Joan Puig

“Encontrei-te nas páginas de um livro” de Xavier Bosch

Uma paixão arrebatadora, um amor inesquecível

Neste novo livro do escritor catalão Xavier Bosch, cuja ação é sublinhada pela curiosidade e desejo de uma filha conhecer mais a fundo o passado da mãe, e em simultâneo entender mais sobre si mesma, o que conduz à revelação de um mistério há muito escondido, Encontrei-te nas ginas de um livro (Marcador, 2018) é uma história de um amor secreto, apaixonante e eterno.

Eu, francamente, espero viver em ti muito mais que tudo isso. Tal como tu farás em mim. Embora não falemos e não nos vejamos, ter-nos-emos um ao outro. Sempre. Sem mas. Ter-nos-emos um ao outro.

Xavier Bosch, através do seus detalhes minuciosos, desde as ruas de Paris, à descrição da Galeria Anouk, das livrarias visitadas, das roupas que os protagonistas vestem, aos sentimentos que experienciavam, entrega ao leitor um romance intemporal, demonstrando que por detrás da sua couraça, se encontra um espírito romântico.

Com um início um pouco confuso, uma personagem um pouco desagradável, que contrariamente ao que parecia, acaba por não ser a personagem principal, a história, conforme vai avançando demonstra ser tudo menos o que parecia.

O foco não está em Gina Homs mas na sua mãe, Paulina Homs, da sua curta vida e dos seus maravilhosos quatro dias em Paris.

Gina perdeu a mãe quando tinha apenas oito anos, ficando ao cuidado do pai e da empregada, Isabel. Mas a vida de Gina é, para dizer no mínimo, instável.

Com uma relação conturbada e distante com o pai e a sua vida emocional baseada em casos furtivos, Gina decide, após encontrar umas cartas dirigidas à sua mãe, que deve partir à descoberta da verdadeira Paulina Homs, a mãe que pouco ou nada recorda.

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O conteúdo das cartas é uma surpresa e Gina quer descobrir tudo sobre aquele amor, que a mãe nunca revelou.

Aquela história de amor marcante e inesquecível, que deixou vestígios escondidos em diversos livros de borboletas, em várias livrarias pelo mundo fora.

Um amor que sobreviveu à distância, ao tempo e à ausência como gotas de mel que suavizam um coração trespassado pela crueldade da realidade.

(…) ambos conseguimos derrubar as nossas barreiras. Libertámo-nos. Um em frente do outro. Um com o outro. E teremos isso para sempre (…) até que estejamos por aqui. Até que queiramos. As gotas de mel.

A história tem início com Gina, uma inocente menina de oito anos, que de repente vê o seu mundo virado do avesso, quando a vão buscar à escola e descobre que a sua jovem mãe morreu; passando diretamente para Gina nos seus dezoito anos, rebelde, com alguns conflitos com o pai, com tendência a casos fugazes, perdida, sem rumo; até uma Gina nos seus trintas, que após descobrir algumas cartas referentes ao passado da sua mãe, decide desvendar o mistério que ocultam.

Estou a tentar reconstruir a vida da minha mãe. Episódios concretos. Momentos vitais. (…) É uma obsessão. Como se precisasse de saber como era, como vivia e como pensava para me poder aceitar a mim própria.

Para tal conta com a ajuda de um amigo da escola, Biel, que vai apoiá-la na sua busca por Jean-Pierre Zanardi, o homem que roubou o coração da mãe em Paris, mas de quem nunca ouviu falar.

Jean-Pierre é descrito como um homem atraente, elegante, inteligente, sedutor, sempre com o seu cachimbo; alguém que jurou a si mesmo nunca mais permitir-se a amar.

Mas a chegada de Paulina veio revolucionar a vida de ambos e aqueles quatro dias em Paris, juntos, terminaram por ser muito mais significantes do que um simples caso, uma simples aventura entre desconhecidos.

Paulina, esposa e mãe, descobre que Jean-Pierre a faz sentir mulher, desponta em si atitudes e pensamentos, que de outra forma não ousaria transmitir; porém o mais importante, que Jean-Pierre é a sua cara metade, aquele amor que preenche o vazio, que desperta emoções ocultas, aquele amor (quase) impossível que nem mesmo a distância pode destruir.

Através do conteúdo das cartas, dos locais referidos nas mesmas, e de um cartão encontrado num livro, esta história vai revelando um amor, não impossível, mas trágico, romântico e duradouro, além do tempo, além dos limites da vida e da morte.

Um amor que vai inspirar e surpreender Gina, e dar-lhe alento para usufruir da sua vida enquanto pode vivê-la, e aproveitá-la ao máximo.

(…) Pensa em mim. Eu vou estar a pensar em ti. Como sempre. Para sempre.

Encontrei-te nas páginas de um livro, de Xavier Bosch, é, nada mais, nada menos, que a reconstrução de uma história de amor interrompida, mas jamais terminada, afetada pela fria realidade da vida, das obrigações morais e sacrifícios pessoais.

Um amor duradouro, cuja memória reside nas páginas de livro. Uma homenagem aos livros, às livrarias e ao poder de amar e ser correspondido nesse amor que vai agradar às almas mais românticas.



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