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“Ensaio”

O mais recente projecto da Overlook Filmes estreia no dia 22 de Novembro

Tendo iniciado actividade em 2007, a Overlook Filmes surge como resposta a um desejo de experimentação, impulsionado e direccionado por um pequeno grupo de jovens inserido no meio cinematográfico. Em Janeiro disponibilizámos as três primeiras curtas da produtora.

Realizado por Dinis M. Costa, “Ensaio” (imagens do making of AQUI) é a quarta produção da Overlook e com ela a produtora conseguiu algo inédito no cinema português: estrear uma curta nacional em sala comercial, sem estar associada a qualquer longa-metragem. Este marco está agendado para dia 22 de Novembro no Cinema City Classic Alvalade e o sucesso de “Ensaio” será obviamente muito importante para futuras produções nacionais.

De realçar que “Ensaio” foi um dos filmes portugueses exibidos na edição deste não do Festival de Cannes e a “aventura” foi acompanhada pela RDB num extensivo diário.

Entrevista com Dinis M. Costa

Como surgiu “Ensaio”?

A ideia para o “Ensaio” surgiu no final do ano de 2010. Na altura não pretendia fechar um argumento, com diálogos e acções definidas. Queria simplesmente pegar numa câmara, em três actores, e acompanhá-los na encenação de uma cena com diversas interpretações dramáticas. Fazer vários filmes num só, onde a mesma cena seria comandada pela versão dos actores. Era mais um exercício. Quando comecei a escrever o guião entendi que não havia espaço para a experimentação. Encontrei três personagens demasiado densas, definidas, e foi com elas que desenvolvi toda a base do “Ensaio”. João, Rita e Marco são três representações muito diferentes da minha posição frente ao desmantelamento do cinema enquanto instrumento da ilusão. As minhas intenções mudaram com eles. No guião limitei-me a confrontar as personagens umas com as outras num ensaio que perde o controle sobre o domínio do elemento dominador. Esta ideia de disputa entre os actores acabou por sustentar todas as outras. A isto uniu-se a minha visão sobre a cidade de Lisboa, a decadência da modernização, e a expressão do cinema sobre o cinema.

Como caracterizas o estilo cinematográfico de “Ensaio”?

O estilo cinematográfico do “Ensaio” é bastante evidente para mim. Apesar das influências, ou dos paralelismos que possam ser encontrados com o filme, tem um género muito próprio. É um género auto-concentrado. Tudo aquilo que é construído no “Ensaio” é feito em função de si mesmo. As palavras são repetidas, os actos consumados, as personagens auto-referenciadas. É como se não existisse qualquer contacto com o exterior.

Como foi ver o guião ganhar forma?

Foi estranho. Para mim é sempre estranho e por vezes torna-se num processo algo doloroso. O guião para mim já é um produto final, com ambientes e diálogos que fazem sentido por escrito. Transformá-lo em imagens, passar pelo processo de realização, transformou muito aquilo que tinha idealizado. Houve coisas positivas e coisas negativas. Uma das coisas positivas foi o trabalho com os actores, que acrescentou bastante às personagens. E fazer o filme a preto-e-branco, que definiu e completou o tipo de cinema que estávamos a fazer. Mas perde-se sempre alguma coisa, como por exemplo a densidade do texto. Os diálogos tiveram que se conformar a uma realidade palpável, e despegaram-se do carácter lírico do texto.

Como é fazer filmes sem dinheiro?

É algo complicado, mas totalmente fazível. Existem muitas limitações, confesso, mas elas já advêm daquilo que escrevo. O “Ensaio” já foi escrito a pensar nos problemas de produção que iríamos encontrar no futuro, e construo as cenas projectando-as na sua execução. Delimito-as ao praticável, e simplifico, acrescentando na dramatização, e não em valores de produção. Depois temos que repensar a pré-produção, e contar com a boa vontade daqueles que nos cedem tempo e um bom trabalho. Facilita imenso encontrar pessoas como a equipa da Overlook, que dão tudo ao projecto em troca de nada.

Como foi o trabalho com os actores?

Em primeiro lugar tive muita sorte na escolha dos actores. Nunca pensei, por exemplo, que viesse a encontrar o João ideal, até ver o Miguel Nunes. Na primeira leitura que fizemos do texto entendi que o João poderia existir fora do guião, ele estava na interpretação do Miguel. O Miguel entendeu-o de imediato, talvez por termos a mesma idade, e o João ser também parte de mim. A indiferença juvenil e derrotista com que o Miguel cita a densidade dos textos deixou-me totalmente descansado. Tínhamos a mesma ideia da personagem, o mesmo entendimento sobre aquilo que deveria ser excluído e aquilo que deveria ser acrescentado. Com o Nuno Gil e com a Cátia Tomé foi algo diferente, porque o casal Rita e Marco é bastante contraditório e ambíguo, o que levantou questões a que eu próprio não consegui responder. Com o tempo e com o decorrer das filmagens fomos encontrando a linguagem destas personagens e completando-a. Contei muito com a experiência do Nuno e com a intuição da Cátia. Há coisas que a Cátia faz quase sem dar conta, subtis, que reforçam a intenção das cenas com a sua presença.

Quais são as tuas influências?

São muitas, não só no cinema como na literatura. Muito daquilo que escrevo para cinema advém de linhas de pensamento encontradas em obras literárias. Mas excluindo-as, e limitando-me às influências que deram lugar ao “Ensaio”: Ingmar Bergman, em primeiro lugar. Depois Stanley Kubrick e finalmente David Lynch.

Qual é o próximo passo? Próximo projecto?

Estou neste momento a escrever um conjunto de quatro metragens inseridas num mesmo projecto. Não posso adiantar muito acerca do mesmo. É uma temática bastante singular, sobre a destruição do tempo enquanto dimensão perceptiva.

 

FICHA TÉCNICA

Realizado por Dinis M. Costa, 25′, P&B, 2012
Elenco Miguel Nunes, Cátia Tomé, Nuno Gil
Argumento e Realização Dinis Costa
Produção Dinis Costa; Ruben Santos
Direcção de Fotografia Emanuel Lopes
Câmara Francisco Costa
Assistente de Câmara Carlos Lopes
Assistente de Imagem André Reis
Director de Som Rui Bentes
Maquilhagem Sofia Salvado
Montagem e Pós-Produção Vídeo Francisco Costa



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