EDP Paredes de Coura 2012 – Dias #1 e #2
Nem a chuva os demove
Dia #1 – 13/08/2012 – A recepção ao campista
A vigésima edição do Festival EDP Paredes de Coura, nas margens do rio Tabuão, começou com muita chuva. Na verdade, esta começou a cair precisamente no primeiro dia de festival; os dias anteriores ofereceram de modo geral um clima nublado, ajudando os festivaleiros campistas a instalarem-se. Foi basicamente sob um dilúvio que foram recebidas as bandas do primeiro dia de recepção ao campista.
A abrir oficialmente a época de concertos do festival apresentaram-se os vencedores do concurso de bandas Hard Rock Rising, a Brass Wires Orchestra. A banda de oito músicos, formada no passado mês de Setembro, enfrentou um público diminuto, remetendo-se à quantidade que cabia comprimida debaixo da tenda do Palco Vodafone FM (a restante multidão continuava a tentar manter os seus pertences secos, mais abaixo na área de campismo). O folk fornecido pela banda portuguesa foi, ainda assim, suficiente para aquecer alguns ânimos, caminhando suavemente pelo ainda reduto percurso do colectivo. Houve tempo para uma reinterpretação de um tema de Mumford & Sons (de resto, uma das referências apontada pelo grupo), provando na verdade a similaridade entre as duas bandas.
Seguiram-se os Salto. Quem não os conhecesse, talvez os pudesse confundir com o novo produto saído da fábrica brit-pop, próximos de uns Foals menos bem cantados. Mas o duo de Guilherme Tomé Ribeiro e Luís Montenegro provou ter algumas cartas a dar, ainda que a sua inofensividade marcasse em geral a prestação. Músicas simples e directas a apresentarem o seu disco de estreia foram, na verdade, os últimos acordes a serem ouvidos por grande parte da audiência, que um novo dilúvio obrigou a dispersar. Ficaram por ouvir as actuações de B Fachada ou o dj set de Quim Albergaria.
Dia #2 – 14/08/2012
Os campistas apresentam uma força quase sobrenatural para com as adversas condições atmosféricas: mais de 24 horas de chuva não terminaram enquanto não terminaram os concertos do dia. Entre as mais diversas estratégias de protecção contra o vento e chuva (oleados e plásticos preencheram uma área considerável do recinto), houve ainda uma considerável afluência ao palco secundário, novamente para a protegida tenda que envolve o palco secundário.
Às 20h10, entravam ao serviço os Japandroids. Na sua estreia em palcos portugueses (como, de resto, uma grande percentagem das bandas a apresentarem-se nestes cinco dias de festival), a descarga energética proposta pelos canadianos teve um impacto tão grande ou maior em Paredes de Coura do que os próprios esperariam. A sua contagiante mistura entre punk e garage (e, pode até dizer-se, noise) tomou de arrasto o público presente, um pouco à semelhança, em vários níveis, do que aconteceu na passada edição do festival com No Age, fazendo desfilar temas dos três álbuns da banda, com especial incidência no futuro “Celebration Rock”.
Seguidamente, apresentou-se Merril Garbus, dos tUnE-yArDs. Caminhando sozinha sobre o palco, manobrando a percussão, dá início à performance, que se seguiria com a sucessiva entrada dos restantes membros da banda. Entre “BiRd-BrAiNs” e “w h o k i l l”, não será injusto dizer-se que o regresso da banda a Portugal tenha sido, até agora, um dos pontos altos do festival. Acompanhada incansavelmente pela audiência, Garbus é Perséfone: o céu e a terra numa performance extraordinária, suportada pela voz, ora celestial, ora assustadoramente agressiva, da performer.
A chegada de Stephen Malkmus & the Jicks, banda do ex-vocalista dos Pavement, era uma das estreias aguardadas do festival. A estreia da banda em terras lusas, ao quarto álbum, revelou que esta poderia muito bem ter sido uma versão dos Pavement numa realidade alternativa; logicamente sem a mesma força e pertinência. Não fosse a chuva e talvez esse se pudesse ter tornado num concerto bastante apelativo; assim, para muitos não serviu como mais do que uma desculpa para regressar às tendas e/ou procurar um abrigo da chuva.
Elogiados pela BBC, os Friends apresentaram-se em Paredes de Coura de forma bastante simpática: a líder, vestida de polícia, criou desde logo empatia com os festivaleiros. “You’re sexy”, dizia, enquanto se livrava de peças de roupa, relevando uma t-shirt estampada onde se lia “Pussy Riot”. Entre crowd-surfing (Alice Glass?) e incentivos ao barulho, poderá dizer-se que esta banda semi-formada foi uma das apostas ganhas deste festival.
Os PAUS não precisam de grandes apresentações. “Uma bateria siamesa, um baixo maior que a tua mãe e teclados que te fazem sentir coisas” é o que propõem e, de facto, cumprem. O momento alto do festival é aqui encontrado: de uma força quase palpável. Os membros da banda tinham o público conquistado quase à primeira música, mas não se ficaram por aí: a reinvenção da banda (fascinante de acompanhar a passagem do EP de estreia para o álbum homónimo) apresenta-se a cada canção desfilada, num set que termina com «Pelo Pulso» (ainda um dos temas mais fortes da banda); mas não sem antes haver espaço para crowdsurfs de Makoto e Hélio. “Vocês são do caralho, aqui em Paredes”, dizia Hélio. Vocês também.
Fotografia por Ana Sousa Dias. Galeria fotográfica aqui.
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