“Ensaios sobre Fotografia” | Susan Sontag

A fotografia entre a clareza do ensaio e a magia da literatura

No que diz respeito ao exercício da intelectualidade, Susan Sontag terá sido umas das mais estimulantes e geniais escritoras da segunda metade do século XX. Em “Ensaios sobre a Fotografia”, livro que reúne um conjunto de textos e que recebeu o prestigiado prémio do National Book Critics Choice, Sontag questiona o lado estético, moral e artístico da fotografia e o poder desmesurado que a imagem exerce nas nossas vidas.

Sontag viaja ao longo da história para revelar a extensão da dependência que a câmara fotográfica foi exercendo nas sociedades modernas, alterando a nossa própria forma de olhar (para) o mundo a partir do momento em que a câmara fotográfica nos chegou às mãos.

Em “A Caverna de Platão” fala-se da fotografia como poder, assim como da industrialização da máquina fotográfica que permitiu transformar a fotografia num rito social onde o acto de fotografar, muitas vezes, tem a crueza de uma violação; “A América Vista através de Fotografias, Sombriamente” toma como ponto de partida a revisão do belo e do feio, proposta por Walt Whitman, para mergulhar depois no estranho e atractivo mundo de Diane Arbus, habitado por freaks que olham nos olhos da lente; “Objectos Melancólicos” parte do surrealismo para contrapôr a visão artística da Europa ao lado mais militante dos Estados Unidos, ao mesmo tempo que estabelece uma afinidade entre a fotografia e a arquitectura; “O Heroísmo da Visão” apresenta-nos o confronto entre a pintura e a fotografia, feito de uma imensa liberdade – ou da falta dela.

O livro encerra com uma “Breve Antologia de Citações (Homenagem a W.B.)”. Walter Benjamin que, para Sontag, foi “o mais importante e original crítico da fotografia”, mesmo que por entre algumas contradições. A última citação pertence a William H. Fox Talbot: “Tornem a imagem calidoscópica”. Em “Ensaios sobre Fotografia”, Susan Sontag cumpriu esse desejo através da literatura.