Wine & Grooves #1
Tradição, sentimento e muita emoção.
É fantástico viver numa era em que o acesso a conteúdos é imediato e que praticamente tudo está disponível real time. Esta realidade era tudo aquilo que sempre sonhei quando era um adolescente. Ouvir o novo disco da minha banda preferida no dia do seu lançamento sem ter que o encomendar na minha loja de discos, ou ver aquele filme que ganhou o Óscar sem ter que esperar que esteja uma cópia disponível para alugar no clube de video. A proliferação de plataformas trouxe-nos um acesso ilimitado a informação e esse bombardeamento cria ansiedade e retira-nos o discernimento e a capacidade de parar para saborear aquele momento especial.
Os discos de Vinil nunca desapareceram mas nos últimos anos o número de interessados tem aumentado bastante. As prateleiras das grandes superficies trocaram os CD’s por discos, a procura por material hi-fi disparou e a diversidade de edições discográficas (coloridas, especiais, etc) vieram alimentar o hobbie para os coleccionadores e despertar o interesse para os curiosos. Embora também seja uma “moda” (as cassetes já estão a regressar e daqui a uns anos será o CD), este revivalismo a que estamos a assistir vem provar a necessidade que o ser humano tem de se desconectar com o mundo à sua volta. Nesta rúbrica propoê-se uma experiência, a sós ou acompanhado, uma viagem sensorial que une a música aos fantásticos vinhos portugueses. Em cada edição sugere-se um disco e um vinho que acompanhe da melhor forma os grooves que a agulha no gira-discos vai percorrendo.
ELIS REGINA & “REDONDO DOC DA CASA RELVAS”
Sempre tive uma forte ligação à música brasileira. Em casa dos meus avós pelo gira-discos passava a música e poesia de Caetano Veloso, Chico Buarque e Roberto Carlos. Contudo a descoberta da grandiosidade de Elis Regina surgiu muitos anos mais tarde quando a sua filha, Maria Rita, surgiu de rompante com o seu disco de estreia. Foi nessa época que procurei conhecer melhor a vida e obra de Elis Regina e fiquei rendido à sua voz quente e apaixonante, à diversidade de ritmos e trilhos que a sua música percorreu, sempre acompanhada pelos maiores compositores e letristas da música popular brasileira.

Descobri “A Arte Maior de Elis Regina” vasculhando na coleção de discos da minha mãe. Esta compilação representa a diversidade da obra da diva brasileira e as inúmeras influências presentes na sua música desde o tropicalismo, bossa nova, samba, passando por ambientes sonoros menos típicos da música popular brasileira, mais introspectivos, emotivos, mantendo a sedução e reconforto que se encontra em toda a sua música e na sua voz. O rol de compositores e letristas presente nesta compilação representa a fina flor da música brasileira: Tom Jobim, Ivan Lins, Milton Nascimento, Chico Buarque e Belchior, autor de uma das músicas mais emblemáticas da música brasileira – “Como os nossos pais” – recheada de esperança e mudança que retrata o período de ditadura e repressão no Brasil. Aliás, a sua pátria é uma das temáticas recorrentes em várias músicas, como por exemplo em “Querelas do Brasil” onde é caricaturizada a “americanização” do país.

Embora a mais conhecida “parceria” entre Tom Jobim e Elis Regina seja a clássica “Águas de Março”, neste duplo disco são outras as pérolas – que fazem parte do clássico Elis & Tom – presentes nos grooves do vinil. “Só tinha que ser com você”, é um dos mais brilhantes e arrepiantes exemplos da bossa nova brasileira e “Fotografia”, uma fantástica história de amor que podia muito bem resumir a relação entre dois dos maiores nomes da música mundial.
Para apreciar da melhor forma esta viagem ao melhor da música brasileira, nada melhor que um bom vinho tinto que representa algumas das maiores tradições da sua região. “Casa Relvas DOC Redondo” é o primeiro vinho DOC lançado pelo produtor e o primeiro a ser lançado em nome próprio – Casa Relvas. Composto pelas castas mais típicas da região – Aragonez, Trincadeira e Castelão – o “Casa Relvas DOC Redondo” é um vinho bastante rico mas muito fácil de beber. Os aromas – frutos vermelhos claramente predominante – e sabor intensificam-se no copo transformando a experiência de degustação com o decorrer do tempo o que cria ainda uma maior ligação com a música de Elis Regina, que vai-se entranhando e nos permite viajar durante as 25 faixas que compõem este disco.

Devido à sua riqueza e suavidade, “Casa Relvas DOC Redondo” é o elemento perfeito que pode realçar uma refeição prolongada com amigos ou mesmo a dois, momentos que se tornam ainda mais especiais tendo Elis Regina a cantar em pano de fundo. Uma combinação feliz que nos faz viajar pelas tradições dos dois países.

REDONDO DOC DA CASA RELVAS 2019 – FICHA TÉCNICA
Embora de pequena produção, 2019 foi um ano de excelência no Alentejo. O Inverno foi frio com alguma chuva. A Primavera e Verão foram amenos e secos. Durante a maturação as noites frias e secas permitiram atingir níveis de maturação fenólica perfeitos.
Castas
Aragonez, Trincadeira, Castelão, entre outras
Solo
Argiloso Xistoso
Classificação
DOC Alentejo
Vinificação
Vindima manual com selecção na parcela. Fermentação com leveduras indígenascomtemperatura controlada entre os 21ºC e 25ºC. Fermentação em inox com bago inteiro e20% dos engaços. Maceração de 30 dias. Fermentação Maloláctica em tonel decarvalho francês.
Estágio
12 meses em tonel de 5000L de carvalho francês
Álcool | 14 %Acidez total | 5.3 g/lpH | 3,62Acidez volátil | 0,64 g/
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