Vilar de Mouros 2019 22/08

EDP Vilar de Mouros 2019 | Dia 1 (22.08.2019)

O dia em que se deu o arranque da edição de 2019 do festival mais antigo da Península Ibérica, que continua a unir várias gerações pela música. Antigo, mas atual, jovem e renovado.

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Quinta-feira, dia 22 de agosto. O sol aquece a terra de Vilar de Mouros, e nesta ganham energia os primeiros “combatentes do pó” que já faziam fila para entrar no recinto a meio da tarde. Abrem-se as portas, os corações batem de entusiasmo e os corpos movem-se rumo aos artistas e às músicas que tanto ansiavam escutar.

Navegam já alguns pela área da alimentação, para assim manterem a sua vivacidade em alta. Outros bebem e convivem com amigos, família e/ou companhias amorosas, e disfrutam do final de tarde que convida a uma noite de boa música e de boas energias. Por entre brindes, muita animação e pausas para fotografias plenas de felicidade, o palco secundário brilha às 19h30 com a primeira atuação deste primeiro dia e desta edição. Tape Junk faz-se ouvir pelos seus sabores pop inspirados por Paul McCartney ou Sly Stone, por Harry Nilsson ou Shuggie Otis, com canções plenas de um equilíbrio harmonioso oferecido por caixas de ritmos, com pontuais sintetizadores.

O aquecimento foi feito. O início da noite é anunciado às 20h30 com The Wedding Present, que se comprometem a continuar fazer vibrar o palco secundário. Históricos, com caminho já feito e com mais por pavimentar, “semi-lendários”, como afirmam acerca de si mesmos. Revivem temas do seminal “George Best”, álbum editado em 1987 e que é um marco da chamada indie pop. «Everyone Thinks He Looks Daft», «You Should Always Keep In Touch With Your Friends» e «Kennedy» soam pelo recinto, celebrando-se os bons velhos tempos, nunca esquecidos.

Entretanto, a festa começa no palco principal, com a sabedoria das cordas de Anna Calvi pelas 21h30. Paixão dedilhada por uma mulher que marca uma forte presença em palco pelo seu espetáculo em conjunto com a sua guitarra. Dominou e arrasou na atuação de abertura do palco principal, com temas de “Hunter”, o seu último disco , de 2018, sem deixar trabalhos anteriores para trás. A guitarra elétrica, suja, crua, distorcida, completamente despida nas suas mãos, prova que o rock n’ roll é criação divina de uma Deusa, e não de um Deus. A sua voz sedutora e enfeitiçadora leva-nos por momentos de alta tensão, como em «Wish» ou «I’ll Be Your Man». Revoluciona o arranque do festival com «Alpha» e com uma versão de «Ghost Rider», dos Suicide.

O palco secundário fecha-se com a atuação de Therapy?, que passam a divertir a multidão que entretanto inundara o recinto. Pisando o segundo palco recém-criado, transportam-nos para a década de 90, com boa disposição e também mensagens atuais de consciencialização. O seu som surge semelhante a “heavy metal” de tons industriais, lembrando Nine Inch Nails, e até chegando perto do punk rock. Mantendo a energia sempre no topo, iniciam com «Wreck It Like Beckett», tema de abertura do seu último disco, “Cleave”, de 2018. Interpretam «Potato Junkie», canção com um dos versos mais fascinantes do rock. Fãs da velha guarda juntam-se aos que desconheciam a banda, e cria-se um ambiente revitalizante. Dois temas são dedicados aos Manic Street Preachers e aos Sisters of Mercy, companheiros de cartaz, e fez-se ouvir uma versão de «Isolation», dos Joy Division.

Com o palco secundário a arrefecer, marcam-se as 23h50 e sobem ao palco principal Manic Street Preachers. Na sua missão de continuarem a elevar a felicidade de um público pronto a abanar o capacete ao som de boas batidas e sonoridades, atiram-se a «Motorcyle Emptiness», uma das suas canções mais aclamadas. Cumprindo com o prometido, ecoa «International Blue», tema pop/rock onde são os teclados a guiar a dinâmica do som, alcançando-se «The Everlasting», que faz parte de “This is My Truth Tell Me Yours”, de 1998. Dedicam apaixonadamente «You Love Us» a todos os que os acompanharam desde o começo, antes de avançarem para versões de «Suicide Is Painless», tema-título da icónica série de televisão “M*A*S*H”, e de «Sweet Child O’ Mine», dos Guns N’ Roses, que obviamente enlouqueceu o público. Despedem-se com um dos seus maiores hinos, uma das grandes canções ativistas da década de 90: «If You Tolerate This Your Children Will Be Next», relembrando-nos que devemos lutar e cuidar do que nos rodeia, e que nunca é tempo para esquecimentos e preguiça.

O palco principal encerra-se com a atuação aguardada de The Cult por volta da 01h30. Já um pouco tarde para quem regressará a casa ainda nessa noite, escutem-se clássicos do “hard rock” como «Sun King», «New York City», «Automatic Blues» e «Sweet Soul Sister», todos temas de um mesmo álbum, ou de um mesmo clássico: “Sonic Temple”, que cumpre este ano 30 de existência e o qual têm vindo a tocar pela Europa. Ian Astbury, de óculos escuros, exibindo o seu cabedal e com uma pose que lembrou Jim Morrison, personificou o rock de forma digna.

Os sobreviventes da primeira noite abandonam o recinto para seguirem em direção à after party, na qual continuam a celebração da música, que se manteria também nos dias seguintes… e para sempre.

 

Texto por José Graça e fotografia por Inês Graça.

Podem encontrar aqui a reportagem do segundo e terceiro dia.



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