegariam a tocar no Jazz no Relva, mas que afinal acabaram por ser chamados ao palco principal. Não admira: as suas soturnas melodias, que contam histórias, tomaram de arrasto a audiência, para visível surpresa da banda. Houve ainda tempo para tocar com Peixe (guitarrista da banda que se seguiria) e para pôr a plateia a mexer.

Eis então que chegara a hora do trunfo dos vinte anos do festival Paredes de Coura. Arrastando uma multidão gentilmente superior aos restantes dias desta edição, os Ornatos Violeta subiram ao palco sob a maior chuva de aplausos ouvida nos últimos cinco dias. Também eles surpreendidos pela recepção, depressa se lançariam à música para a euforia tomar de arrasto o anfiteatro natural da praia do Tabuão. Manel Cruz prometeu e cumpriu: deixou o “Cão!” em casa e só trouxe o “Monstro”. Integralmente tocado, o último disco da banda foi pretexto para esta subida aos palcos, antes das actuações nos Coliseus, lá mais para o final do ano. Logicamente que toda a gente teve as letras na ponta da língua, e a banda foi recebida, mais de uma década depois, mais como uns velhos amigos que não se viam há vários anos do que como uma encenada e nervosa performance. Absolutamente natural e honesto, Manel Cruz debitou o coração em temas como «Ouvi Dizer» ou «Chaga» (porventura, um dos temas mais portentosos e intemporais da banda). Muita gente questionara o fundamento desta nova reunião da banda, mas a julgar pelo que assistiu ontem à noite, as dúvidas foram desfeitas: acendeu-se a luz, estão vivos outra vez.

Reportagem do primeiro e segundo dia do EDP Paredes de Coura 2012 aqui; terceiro dia aqui; quarto dia aqui.

Fotografia por Ana Sousa Dias. Reportagem fotográfica do segundo dia aqui; terceiro dia aqui; quarto dia aqui; quinto dia aqui.



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